Ambev eleva preço e corta despesas para compensar redução no volume de vendas
O ajuste da frota de caminhões à queda sazonal na demanda por bebidas ajudou a Ambev a fazer uma economia de quase R$ 30 milhões no segundo trimestre. No período, as despesas com vendas, gerais e administrativas (excluindo depreciação e amortização) da companhia no Brasil caíram 2,8% para R$ 1,03 bilhão, em relação ao segundo trimestre de 2010. Entre abril e junho de 2010 versus o mesmo período de 2009, essas despesas haviam crescido 12,3%.
Segundo o vice-presidente financeiro e de relações com investidores da companhia, Nelson Jamel, a empresa passou a adotar novas medidas no segundo trimestre deste ano para compensar a queda no volume de vendas, que foi de 0,9% no mundo e de 1,6% no Brasil. No país, a retração no volume foi puxada pelo reajuste nos preços, que absorveram o aumento dos impostos federais (PIS/Cofins e IPI) sobre as bebidas. Nas cervejas, o reajuste ficou entre 1,5% e 2,5%. Não estão previstos novos aumentos de preço este ano, segundo Jamel.
Entre as iniciativas, está a redução da frota fixa, de 2,6 mil para 2,3 mil caminhões após o verão, período de diminuição da demanda. "Apertamos um pouco o cinto para enfrentar o último trimestre, quando também houve uma desaceleração da economia como um todo", diz o executivo. Segundo ele, a retração no volume global também se deve à base de comparação elevada, uma vez que no segundo trimestre de 2010 as vendas foram puxadas pela Copa do Mundo.
Diminuir o custo logístico é fundamental para a fabricante de bebidas, que tem a maior parte da suas plantas no Sudeste do país. No Nordeste, região estratégica para a companhia e onde a Ambev enfrenta concorrência maior da vice-líder Schincariol, as apostas se concentram na nova fábrica de Itapissuma (PE), que será inaugurada este ano.
Além do ajuste da frota própria de caminhões, a empresa vem estendendo o uso do leilão eletrônico na negociação com fornecedores. "No começo, usamos essa ferramenta apenas para compra de insumo, mas estamos ampliando para outras negociações, como contratação de frete e produção de propaganda", diz. Medidas administrativas, como a compra de passagens aéreas com maior antecedência para aproveitar descontos, também estão sendo tomadas.
Os cortes não devem se intensificar, diz ele. "Já fizemos os ajustes de despesas necessários para manter a rentabilidade", afirma. "Se o aperto fosse maior, não faríamos investimentos importantes, como o lançamento da Budweiser". A marca da cerveja mais consumida do mundo já está sendo fabricada no Brasil, em Jacareí (SP), e deve chegar ao varejo ao fim desse mês.
A empresa mantém os investimentos anunciados de R$ 2,5 bilhões no Brasil este ano. Já foram aplicados até o momento R$ 1,4 bilhão nas fábricas de Piraí (RJ), Cebrasa (GO), Sete Lagoas (MG), Aquiraz (CE) e Passo Fundo (RS).
Com operações que vão do Canadá à Argentina, a Ambev espera que, no Brasil, o consumo volte a acelerar em 2012, com o aumento de 7,5% no salário mínimo esperado para o início do próximo ano.
No segundo trimestre, a receita líquida da companhia cresceu 2,3%, para R$ 5,81 bilhões, em relação ao mesmo período de 2010. O Brasil representa 67% desse total. Considerando o crescimento orgânico, a alta na receita líquida foi de 6,2%. O lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização (Ebitda) no período foi de R$ 2,57 bilhões, com alta de 7,1%. A margem Ebitda avançou de 42,4% para 44,4%. O lucro líquido subiu 21,3% no trimestre, para R$ 1,83 bilhão. O lucro líquido "normalizado", que exclui receitas e despesas especiais, cresceu 20,4%.
"A empresa manteve o seu nível de rentabilidade elevado, mesmo com o volume menor e o preço maior", diz o analista Rafael Cintra, da Link. No segundo trimestre, a empresa registrou ligeira queda na participação de mercado em cervejas no país: de 70,6% para 69%.
Controladora AB Inbev tem resultado 26% maior
A AB Inbev, grupo mundial com sede na Bélgica e do qual a cervejaria brasileira faz parte, fechou o segundo trimestre com lucro líquido de US$ 1,45 bilhão, com elevação de 26,2% em relação ao ganho de US$ 1,15 bilhão dos mesmos três meses de 2010.
Excluindo fatores excepcionais, o lucro foi de US$ 1,6 bilhão, ou 11,3% superior ao US$ 1,44 bilhão registrado um ano antes. A receita aumentou 8,5%, alcançando US$ 9,95 bilhões.
O volume de cerveja vendida caiu 2,6 % no Brasil e 1,4 % na América do Norte. "O fraco desempenho do volume e preços no Brasil é decepcionante", comentou Dirk Van Vlaanderen, analista da Jefferies International, em Londres.
Nos seis primeiros meses de 2011, o lucro da companhia foi de US$ 2,41 bilhões e a receita alcançou US$ 18,95 bilhões, com alta de 48,6% e 8,3%, respectivamente, no comparativo com igual intervalo do calendário anterior.
A dívida líquida no fim de junho estava em US$ 40,1 bilhões, com alta de US$ 400 milhões em relação à posição de dezembro de 2010. Conforme apontou a empresa, isso está ligado à sazonalidade no fluxo de caixa e ao impacto das flutuações do câmbio, notadamente a apreciação do euro e do real em relação ao dólar.
Veículo: Valor Econômico