Em meio ao "derretimento" do mercado financeiro global, dificilmente um banco ou fundo de investimentos estará disposto a emprestar R$ 4 bilhões para a compra do controle da vice-líder do mercado brasileiro de cervejas. É nisso que aposta a defesa da Aleadri-Schinni Participações, controladora da Schincariol, que acaba de ser vendida para a japonesa Kirin, para barrar a tentativa da Jadangil Participações, minoritária da fabricante, de cancelar o negócio.
Segundo apurou o Valor, o escritório Mattos Filho, que defende a Aleadri, tenta convencer a juíza Juliana Bicudo, da 1ª Vara Cível de Itu, que uma discussão judicial só faz sentido se a Jadangil garantir que vai exercer o direito de preferência na compra das ações da Schincariol e que vai depositar em juízo o valor pago pela Kirin à Aleadri, de R$ 3,95 bilhões.
Caso contrário, na visão da defesa, o processo deixa de ser relevante: a Jadangil está tentando impedir a compra da Aleadri, ao alegar que, pelas regras do estatuto da Schincariol, deveria ter sido procurada antes para fazer uma proposta pelas ações dos majoritários, mas não tem capital para adquirir o controle. O Mattos Filho deve obter uma resposta da juíza à sua solicitação ainda nesta semana.
Na noite de quinta-feira, a juíza Juliana Bicudo decidiu suspender os efeitos da venda da Aleadri à Kirin. Portanto, a Kirin pagou pela Schincariol, mas não pode tomar posse da companhia, sob pena de multa de R$ 100 mil. Todos os documentos que comprovam o histórico da negociação entre a Kirin e a Aleadri devem ser apresentados à Jadangil até amanhã.
Os advogados do Mattos Filho também vão entrar com recurso à suspensão do negócio na Câmara de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo. Criada em junho, a instância tem o objetivo de resolver, de forma mais rápida, impasses entre empresas.
Do outro lado, o escritório Teixeira Martins Advogados, que defende a Jadangil, deve entrar com uma ação principal de primeira instância na 1ª Vara Cível de Itu nos próximos dias para pedir a anulação da venda à Kirin.
Na sexta-feira, o presidente da Kirin, Senji Miyake, afirmou que a multinacional japonesa pode comprar as ações da Jadangil. "A Kirin pretende ter laços de amizade com os acionistas minoritários da Schincariol", disse ele, durante divulgação dos resultados da companhia no primeiro semestre, segundo agências internacionais.
No período, o lucro líquido da Kirin mais do que dobrou, em comparação aos primeiros seis meses de 2010. O resultado subiu 150,7%, para US$ 219,4 milhões. As vendas consolidadas registraram ligeira queda, de 0,9%, para US$ 12,3 bilhões. Os efeitos do forte terremoto de 11 de março que atingiu o Japão ainda são sentidos no mercado doméstico, especialmente no consumo de bebidas. Mas os esforços da empresa em ganhar rentabilidade e eficiência com a integração dos seus negócios de bebidas têm sido bem sucedidos, segundo a companhia.
Veículo: Valor Econômico