Mistura consagrada de futebol e cerveja leva dois gaúchos a largarem empregos e apostar na fabricação de bebidas artesanais, com ênfase na Lei da Pureza, um decreto alemão de 500 anos
No Brasil, cerveja e futebol sempre formaram uma combinação perfeita. Justamente pensando nisto, dois sócios de Porto Alegre (RS) resolveram juntar as duas paixões nacionais. Mas não pararam por aí. Além de promover o aluguel da quadra de futebol society, muito tradicional entre os peladeiros, decidiram investir na fabricação da bebida, e passaram a vender cerveja artesanal no local, segundo eles, com ótima aceitação.
Tudo começou em 2005. Daniel Jeunehomme Nasi, então trabalhando com informática e cansado do estressante dia a dia, conversou com seu sócio, Vilmar Peracchi, proprietário de um supermercado à época, sobre a possibilidade de ambos mudarem radicalmente de ramo. “Queríamos algo que nos desse qualidade de vida, pois em nosso vocabulário essas palavras não existiam”, frisou Daniel. Aproveitando um dos poucos períodos de férias, decidiram viajar com suas famílias para a Argentina. Lá, conheceram um gaúcho, proprietário de uma quadra de futebol. “Ele estava muito feliz com o negócio. Segundo ele, não se ganhava muito dinheiro, mas também não se trabalhava muito. Era exatamente o que queríamos, melhorar nossa qualidade de vida”, disse.
Em seis meses, os dois sócios já estavam inaugurando sua própria quadra, a Sul Sete, em um terreno indicado pelo mesmo amigo que estava no país vizinho. “Não tínhamos a mínima noção do negócio, mas fomos com muita vontade de dar certo.” No início, a quadra só vendia refrigerantes e cervejas comerciais. “Nem sabíamos da existência das cervejas artesanais”, revelou.
Pouco apreciador das brejas na época, Daniel descobriu as artesanais em uma viagem de turismo à Santa Catarina, visitando as microcervejarias do Vale do Itajaí. “Fiquei muito impressionado com a qualidade das bebidas”, disse. Voltando à capital gaúcha, decidiu conversar com seu sócio sobre a possível fabricação de uma cerveja artesanal. “Ele me perguntou se eu estava louco, pois nem gostava de cerveja”, brinca. “Mas mostrei a ele como eram feitas as cervejas, falei sobre a Lei da Pureza, sobre a enorme diferença entre as artesanais, feitas para se degustar em vez de se embebedar, e as comerciais, e deu certo.”
Em três meses os dois estavam inaugurando a Sieben Sieben (sete em alemão), uma alusão ao nome da quadra, com a cervejaria montada no próprio local. “Eu mesmo fui a Vassouras (RJ) para fazer o curso cervejeiro. Conseguimos matéria prima aqui mesmo, em Porto Alegre, e saímos produzindo. No início foi difícil, porque o pessoal que jogava bola aqui alegava que a cerveja era muito encorpada, tinha muito aroma, e principalmente não tinha comercial na televisão, com alguma gata de biquíni bebendo”, brincou Daniel.
“Hoje, não trocam a artesanal por qualquer coisa. E dá muito orgulho ver os clientes voltando com outros amigos e contando sobre como a cerveja é feita e trazendo-os para provar.” Atualmente, são fabricados, mensalmente, cerca de quatro mil litros de quatro tipos: Pilsener, Stout, Weizen e Indian Pale Ale, praticamente todos vendidos na própria quadra e para poucos bares voltados para a cultura cervejeira artesanal na capital gaúcha. “Nossa idéia é não passar muito desse número, para manter um bom padrão de qualidade.”
Veículo: O Estado de Minas