Minas Gerais caminha para participar, em breve, do grupo seleto de estados que produz vinhos finos no Brasil. Depois de sair, em pouco mais de 10 anos, de uma condição inexpressiva no cultivo de uvas, as fazendas mineiras registram, hoje, um plantio de quase mil hectares de videiras. A produção de vinhos está concentrada na região Sul do Estado, mais especificamente nos municípios de Andradas e Caldas. Nestas localidades, predomina o cultivo das espécies americanas que, por serem mais rústicas, adaptaram-se bem às condições de clima da região, com intenso período chuvoso, que coincide com a época de maturação das uvas.
O Sul de Minas conta hoje com 32 vinícolas, que geram algo em torno de 3 mil empregos entre diretos e indiretos. Além disso, diversos projetos de desenvolvimento de produção de vinhedos e vinhos estão em andamento na região, o que deve fortalecer, ainda mais, a imagem do principal polo produtor e fabricante do Estado nos próximos anos.
De acordo com o vitivinicultor de Andradas José Procópio Stella, o município produz vinhos de mesa há 130 anos e, agora, está passando por um amplo processo de modernização da cadeia produtiva. Segundo ele, o aumento do consumo de vinhos finos por parte da população brasileira tem levado a um crescimento das áreas de cultivo de videiras para esse fim no país e, de forma acentuada, em Minas Gerais. "A bebida é a grande aposta do setor para os próximos anos."
Apesar de não haver um levantamento preciso, ele disse ser perceptível que a grande maioria dos produtores de uva e fabricantes de vinho da região Sul do Estado está investindo para acompanhar a crescente demanda no mercado interno. "Temos hoje conhecimentos e projetos para fabricar vinhos finos com a mesma qualidade dos produtores europeus. Ainda faltam alguns ajustes tecnológicos, mas vamos chegar lá em pouco tempo", garantiu.
Mercado - Apesar do otimismo, os desafios no mercado interno ainda são grandes. No Brasil, o consumo per capita de vinho, seja fino ou de mesa, não passa de dois litros ao ano - o consumo de cachaça, por exemplo, é de 11 litros por pessoa/ano, em média; e o de cerveja, 44 litros anuais per capita. Fatores culturais e até climáticos contribuem para a baixa adesão à bebida. Na França, por exemplo, o consumo por pessoa ultrapassa 50 litros. Na América Latina, o Uruguai lidera o ranking, com 33 litros por pessoa.
Mesmo com este cenário, o diretor executivo do Instituto Brasileiro de Vinhos (Ibravin), Carlos Paviani, confirma que o setor de vinhos finos brasileiro está passando por um momento de ebulição, mas as mudanças não serão sentidas de uma hora para outra. "Muitas medidas estão sendo tomadas para melhorar a imagem e a qualidade do vinho brasileiro. Além disso, o aumento do consumo dos finos está ligado a uma mudança de hábito. Muita gente ainda prefere os vinhos de mesa ou outras bebidas", disse.
A expectativa é de que a busca pela qualidade do vinho fino melhore a imagem da bebida no país e abra fronteiras para que o produto seja reconhecido e consumido pelo resto do mundo. O Brasil exporta apenas 2% de sua produção total de vinhos finos por ano. "Esse número ainda é irrisório. Todo o setor está engajado para aumentar em 10% as exportações nos próximos cinco anos", afirmou Paviani.
Em 2010, os vinhos brasileiros chegaram a 32 países. Os Estados Unidos receberam cerca de 20% do total exportado, seguido da Alemanha, com 16%. Mais de 30% da produção mundial de vinho é destinada à exportação.
O Brasil produz 1,2 milhão de toneladas anuais de uvas, das quais 45% são destinadas ao processamento, e importa mais de 40 milhões de litros de vinhos. O país é, atualmente, o 16º produtor de vinho no ranking mundial.
A produção de vinhos nacionais concentra-se, principalmente, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, sendo que 81% dos produtos processados são vinhos de consumo corrente e sucos de uva e apenas 10% são vinhos finos. No ano passado, o Rio Grande do Sul produziu mais de 430 milhões de litros de vinhos, sucos e derivados de uva.
Veículo: Diário do Comércio - MG