A britânica Diageo, maior fabricante de bebidas destiladas do mundo, afastou-se da negociação para compra da Schincariol, a segunda maior cervejaria do país. A informação foi confirmada ao Valor por uma fonte próxima às negociações. "A Diageo nem chegou a fazer uma oferta pela Schin", disse a fonte.
A ideia inicial, segundo outras fontes, era fazer uma associação com a holandesa Heineken para a compra da cervejaria com sede em Itu (SP). A Heineken e a fabricante do uísque Johnnie Walker já têm uma joint venture semelhante na África do Sul. Há sete anos, as duas empresas compraram juntas 28,9% da cervejaria local Namibian Breweries, da Namíbia, e formaram uma terceira empresa, chamada Brandhouse.
"O problema é que a Diageo não queria investir sozinha e a Heineken tem planos muito ambiciosos. Quer crescer para brigar com a Ambev e tem dinheiro para fazer isso sozinha", afirmou a fonte.
No mercado nacional de cervejas, segundo dados da Nielsen, a Ambev tem 69% das vendas e a Schincariol fica em segundo lugar, com 11%. A Petrópolis, dona da cerveja Itaipava, vem em terceiro, com 10,2% e a Heineken - que comprou a divisão de cervejas da mexicana Femsa, no início de 2010 - fica em quarto, com 8,4%.
A Diageo atua no mercado de cervejas nacional apenas com a importação da irlandesa Guinness, restrita ao mercado de marcas especiais, que soma algo entre 3% e 5% das vendas no Brasil.
A Schincariol está à venda desde o início do ano. Entre o fim de janeiro e o início de fevereiro a empresa mandou para várias outras companhias um "pacote de informações" com a oferta de venda. Houve interesse de vários grupos como a britânica SABMiller, a japonesa Kirin, a holandesa Heineken e a Diageo. Mas todas teriam esbarrado na falta de transparência da cervejaria sobre suas dívidas. No balanço publicado em 31 de março, a Schincariol Participações e Representações (que engloba todas as empresas do grupo) relaciona dívidas financeiras que somam R$ 828,5 milhões (empréstimos de curto e longo prazo, descontado o caixa da empresa). Em nota explicativa no mesmo balanço, a cervejaria e suas controladas informam "perdas possíveis não provisionadas" no total de R$ 2,1 bilhões. Todas essas pendências somam R$ 2,932 bilhões. O problema é que, além dessas dívidas, a Schin teria ainda mais débitos não lançados em balanço, dizem analistas e fontes do mercado de bebidas.
"Essa falta de transparência afasta grupos internacionais interessados, já que são todas empresas abertas que precisaram ter clareza em suas contas", disse uma pessoa ligada a uma das cervejarias que têm interesse na compra.
Na últimas semanas, segundo essa mesma fonte, as negociações com a Schincariol estariam paradas, devido ao impasse gerado por essas incertezas.
Além disso, não haveria concordância entre os dois maiores acionistas da Schincariol sobre sua venda. Adriano Schincariol, presidente da empresa e controlador de 51% das ações, seria a favor da venda para um grupo estrangeiro. A mesma ideia não seria compartilhada por Gilberto Schincariol Junior, controlador de 49% das ações, vice-presidente e responsável pelas áreas comercial e de marketing. A intenção de Gilberto seria comprar a parte de Adriano, que por sua vez não quer vendê-la ao primo. Procurados pelo Valor, Diageo, Schincariol e Heineken não comentaram o assunto.
Veículo: Valor Econômico