Ivan Zurita se prepara para investir em água e suco

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Aos 59 anos, o economista Ivan Fábio Zurita se prepara para entrar no mercado de águas e suco de frutas. Não será com a marca da multinacional suíça Nestlé, que presidiu durante 11 anos e a qual vai passar o bastão em 1º de julho para o guatemalteco Juan Carlos Marroquín Cuesta. As novidades devem vir da Agroindustrial Zurita, negócio que vem sendo desenvolvido em Araras (SP), sua cidade natal, pelo irmão Ivan Eduardo Zurita. "Viajo todo fim de semana para lá, de carro ou de helicóptero, mas quero me dedicar bem mais a partir do momento que sair da Nestlé", disse Zurita ao Valor, garantindo que não vai ficar parado depois de conclui 42 anos de trabalho na multinacional suíça.

A Agroindustrial Zurita é um conglomerado que reúne 20 fazendas, responsáveis pela produção anual de 400 mil toneladas de cana, 1,7 milhão de caixas de laranja e pelo cruzamento de genes de gado para corte. Em 2011, a empresa faturou R$ 126 milhões - 40% vêm da cana, 30% da laranja e os demais 30% são da pecuária. Este ano, o grupo deve crescer 15%. As fontes de água mineral são um novo negócio previsto para começar em 2013. "Temos capacidade para 56 mil litros por hora". A ideia é usar a água também para produzir sucos. Outros focos de investimento são a Cachaça do Barão e a grife de carnes Z, hoje oferecida em "butiques" e que começará a ser exportada.

Segundo Zurita, não está prevista nenhuma "quarentena" no seu contrato com a Nestlé, que o impeça de abrir um novo negócio na área de consumo. "Mas eu não quero ser o tipo de ex-presidente que causa dor de cabeça para o presidente", diz ele. E vai concorrer com a multinacional em águas? "Talvez eu me torne fornecedor da Nestlé", brinca. No Brasil, o grupo suíço importa as marcas Perrier, Acqua Panna e S. Pellegrino, enquanto produz aqui os rótulos Petrópolis, São Lourenço e Pureza Vital. As nascentes de água mineral são da Nestlé.

A partir de julho, o executivo vai continuar na Nestlé como presidente do conselho consultivo - órgão que acompanha o desempenho da diretoria executiva e trata de questões estratégicas. É formado por seis membros de fora da empresa e seis da diretoria da Nestlé. "Vou reorganizar o conselho consultivo no segundo semestre", diz, adiantando que Jacques Marcovitch, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), deve continuar na próxima gestão.

À frente do conselho consultivo, estarão entre as atribuições de Zurita as relações externas e a análise de oportunidades de aquisição. "Isso já fazia parte das minhas funções, mas acho que o presidente do conselho deve ser alguém diferente do presidente executivo, para que haja mais foco em cada área".

Segundo Zurita, a matriz da Nestlé em Vevey lhe pediu para permanecer em 2013 e 2014 na empresa, até completar 62 anos, idade limite para a sua aposentadoria no grupo. "Mas eu me comprometi a ficar até dezembro para ajudar na transição. Depois, vamos ver", diz ele, que já está montando um escritório em uma das torres comerciais do Shopping Cidade Jardim e se mostra animado com o seu papel de empreendedor.

O novo presidente da Nestlé Brasil, Juan Carlos Marroquín Cuesta, é atualmente o principal executivo da multinacional no México. Para ocupar o lugar dele, foi recrutado o brasileiro Marcelo Melchior, hoje diretor mundial da área de "confectionery", onde estão reunidas as categorias de biscoitos e chocolates. Com 54 anos, formado em administração, Marroquín entrou na Nestlé Guatemala em 1985, como gerente de tecnologia da informação. Foi transferido ao Panamá e, depois, para a matriz em Vevey. Em 1993, passou à área de marketing. Morou na Argentina e presidiu a Nestlé na Colômbia e na Venezuela.

Zurita, por sua vez, morou 17 anos fora do país pela Nestlé e deixou claro para a multinacional em 2001, quando assumiu a presidência da subsidiária brasileira, que não queria mais ser um expatriado. O executivo afirma ter recebido dois convites do grupo suíço para presidir outros países e recusou. O último foi há dois anos. "Eu gosto muito de amizades, relacionamentos, e aqui eu me sinto realmente em casa", afirma Zurita, que entrou na companhia aos 17 anos, como estagiário do departamento de promoção e merchandising. "Eu fazia reposição dos produtos nas gôndolas", lembra.

O seu desligamento da companhia passou a ser discutido na reunião do board no ano passado, em setembro. "É um processo que não se resolve de um dia para o outro. Mas o assunto foi tratado de maneira muito mais informal, temos uma relação aberta", diz.

Zurita traz de cabeça números superlativos para ilustrar o próprio desempenho à frente da Nestlé desde 2001. "Em 11 anos, passamos de R$ 4,6 bilhões de faturamento para R$ 20,6 bilhões. Subimos da sétima para a segunda posição entre as operações mundiais da Nestlé, temos 31 fábricas, oito delas abertas na minha gestão, crescemos de 70% para 99% a nossa presença nos lares brasileiros e somos líderes em 90% das categorias em que atuamos", afirma.

Para ele, o seu principal feito em 11 anos foi a compra da Garoto, em 2002. "É uma companhia espetacular, que passou de um faturamento de R$ 500 milhões em 2001 para R$ 2,2 bilhões no ano passado. De prejuízo, passou a ter lucro, em torno de R$ 200 milhões".

A aquisição, porém, voltou à mesa de Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para nova análise. Zurita, porém, se mantém confiante. Não acredita que terá que vender fábricas ou marcas da Nestlé - exigência que pode ser feita pelo Cade para que o negócio seja aprovado definitivamente. "É uma confiança calculada, a Garoto e todo o mercado cresceram muito nos últimos anos."

Segundo fontes da Nestlé na Suíça, a imagem do executivo no grupo é positiva. "Talvez muito marqueteiro, muito ousado", diz uma fonte, um tom acima do que a Nestlé está acostumada. "Mas dentro do contexto brasileiro, um comportamento justificável."

Zurita sempre disse que estaria pronto para deixar a companhia quando completasse 40 anos de trabalho. O problema foi que a data coincidiu com um ano em que os resultados no Brasil não foram tão bons. Este ano, segundo ele, a Nestlé Brasil deve repetir o desempenho de 2011, com crescimento real entre 7% e 8%. Em 2010, esse índice havia ficado em 17%.




Veículo: Valor Econômico


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