Crise irlandesa abala um ícone do país, a cerveja Guinness

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A crise econômica não está destruindo apenas os bancos irlandeses, ela também está derrubando as vendas da Guinness - a famosa cerveja escura que é considerada a bebida nacional do país.

 

Há anos que o consumo de Guinness tem caído lentamente na Irlanda à medida que as pessoas abandonam os pubs, passam a beber em casa, adotam outras bebidas ou diminuem o consumo de álcool. Mas os problemas mais recentes da Irlanda, que forçaram um pacote de 67,5 bilhões de euros (US$ 92,8 bilhões) para socorrer os bancos do país em dezembro, prejudicaram ainda mais a Guinness.

 

As vendas da cerveja caíram 8% na Irlanda e na Irlanda do Norte no segundo semestre de 2010, divulgou recentemente a fabricante de bebidas Diageo PLC, dona da marca, enquanto o mercado geral de cerveja na Irlanda contraiu 6%. Diante do desemprego de 13,4% e da perspectiva de cortes nos gastos governamentais, os irlandeses resolveram eliminar as despesas supérfluas.

 

O volume de Guinness vendido na Irlanda está em queda contínua há uma década, diminuindo para 119,3 milhões de litros ano passado, ante 198,9 milhões de litros em 2001, segundo a Euromonitor International. O declínio ocorre em meio ao que a Associação da Indústria de Bebidas da Irlanda chama de "colapso real" do setor de bares, que assistiu ao fechamento de mais de 1.500 pubs nos últimos cinco anos.

 

A mudança tem sido evidente para Keith O'Neill, gerente do bar do Hotel Seven Oaks nesta cidade 80 quilômetros ao sul de Dublin. Ele diz que uma em cada duas cervejas que serve ainda é Guinness, mas que a venda da bebida amarga caíram porque os jovens preferem cervejas e cidras mais leves.

 

"Em geral os jovens estão bebendo menos nos pubs", preferindo comprar caixas de bebida, diz ele. "Eles vão [à loja de conveniência], compram um punhado de cervejas, enchem a cara em casa e depois vão para a boate. É mais barato." Os pubs de Carlow, que há alguns anos viviam cheios, agora estão praticamente vazios, diz ele.

 

Vários outros negócios que dependem do consumo dos irlandeses também estão em dificuldades. A Domino's Pizza UK & IRL PLC gastou cerca de 500.000 libras esterlinas (US$ 800.000) ano passado para socorrer suas 48 lojas franqueadas no país. O faturamento líquido da C&C Group PLC, a fabricante dublinense da cidra alcoólica Magners, caiu 6,5% nos nove meses encerrados em 30 de novembro.

 

Para a Diageo, a posição da Guinness na Irlanda não é um assunto menor. A cerveja responde em geral por 12% do faturamento mundial de 9,78 bilhões de libras da empresa, com a Irlanda suprindo 20% das vendas da Guinness. As vendas mundiais da Guinness caíram 1% nos seis meses encerrados em 31 de dezembro, com as fortes vendas na África ajudando a compensar as vendas fracas na Irlanda e no Reino Unido.

 

John Kennedy, diretor-gerente da Diageo para a Irlanda, diz que o declínio na clientela dos pubs do país é antigo. "Ele acelerou, mas não é nada de novo, e sabemos o que fazer para compensar isso", diz ele. "Mas o que nunca tínhamos visto antes é o colapso da confiança do consumidor que houve na Irlanda nos últimos dois anos."

 

A Diageo reagiu cortando custos na Irlanda e ao mesmo tempo criando mais motivos para os irlandeses consumirem a Guinness. A empresa terminou a reestruturação de suas operações irlandesas ano passado, cancelando planos de construir uma nova cervejaria para a Guinness e eliminando cem empregos. Ao mesmo tempo, a empresa também criou o Arthur's Day, para homenagear o fundador da cervejaria e aumentar a clientela dos pubs. Estão sendo testados novos produtos, como a Guinness Black Lager, e lançados outros, como a Guinness Mid Strenght, para tentar atrair mais bebedores.

 

Mesmo assim, Andrew Morgan, o presidente da Diageo para a Europa, diz que as vendas da empresa na Irlanda vão continuar fracas nos próximos meses. "No momento nada indica que vamos conseguir melhorar o lucro que temos obtido nos últimos seis meses", disse recentemente a investidores.

 

As oscilações econômicas na Irlanda prejudicaram os bares do país tanto nos períodos de alta quanto nos de baixa. Durante os anos de expansão econômica do "Tigre Celta", no fim dos anos 90 e início da década passada, as pessoas começaram a abandonar os pubs depois de se mudarem para casas novas mais distantes do centro das cidades e mais bem equipadas para receber visitas. Agora, com a crise econômica, os irlandeses estão evitando os pubs porque é mais barato beber em casa. O número de licenças de pub no país caiu ano passado para 7.616, ante 8.922 em 2005, segundo a Central de Comissários da Receita, a agência tributária e alfandegária da Irlanda.

 

O fechamento de tantos pubs prejudicou a Guinness porque as pessoas preferem tomar a encorpada cerveja como um chope e não de lata ou de garrafa.

 

O fechamento dos pubs não é a única coisa que está afetando a Guinness. Os anos de expansão econômica da Irlanda também foram acompanhados pela ascensão de alternativas alcoólicas, como o vinho australiano, o que aumentou a competição no mercado. Alguns adeptos da Guinness a trocaram por cervejas mais baratas por causa da recessão. Os irlandeses também estão bebendo menos. O consumo de álcool caiu para 11,3 litros por pessoa em 2009, ante um patamar de 14,5 litros que se manteve por décadas até 2001, segundo a Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento.

 

Simon Hales, analista da Evolution Securities, de Londres, diz que tinham surgido sinais de estabilização da Guinness na Irlanda, "mas a última virada da economia voltou a prejudicar as vendas de Guinness".

 

Kennedy, da Diageo, diz que a onda de cortes de custos na Irlanda preparou a subsidiária para se recuperar rapidamente quando a confiança do consumidor voltar. A marca está "com a saúde perfeita", diz.

 


Veículo: Valor Econômico


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