Compra da Schin é a mais 'cara' desde 2002

Leia em 4min 20s

Indicador que apura valor é o dobro de operações similares em cerveja

 

Kirim paga R$ 3,95 bi por 50,45% das ações da Schincariol; para consultor, aquisição não muda mercado

 

A aquisição da Schincariol custou caro para a japonesa Kirin. Levantamento da agência Bloomberg mostra que a relação entre o valor pago e a capacidade de geração de caixa -medida para avaliar o valor de compra de uma empresa- foi quase o dobro da média de operações similares realizadas entre 2002 e 2009.

 

A Kirin pagou, à vista, R$ 3,95 bilhões (US$ 2,5 bilhões) pelas ações da Aleadri-Schinni Participações, detentora de 50,45% do grupo Schincariol. Isso significa dizer que a companhia foi avaliada em R$ 8,6 bilhões.

 

Esse preço equivale a 17 vezes o lucro antes de impostos e taxas (Ebitda), indicador que reflete a capacidade de geração de caixa de uma empresa, que foi de R$ 509 milhões no ano passado.

 

Nas dez operações similares no setor em todo o mundo analisadas pela Bloomberg, a média dos valores pagos é de nove vezes o Ebitda.
Uma das operações mais caras foi feita pela própria Kirin, que pagou US$ 3,8 bilhões pela segunda cervejaria da Austrália, a Lions Nathan, em 2009. O valor equivalia a 13,13 vezes a geração de caixa da Lions.

 

INTERNACIONALIZAÇÃO

 

Segunda maior cervejaria do Japão, a Kirin passa por um processo de internacionalização e já investiu US$ 12 bilhões em aquisições desde 2005. Segundo a Bloomberg, no ano passado, 23% do faturamento veio de fora do Japão, ante 14% em 2005.
"O preço não foi nenhuma pechincha, como todos esperavam", afirmou a corretora Link, ao avaliar que essa foi uma "boa oportunidade" para a companhia japonesa "entrar em um mercado com taxas de crescimento tão elevadas como o brasileiro".

 

A Kirin já havia analisado o mercado brasileiro, durante o processo de venda da Kaiser, há cerca de um ano, mas a marca acabou sendo vendida para a holandesa Heineken. Desta vez, venceu a disputa contra SAB Miller e própria Heineken.
"A Kirin é uma companhia de bebidas e alimentos e o seu interesse pelo mercado brasileiro não pode ser avaliado apenas pela cerveja" diz o consultor Adalberto Viviani, da consultoria Concept.

 

Na avaliação dele, a Kirin deve aproveitar a estrutura de distribuição da Schincariol para oferecer amplo portfólio de produtos e marcas.
A empresa japonesa já está presente no Brasil com uma operação de nicho, concentrada em saquês, molho de soja e arroz.

 

Em comunicado, a Kirin afirmou acreditar ser capaz de elevar as vendas da Schin em 10% apenas com o uso de tecnologias e marketing.
"A Kirin é uma empresa conservadora e não vem para o Brasil disputar participação de mercado. Vai disputar lucro", afirma Viviani.

 

DEVASSA

 

Com presença forte no Nordeste e 13 fábricas no país, a Schincariol vinha enfrentando dificuldades para crescer e ampliar margens. Lançamentos feitos com estardalhaço, como a Devassa Bem Loura, que teve Paris Hilton como garota-propaganda, não se traduziram em vendas.
"A Schincariol estava começando a sentir o peso de ser grande em um mercado tão competitivo com atores internacionais", diz Viviani.
"Enquanto os concorrentes vendem marca e embalagem, a Schin ainda vende hectolitro."
Na avaliação do consultor, a chegada da Kirin não deve alterar o mercado de cerveja nacional, terceiro maior do mundo, atrás de China e EUA.

 

Minoritários não reconhecem operação

 

Os sócios minoritários da Schincariol, detentores de 49,55% das ações da companhia, disseram ontem não reconhecer o negócio fechado com a cervejaria japonesa Kirin.
Os minoritários alegam ter o direito de preferência na compra das ações dos irmãos Alexandre e Adriano Schincariol, filhos do fundador Nelson Schincariol.

 

Os irmãos venderam a totalidade das ações da Aleadri-Schinni Participações, detentora das ações do grupo.
"Em defesa do direito e dos interesses dos colaboradores, fornecedores e consumidores brasileiros, os acionistas que detêm 49,55% das ações do Grupo Schincariol declaram não reconhecer a legitimidade de negócio envolvendo a transferência das ações para terceiros."

 

Os minoritários contrataram o escritório Teixeira, Martins & Advogados.
"Qualquer tentativa de violação a esse direito [de preferência] será levada a exame judicial."
Na fase de negociação com a Kirin e com as outras empresas interessadas (SAB Miller e Heineken), os minoritários chegaram a notificar judicialmente as partes afirmando que gostariam de exercer o direito de preferência, previsto em acordo de acionistas firmado em 1980.

 

O acordo estabelece que, antes de negociar a venda das ações, a parte interessada em vender deve fazer uma proposta para os demais sócios, que teriam 30 dias para decidir.
A Kirin, assessorada pelo escritório Tozzini Freire, já convidou os minoritários para conversar, mas não obteve resposta.
No entendimento de Adriano e Alexandre, representados pelo escritório Mattos Filho, o direito de preferência não se aplica, uma vez que a venda não envolveu as ações da Schin, mas as da Aleadri-Schinni Participações.

 


Veículo: Folha de S.Paulo


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