Governo vai aumentar carga tributária do setor de bebidas, e indústria responde com pressão no bolso do consumidor
Mesmo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmando que a inflação está perdendo força, a pressão dos preços no bolso do consumidor não deve ser aliviada tão cedo. Os fabricantes de refrigerantes e cervejas avisaram ontem que os preços destes produtos e da água engarrafada vão subir pelo menos 10% nos próximos 60 dias. A decisão da indústria foi uma resposta à negativa de Mantega em não adiar o aumento de impostos incidentes sobre o setor (PIS, Cofins e IPI).
Os tributos serão atualizados pela variação do Índice de Preços ao Consumidor amplo (IPCA) entre 2009 e 2011. Segundo o vice-presidente da Ambev, da Associação Brasileira da Indústria do Refrigerante (Abir) e do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), Milton Seligman, os novos encargos serão repassados aos consumidores — o que será facilitado pelo forte crescimento da demanda por bebidas.
O executivo destacou que a proposta das empresas era a de manter a atual tabela de impostos em troca de investimentos de R$ 7,7 bilhões na abertura e ampliação de fábricas, o que resultaria na criação de pelo menos 60 mil empregos e em R$ 1 bilhão a mais na arrecadação aos cofres públicos. A Fazenda, porém, não aceitou. Mantega assinalou que, depois de um ano de bons resultados para o setor, chegou a hora de se fazer a correção dos tributos. A última revisão ocorreu em janeiro de 2009. Desde então, o governo optou por não fazer nenhuma mudança, por causa do estragos provocado pela crise mundial na economia brasileira. "Infelizmente, a tradição tem sido de reajustes de impostos a cada mandato presidencial. E o setor é um dos que mais pagam tributos no país", afirmou Seligman.
Em Minas, empresários do setor e de segmentos próximos, como bares e restaurantes, também endossam as críticas ao governo federal. O diretor administrativo do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral de Minas Gerais (Sindbebidas) e proprietário da Falke Beer, Marco Antônio Falcone, classificou o futuro reajuste como “atordoante para as microcervejarias”. “É uma atitude que mostra total despreparo e insensibilidade do governo. Somos um setor de microempresas. Com essa medida, o nosso risco é de fechar. Tentamos, há mais de três anos, tratamento justo da carga tributária”, afirmou o empresário.
IMPACTO Donos de bares e restaurantes também estão apreensivos com o percentual do reajuste. Muitos não sabem ainda se vão poder repassar toda a diferença à clientela, como alega Antônio Afonso, proprietário do Bar do Toninho, no Bairro Gutierrez, Região Oeste. “O lucro com a bebida está pequeno. Meu lucro com uma garrafa, em média, é de R$ 1, mas cai bastante quando descontado o gasto com luz, água, aluguel etc. Vou evitar repassar toda a diferença para o cliente”, diz o comerciante, que, aos sábados e domingos, vende cerca de oito engradados, o dobro do que negocia em cada dia útil.
No fim da ponta, apreciadores da loira gelada em Belo Horizonte adiantam que têm estratégias para amenizar o impacto do reajuste no bolso. “Vou diminuir em outras coisas, como o tira-gosto”, disse a unviersitária Luiza Cotta, de 25 anos, que ontem degustou alguns chopes com as amigas Luana Nascimento, de 24, e Patrícia Elias, de 23, e o colega Thiago Parreiras, de 24, para quem a saída é “diminuir o número de saídas durante a semana”.
Veículo: O Estado de Minas