Em queda praticamente contínua desde o início da década passada, a demanda por suco de laranja em seus 40 principais países consumidores confirmou as expectativas e não reagiu em 2011. Levantamento recém-concluído pela gigante sueca de embalagens Tetra Pak e pela multinacional de pesquisas estratégicas Euromonitor International, cujos dados foram compilados pelo Centro de Pesquisa e Projetos em Marketing e Estratégia (Markestrat), sediado em Ribeirão Preto (SP), indica que o novo recuo foi de 0,6%, superior ao de 2010 (0,1%).
De acordo com o estudo, o consumo nos 40 mercados pesquisados somou 2,269 milhões de toneladas equivalentes de suco concentrado e congelado (FCOJ, na sigla em inglês), menos do que esperavam as grandes exportadoras do Brasil - as nacionais Citrosuco /Citrovita, Cutrale e a francesa Louis Dreyfus Commodities -, que respondem por mais de 80% das exportações mundiais do produto.
Em parte, essa aceleração da tendência de queda se deve à crise na zona do euro, principal destino dos embarques brasileiros. Mas a retração não se deve apenas à conjuntura adversa. Desde 2003, a demanda desse grupo de países só cresceu em 2009 (1,1%). Nos outros anos, só houve reduções, que variaram entre 0,1% (2004 e 2010) e 2,5% (2007).
Como já informou o Valor, a Associação Nacional dos Fabricantes de Sucos Cítricos (CitrusBR) encomendou um diagnóstico aprofundado do comportamento do consumo em dez desses 40 países (Japão, EUA, Reino Unido, França, Rússia, Polônia, Alemanha e China) para entender melhor os motivos da tendência e tentar revertê-la.
Mas sabe-se que um dos principais motivos foi a proliferação de concorrentes mais baratos nas gôndolas, como néctares e refrescos. A variedade de sabores se multiplicou e os teores de suco de frutas nessas bebidas são menores, o que torna o produto final mais barato do que FCOJ ou que o suco de laranja não concentrado (NFC, na sigla em inglês), ambos 100%. As exportações brasileira de NFC têm se mostrado mais firmes, mas não o suficiente para compensar a derrocada no FCOJ.
No levantamento da Tetra Pak e da Euromonitor, o NFC, que é exportado na forma líquida, pronto para beber, foi convertido em toneladas equivalentes de FCOJ, que é a commodity negociada em Nova York.
No mercado nova-iorquino, por sinal, as cotações têm reagido negativamente à queda da demanda, apesar de alguns picos de alta em virtude de problemas na oferta de laranja nos polos formados por São Paulo e Triângulo Mineiro, onde as indústrias exportadoras brasileiras se abastecem de matéria-prima, e da Flórida, que reúne o segundo maior parque citrícola do mundo, atrás do brasileiro.
E como a demanda americana apresenta uma das maiores quedas entre os 40 maiores mercados da bebida - 2% no ano passado, e 21% entre 2003 e 2011 -, a baixa na bolsa torna-se mais aguda. Do ano passado para cá, com duas supersafras de laranja no Brasil, a queda acumulada em Nova York é pouco superior a 33%, de acordo com o Valor Data.
A situação torna-se mais preocupante porque os EUA ainda são os maiores consumidores de suco de laranja do mundo, com 791 mil toneladas em 2011, já abaixo da "barreira de 800 mil que as indústrias acreditavam existir. Em 2003, foram 1 milhão de toneladas.
Na Alemanha, segundo maior mercado consumidor e que vem resistindo à crise que se alastrou pela Europa, a retração foi também de 2% no ano passado, e de 2003 a 2011 a queda chegou a 28%. Na Europa como um todo, as baixas foram de 2% e 5% nas mesmas comparações.
Nesse cenário, o alento continua sendo a Ásia, onde a demanda tem se mostrado crescente, puxada pela China. Mas, mesmo tendo aumentado 3% no ano passado e 17% de 2003 a 2011, o volume consumido chegou a apenas 249 mil toneladas no ano passado, menos de 10% do total.
A queda da demanda e a decorrente erosão dos preços internacionais também se reflete em preços mais baixos pagos pelas empresas aos seus fornecedores de laranja em São Paulo e no Triângulo Mineiro, que protestaram na semana passada contra a situação. Segundo o Cepea/Esalq, a caixa de 40,8 quilos começou a ser negociada no mercado spot por R$ 7 nesta safra 2012/13, ante pelo menos R$ 10 em 2011/12.
O patamar do ciclo passado já contou com a ajuda de uma linha especial de crédito de R$ 300 milhões lançada pelo governo federal para estimular a estocagem de suco e "enxugar" um pouco o mercado. Para acessar a linha, as indústrias tiveram que garantir R$ 10 por caixa aos produtores pelo volume que seria processado para abastecer esses estoques, que hoje estão abarrotados e também pressionam as cotações.
O lançamento de uma nova linha está em discussão, mas até agora nada foi definido. Outra alternativa em estudo é fornecer a bebida, a preço de custo, para merenda escolar. As indústrias estimam que, se nada for feito, até 80 milhões de caixas de 40,8 quilos da safra atual do Estado de São Paulo (ano industrial 2012/13), estimada em 365 milhões pela Secretaria da Agricultura do Estado, devem ficar sem compradores.
Veículo: Valor Econômico