A água mineral da cidade mineira de Araxá, que desde o início do século XIX atrai a atenção de estudiosos, está de volta ao mercado. O governo de Minas Gerais voltou a envasar a água depois de sete anos de interrupção. É a terceira marca de água mineral estatal lançada desde o fim de 2008. Até o fim do ano, a expectativa é que mais um rótulo volte ao mercado, a Lambari.
O governo retomou o negócio de água mineral quando o contrato de concessão para o grupo Supergasbras se encerrou em 2001. A produção da empresa se estendeu ainda até 2005. Em 2006 ocorreu uma nova licitação e como nenhuma empresa se interessou, a estatal de saneamento de Minas assumiu as marcas Caxambu, Cambuquira, Lambari e Araxá.
O negócio ainda está no vermelho. A subsidiária da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), a Águas Minerais de Minas, investiu até o ano passado R$ 29,2 milhões. Outros R$ 4 milhões estão sendo investidos este ano. "Ainda não recuperamos os investimentos que foram feitos. Nossa projeção é que a partir de 2013, com a Copa das Confederações [que terá jogos em Belo Horizonte], a empresa comece a pagar os investimentos e a dar lucro", disse o superintendente-executivo da Águas Minerais de Minas, Eduardo Otávio Moraes Raso.
O governador Antonio Anastasia entregou ontem a reforma da fábrica envasadora da Água Mineral Araxá - no leste do Estado.
Segundo Raso, a Águas Minerais de Minas pretende que as marcas sejam lembradas pela qualidade e que ocupem nichos de mercado. Mas a limitação da produção não permite planos muito ambiciosos. É que as fontes que abastecem as quatro marcas têm de suprir também os parques públicos nas cidades que levam seus nomes nas garrafas. Esse é um limitador que a concorrência não tem. Outro ponto fraco é que a estatal não tem distribuição própria.
No ano passado, o setor de água mineral faturou R$ 2,1 bilhões no país e produziu 9 bilhões de litros, ante os 3,5 milhões de 2000. Minas é o segundo Estado em número de marcas, são 38. São Paulo, o primeiro, tem 171, segundo dados de 2011 compilados pela Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais (Abinan). Pulverizado, o setor tem 422 marcas. O Grupo Edson Queiroz (Indaiá e Minalba) tem 12,8% do mercado; seguido por Schincariol, Ouro Fino, Flamin Mineração (Lindoya Bioleve), Coca-Cola Femsa (marca Crystal) e Nestlé (São Lourenço, Petrópolis, Pureza Vital, Aquarel e Levíssima), todas na faixa dos 2%.
A primeira água relançada pelo governo mineiro foi a Caxambu no fim de 2008; no ano passado foi a vez da Cambuquira; agora a Araxá, e a Lambari deve voltar às prateleiras até dezembro. A produção total por ano não chega a 100 mil litros. Os mercados principais são Belo Horizonte, Rio e São Paulo. Distrito Federal e Goiânia estão na mira.
As águas mineiras são conhecidas há muito tempo. A fonte de Caxambu, por exemplo, foi descoberta em 1762. Os primeiros estudos sobre as águas de Araxá são de 1816.
A subsidiária da Copasa tem uma estratégia de marketing para tentar encaixar cada uma das marcas no mercado: as duas primeiras são águas gourmet; a terceira, para o dia a dia; e a quarta terá sua imagem associada a água energética, que repõe mais rapidamente os sais minerais.
"São águas tradicionais, que têm valor pelas suas propriedades funcionais", diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais (Abinan), o geólogo Carlos Alberto Lancia. "São poucas as águas no Brasil que são naturalmente carbogasosas. São menos de 10 fontes no Brasil, sendo que três estão em Minas."
Uma água que sai da terra com gás é uma das características que Eduardo Raso gosta de enfatizar para falar da raridade do produto. "É uma água rara, um patrimônio histórico do Brasil e um tesouro dentro de Minas", diz.
Veículo: Valor Econômico