Berço do junk food já abre espaço para produtos naturais.
Ao receber Barack Obama no Brasil no mês passado, a presidente Dilma Rousseff cobrou do presidente dos Estados Unidos o fim de barreiras protecionistas que impedem o aumento das exportações de mercadorias para aquele país. Entre os insatisfeitos, estão os produtores de suco de laranja que, com a medida, perdem mercado.
De fato, o prejuízo é grande. Os americanos estão "de olho" nos produtos brasileiros e, embora a terra do Tio Sam seja o berço do junk food, os produtos naturais já têm espaço garantido por lá. Prova disso são os resultados obtidos pela Brazil Gourmet, marca de sucos produzidos com polpa de frutas brasileiras, com sede na Pensilvânia, nos EUA.
Em pouco mais de uma década, o negócio constituído por uma família brasileira alcançou a produção de 7 milhões de unidades no ano passado. Parte da fabricação é feita em território nacional em uma cidade do Nordeste que não foi revelada. Para 2011, a expectativa é de que esse número salte para 9 milhões, garantindo à empresa faturamento de R$ 16 milhões.
Para quem associa o êxito de fabricantes nacionais nos EUA à comunidade brasileira naquele país, composta por mais de um milhão de pessoas, a presidente da Brazil Gourmet, Glória Negrão, disse que a teoria não faz sentido. De acordo com ela, a maior parte de seus clientes são americanos conquistados pelas frutas tropicais.
O vice-presidente de operações, Alcides Ruozzi, acrescentou que a autenticidade do sabor dos produtos da marca é atrativa também quando se leva em conta o que é produzido pela concorrência. "As outras fabricantes oferecem sabores artificiais, muitas vezes usam, inclusive, misturas", disse.
Internacionalização - A aceitação das mercadorias brasileiras pelos norte-americanos foi o que levou a família da carioca Glória Negrão a fazer as malas e se mudar para os EUA em 1983. Na época, vivendo em Belo Horizonte e trabalhando com exportação de flores secas, a transferência foi a chance de estreitar relações com seu principal mercado consumidor.
Foi quando nasceu a Liberty Imports, empresa que logo deixou de lado as flores secas para investir na exportação de marcas nacionais já fortalecidas no Brasil, como Yoki e Bauducco.
Anos depois, o negócio mudou novamente de foco. "Foi quando decidimos que queríamos criar a nossa própria marca e nos dedicarmos exclusivamente a ela", lembrou Glória Negrão. A passos lentos, a Brazil Gourmet ganhou não somente as gôndolas dos supermercados, como também atacadistas e bases militares americanas nos EUA e na Europa.
Hoje, os sucos naturais são comercializados em cerca de 8 mil pontos de venda de 18 estados norte-americanos e atingem aproximadamente 160 bases militares. A Alemanha também já é cliente.
Rentabilidade - Apesar de o negócio ter despontado relativamente em pouco tempo, em um cenário onde a concorrência entre as marcas é muito mais agressiva do que no Brasil, a rentabilidade da companhia poderia ser maior.
O vilão desta história, mais uma vez, é a supervalorização do real frente ao dólar. Com produção e logística dividida entre os dois países, a Brazil Gourmet precisa se redesenhar para aguentar o peso da alta cotação da moeda brasileira.
De acordo com o vice-presidente de operações, o aumento dos gastos, fruto das altas do preço das matérias-primas e da compra de serviços, não pode ser integralmente repassado ao consumidor final. Ruozzi disse que os americanos são acostumados com a manutenção dos valores dos produtos, e que seria um risco fazê-los enfrentar um possível ziguezague no preço dos sucos.
Com isso, a companhia precisou definir uma estratégia para manter o negócio lucrativo. Conforme Simone Anewalt, vice-presidente da empresa e filha de Glória Negrão, alguns investimentos tiveram de ser repensados. o caso de novos lançamentos, por exemplo, que tiveram que ficar para o futuro. "Se não fosse o câmbio, poderíamos ‘explodir’ mais rápido."
Produção - Atualmente, a Brazil Gourmet trabalha com duas linhas de produtos (néctar e 100% suco), cada uma envolvendo quatro sabores. Os preços variam de US$ 0,89 a US$ 2,59.
As frutas usadas como matéria-prima são manga, maracujá, caju, goiaba e açaí, a mais nova aposta da marca. Além dos sabores e dos preços, o que diferencia as duas linhas é a forma de fabricação.
Enquanto em um dos casos a base do produto sai do Brasil e a produção final e envase são feitos nos EUA; no outro a mercadoria é levada integralmente pronta para o exterior. A fabricação em território nacional é feita em uma cidade do Nordeste que não foi revelada.
Já em solo americano, as mercadorias chegam aos 8 mil pontos de venda a partir do trabalho de quatro centros de distribuição localizados em Nova Jersey, Filadélfia, Savana e Houston.
Veículo: Diário do Comércio (MG)