A arte de fazer (e degustar) cerveja

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Processo artesanal de produção, difundido há séculos na Europa, elitiza o consumo da bebida mais popular do País e conquista paladares dos gourmets.

 
Aromas frutados, harmonização com pratos, degustação em ambientes elegantes, preços de tirar o fôlego... Tudo isso poderia descrever uma boa garrafa de vinho, mas a bebida em questão é a cerveja. Não aquelas marcas principais distribuídas aos milhões de garrafas pela Ambev ou pela Schincariol, mas a produzida de forma artesanal por microcervejarias, com matérias-primas selecionadas da Europa e receitas guardadas a sete chaves por mestres-cervejeiros. “O sistema de elaboração e fermentação artesanais agrada a um público mais refinado, com maturidade gastronômica e interessado em novidades”, diz a presidente da Associação Brasileira dos Profissionais em Cerveja e Malte, Cilene Saorin.

A cerveja artesanal não agrada apenas a quem é fã da bebida. Mesmo os menos entusiasmados são surpreendidos com a diversidade de sabores e rótulos encontrados no mercado nacional. Tudo por causa do frescor e dos sabores obtidos com as melhores matérias-primas. O que antes era consumido em grandes quantidades ganhou status de degustação. A cerveja Deus Brut de Flandres, fabricada na Bélgica, é tão refinada que é consumida em taças de champanhe. Custa R$ 200 no Brasil, o preço de um bom vinho. A arte de fazer e degustar cerveja replica uma tradição secular de países europeus, onde a cultura cervejeira permanece intacta, mesmo após a industrialização e o surgimento da produção em grande escala.
 
“Na Alemanha, cada vilarejo possui a sua microfábrica e os habitantes apoiam aquela cerveja como se fosse um time de futebol”, afirma Maurício Beltramelli, mestre em estilos de cerveja pelo instituto americano Siebel, em Chicago. Ao viajarem com mais frequência para o Exterior, muitos brasileiros adotaram o hábito da desgustação e não demorou muito para que as cervejas artesanais começassem a ser produzidas por aqui também. No entanto, apesar da recente expansão, elas ainda representam uma parcela pequena do mercado nacional. Dos 66,5 milhões de litros vendidos no Brasil no ano passado, apenas 0,15% corresponde às microcervejarias nacionais, segundo a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe). A expectativa é otimista: chegar aos 2%, em dez anos. A microcervejaria Bamberg, em Votorantim, no interior de São Paulo, é um exemplo clássico da expansão desse segmento.
 
A empresa do cervejeiro Alexandre Bazzo usa apenas matérias-primas importadas da cidade de Bamberg, no sudeste da Alemanha, para produzir seus 40 mil litros por mês, distribuídos em 14 estilos diferentes da bebida. Bazzo atribui parte do sucesso ao reconhecimento internacional adquirido pela Bamberg ao longo dos sete anos de existência. Isso porque, apesar de ainda não ter exportação, sua cerveja já recebeu diversos prêmios de competições estrangeiras. “Este ano ganhamos medalhas na South Beer Cup e na Australian International Beer Cup”, diz Bazzo, que periodicamente submete seus produtos à avaliação técnica estrangeira. Segundo o microempresário, que se diz apaixonado por cerveja muito antes de abrir a Bamberg, essa valorização internacional traz um retorno positivo à marca, que tem 500 pontos de venda em todo o Brasil, principalmente em São Paulo.
 
“Gera bastante exposição da marca e, além disso, é muito bom ver técnicos estrangeiros confirmando a qualidade dos nossos produtos.” Atualmente, a fábrica da Bamberg ocupa uma área de 750 metros quadrados e até o ano que vem deve dobrar de tamanho – e de produção. Mas os planos não param por aí. Bazzo tem planos de abrir um bar-cervejaria, em São Paulo, em breve. O modelo bar-cervejaria não é algo tão recente para os brasileiros, mas se mostra um bom negócio pelo potencial de expansão. A Cervejaria Nacional, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, é um bom exemplo disso. Há um ano, o carioca Dudu Toledo montou o lugar com a ajuda do mestre-cervejeiro Luis Fabiani e dos empresários Marcus Ribas e Alexandre Cymes.
 
Hoje, o local recebe, em média, seis mil clientes por mês. “O legal é que os consumidores da nossa cerveja veem onde a bebida é fabricada”, afirma Toledo. Outro atrativo é o frescor da cerveja, que sai dos barris com 100 litros de capacidade – que podem ser vistos da entrada do lugar – diretamente para as mesas dos frequentadores. Das 175 microcervejarias pelo País, a maioria e as mais conhecidas estão localizadas no Sudeste e no Sul, origem do primeiro empreendimento do gênero, a gaúcha Dado Bier, criada em 1995. Mas existem outras cervejarias artesanais de destaque em outras regiões do Brasil, como a Amazon Beer, em Belém, a capital do Pará.
 
A microfábrica, comandada pelo paraense Arlindo Guimarães, tem capacidade para 70 mil litros de produção por mês e já pensa em exportar para a China e os Estados Unidos. Feita com adição de frutos amazônicos, como o taperebá e o bacuri, a Amazon Beer preza pela identidade regional. “Eu não queria copiar nenhuma receita europeia, o intuito é valorizar o nosso País”, afirma Guimarães. A estratégia diferenciada, segundo ele, promete agradar aos estrangeiros, que gostam de produtos com a cara do Brasil. Seja qual e de onde for a receita do mestre-cervejeiro, os consumidores do País estão prontos para experimentar as novidades do mercado. “Afinal, quando a gente se acostuma com uma coisa boa, fica difícil voltar atrás”, diz Beltramelli.

 

Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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