Em meio à rápida consolidação da indústria cervejeira mundial, o diretor-presidente da Grupo Modelo SAB, Carlos Fernández, tenta manter a empresa em família.
A Modelo - que tem marcas como Corona Extra, a cerveja importada mais vendida nos Estados Unidos, e Modelo Especial - integra o grupo cada vez menor de dinastias que controlam cervejarias. A empresa de capital aberto, fundada em 1925, assistiu ano passado à concorrente, a também familiar Femsa Cerveza, ser abocanhada pela Heineken NV.
Os analistas preveem que os acionistas que controlam a cervejaria mexicana vão enfrentar pressão crescente nos próximos anos para vender suas participações à Anheuser-Busch InBev NV. (Quando a InBev NV comprou a Anheuser-Busch Cos., em 2008, ela herdou a fatia não controladora de 50,2% na Modelo.)
Depois de sobreviver à lenta recuperação da economia mexicana e a um forte declínio da indústria cervejeira americana, a presente estratégia da Modelo inclui lançar novos produtos nos EUA, defender agressivamente a liderança no mercado mexicano, onde tem cerca de 55% das vendas em volume, e buscar oportunidades de expansão no exterior.
Fernández, 44 anos, sobrinho-neto de um dos fundadores da empresa, é fanático por futebol (a Modelo administra o Santos Laguna, de Torreón) e tem cinco filhos. Ele falou recentemente ao Wall Street Journal no escritório americano da cervejaria, em Chicago, sobre a economia mexicana, o relacionamento da Modelo com a AB InBev e sobre sua cerveja favorita. Trechos:
WSJ: Suas vendas no México subiram 5% no quarto trimestre. A demanda está começando a melhorar?
Carlos Fernández: O ano passado foi muito difícil. Estou começando a perceber que as pessoas estão dispostas a voltar a gastar mais com nossas cervejas no mercado mexicano. Eu diria que o crescimento do volume [em 2011] será em linha com o do PIB. Já a expansão do faturamento, bom, certamente espero que ficará acima disso, porque estamos aumentando os preços [em linha com a inflação].
WSJ: O sr. está enfrentando a alta das commodities. Que commodities serão as mais problemáticas este ano?
Fernández: São as matérias-primas, especificamente trigo, milho e cevada. Além disso há o alumínio e o combustível. Todos estão oscilando e subindo muito.
WSJ: A empresa já informou que pode começar a fazer hedge para se proteger da alta do peso mexicano. Qual seria a gravidade do problema de um peso forte?
Fernández: Estou feliz que a economia mexicana está sadia, mas, infelizmente para o modelo de negócios, [o peso valorizado] aumenta a pressão na diretoria para alcançar resultados cada vez melhores todos os anos. Um exemplo é que estou vendendo mais caixas de cerveja em dólar, mas recebendo menos pesos. Como minha empresa divulga os resultados em pesos, não ajuda muito.
WSJ: Qual é o impacto da violência no México na empresa?
Fernández: Segurança é um problema. Temos investido mais nisso do que costumávamos. Mas acredito que nosso governo está lidando com isso de uma maneira que gradualmente estabelecerá a ordem em muitas regiões.
WSJ: Quais são as suas prioridades nos EUA?
Fernández: Um dos pontos cruciais aqui é como equilibrar bem nosso portfólio de marcas. Temos conseguido oferecer inovações ao mercado com certos estilos de embalagem e novas marcas como a Victoria (lançada nos EUA ano passado).
WSJ: A Corona Extra passou por um período difícil nos EUA, com três anos de declínio nos volumes até mais ou menos estagnar ano passado. O sr. já está se preocupando menos com a saúde da marca?
Fernández: Você sempre tem que se preocupar com as marcas que administra. Se fica confortável demais, aí é que começa o desastre. A Corona ainda é uma marca única, que reflete um estilo de vida diferente. E esta não é a primeira vez que passamos por uma crise com essa marca. Estou muito confiante de que vamos conseguir fazê-la crescer.
WSJ: O sr. acha que conseguirá manter o crescimento de dois dígitos nas vendas da Modelo Especial, a terceira marca importada mais vendida nos EUA?
Fernández: Não posso garantir que vamos repetir mais um ano de dois dígitos, mas estamos fazendo todo o possível para manter essa velocidade.
WSJ: Fora dos EUA, onde mais o sr. enxerga boas oportunidades de exportação nos próximos anos?
Fernández: Uma das metas que buscamos para os próximos anos é obter quase 50% do faturamento no exterior. Hoje em dia é 40%. A Austrália está num ritmo muito bom. Acho que a Ásia será muito importante para nós futuramente. A América Latina tem sido surpreendente para nós, de muitas maneiras. Países como Chile, Argentina e Colômbia têm [mostrado] crescimento de dois dígitos.
WSJ: Será que sua família e os outros acionistas que controlam a Modelo considerariam vendê-la para a Anheuser-Busch InBev?
Fernández: Não posso especular qual será a posição de todos os acionistas controladores, mas tenho certeza de três coisas. Eles estão muito felizes com o desempenho da empresa. Eles me pediram para continuar trabalhando com base no desempenho, mas também [para expandir as operações já existentes da empresa] e simplesmente levar a empresa aonde todo mundo a quer, que é uma empresa melhor que seja uma das dez [maiores cervejarias mundiais].
WSJ: Quão sadio é o relacionamento com a Anheuser-Busch InBev?
Fernández: Estamos começando a desenvolver esse relacionamento. Acredito que no futuro ele terá de ser fortalecido com base na comunicação, com base no que é melhor para a Grupo Modelo, já que eles integram nosso conselho e são acionistas importantes. Estamos nos primeiros estágios de nos conhecermos e até agora tem sido muito bom.
WSJ: Quais são seus princípios gerenciais?
Fernández: Gosto de tratar todo mundo com respeito. Comunicação aberta. Falar e comunicar o máximo possível. Eu diria que outro princípio é a confiança. Você tem que confiar nas pessoas ao seu redor. Tenho uma grande equipe ao meu redor e os resultados são basicamente um reflexo dos esforços de todos.
WSJ: Qual é sua cerveja favorita?
Fernández: A Victoria. É uma cerveja bem equilibrada e com um sabor distinto, uma coloração distinta. Ela também é um pouco doce, então realmente a adoro.
Veículo: Valor Econômico