Câmbio tem afetado rentabilidade dos produtores, mas meta de chegar em US$ 3 bi em 10 anos está mantida
A indústria de vinhos do Chile vive um momento de perda de rentabilidade, principalmente em decorrência da valorização do peso ante o dólar, mas mesmo assim traça metas ambiciosas para os próximos 10 anos. O país busca tornar-se o maior entre os exportadores do chamado "Novo Mundo", que inclui Austrália, África do Sul, Estados Unidos e Argentina.
As exportações de vinhos chilenos renderam US$ 1,4 bilhão em 2010 e a estimativa para 2011, segundo Juan Somavia, diretor operacional da Wines of Chile, é de um crescimento de 9% a 10% no valor embarcado. Para 2020, a meta é de US$ 3 bilhões, o que faria do país o quarto maior exportador mundial em receita, com um crescimento de 9,2% ao ano. Hoje, o Chile ocupa o quinto lugar nesse ranking.
A associação, que reúne 104 vinícolas de um total de 300 no país, não espera aumento acelerado dos volumes embarcados, mas valorização dos preços na exportação. Além de elevar os preços, para alcançar a meta, o "desafio", reconhece Somavia, será ampliar os volumes em 6% e a receita, em 3%.
A estratégia do setor, que já vende a 150 países, para atingir o objetivo é promover as vinhas do Chile como categoria de classe mundial. "A origem tem mais importância que a marca do vinho", afirma.
Ele aponta como vantagens do Chile em relação a outros países produtores a diversidade de variedades e as condições agroclimáticas "excepcionais para a produção de vinho de alta qualidade". As vinhas chilenas estão localizadas principalmente na região central do país, mas também há produção ao norte e ao sul do Chile. Hoje há 20 cepas de uvas para produção de vinho no Chile, e o plano é focar as variedades Cabernet Sauvignon, Carmenere, Sauvignon Blanc, Pinot Noir, Syrah, Carignan e Chardonnay, segundo Somavia.
Para concretizar esse plano de crescimento, será preciso também ampliar a área de vinhas no Chile, que hoje está em 122 mil hectares e tem crescido pouco nos últimos anos. "Será necessário passar de 122 mil para 160 mil hectares para absorver o aumento [planejado] da exportação", prevê Somavia.
O problema é que, pelo menos, no curto prazo, o cenário não estimula o aumento de plantio de uvas no Chile, que cresceu apenas 6% nos últimos oito anos.
De fato, há vinhas reduzindo investimentos por conta da alta de custos. Isso significa, hoje, oferta ajustada de matéria-prima, o que também afeta as margens do setor. "O preço da uva subiu porque o plantio não cresceu. O custo da mão de obra também subiu e há inflação", observa o diretor da Wines of Chile.
A própria oferta de vinho também acabou sendo afetada no país em função do terremoto em fevereiro de 2010. A catástrofe levou à perda de 125 milhões de litros de vinho que estavam em tanques nas vinícolas.
Contudo, um dos maiores impactos na rentabilidade da indústria de vinho decorre do fortalecimento do peso chileno em relação ao dólar. Segundo o Valor Data, em 12 meses a moeda chilena se valorizou 8,56% em relação à divisa americana. "O câmbio é uma variável incontrolável", conforma-se o executivo, lembrando que 70% das vinhas do país exportam menos de US$ 2 milhões.
Assim como outros segmentos exportadores do Chile, o de vinhos também está de olho no mercado brasileiro, que cresce por conta do avanço da classe média. Nos doze meses entre junho de 2010 e maio deste ano, as exportações de vinhos chilenos ao Brasil aumentaram 12,3% em volume e 20% em receita na comparação com igual intervalo um ano antes.
"O crescimento no consumo no Brasil nos próximos anos deve ser forte e o Chile deve capturar parte dele", vislumbra Somavia. Espaço para crescer existe. Enquanto os chilenos consomem 14 litros per capita/ano, os brasileiros só bebem 4 litros, diz a Wines of Chile.
Ações da indústria de vinho no mercado brasileiro buscarão, além de ampliar as exportações, vender produtos de maior valor. Segundo Somavia, hoje o Brasil importa principalmente vinhos que custam menos de R$ 27 no varejo.
Veículo: Valor Econômico