Sejam moscatéis doces e perfumados, Brut mais secos, frutados ou maduros, não surpreende que os espumantes nacionais continuem em ascensão. Têm personalidade própria, foram aprimorados e são os goles que melhor se posicionam frente a similares importados.
Olhando a indústria, especialmente a do Rio Grande do Sul, principal fonte desses vinhos, vários pontos alavancaram ao longo dos anos o sucesso atual. Um, a alta na qualidade, tanto nas cantinas como nos vinhedos.
Nesta ala, a das vinhas, estrearam áreas como a Campanha, no sul, perto do Uruguai, cantos mais secos e ensolarados, apropriados para tintos de ponta. A entrada dos novos vinhedos ajudou o primeiro polo de vinhos finos do RS, a Serra Gaúcha, a trocar um pouco seu papel.
De clima úmido e moderado, favorável às uvas que amadurecem cedo (e são colhidas antes das chuvas que caem por lá) como as dos espumantes, a região ficou mais focada nas borbulhas, sua maior vocação.
Foi precisamente essa vocação que trouxe ao Brasil a Chandon, braço da francesa Moët & Chandon, da Champagne, uma das líderes do mercado (que parou de elaborar vinhos tranquilos na década de 90, dedicando-se apenas aos espumantes).
As borbulhas mudaram o perfil do portfólio de grandes adegas da serra. Rota similar à Chandon seguiu a Cave Geisse. A Salton, que emplacou 39 mil garrafas de espumantes em 1995, fechou 2010 vendendo 6 milhões, o dobro dos vinhos tranquilos, que foram seu foco inicial.
A Miolo, que nasceu sem espumantes, vem crescendo com eles a mais de 20% ao ano e contabilizou, em 2010, 2,2 milhões de garrafas (ou 30% da sua produção total).
A Valduga, de 5.000 garrafas em 1994, viu, em 2009, as borbulhas chegarem a 38% da produção e, em 2010, a 47% do 1,3 milhão de litros de vinho que produz.
Para quem os bebe, o terreno parece também propício para um tsunami borbulhante. Por um lado, o Brasil, país tropical, com cerca de 8.000 quilômetros de costa com lindíssimas praias, tem tudo para combinar com a bebida.
Por outro, o consumidor pode encontrar neles, ligeiros, alegres e refrescantes, uma alternativa aos vinhos pesados e alcoólicos que tanto aparecem por aqui.
Alias, voltando às praias, meses atrás, em um giro pelo Rio de Janeiro, encontrei, no calçadão de Copacabana, a Champanheria Copacabana, bar focado em espumantes, uma visão quase surreal em espaço eternamente dominado por caipirinhas e cerveja. Sinal dos tempos, talvez.
Veículo: Folha de S.Paulo