As vinícolas brasileiras estão entrando com otimismo no quarto trimestre, período que concentra, em média, metade do consumo anual de espumantes e quase um terço das vendas de vinhos finos no país, incluindo nacionais e importados. Com a economia em crescimento - embora em ritmo mais lento do que no ano passado - e os consumidores dispostos a ir às compras, as empresas estimam altas de até 30% nas entregas de outubro a dezembro em comparação com o mesmo intervalo de 2011.
O otimismo é maior no segmento de espumantes, diretamente associado às festas de fim de ano. Segundo o presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Henrique Benedetti, a demanda deve ser mais forte em novembro e dezembro, quando os varejistas correm para recompor estoques. Ele espera um crescimento mínimo de 15% nas vendas do produto nacional no quarto trimestre ante os 7,1 milhões de litros do mesmo intervalo de 2011, o que levaria a uma alta acumulada de 14% no ano, para 15 milhões de litros. Até julho a expansão foi de 9,9%, para 4,2 milhões de litros.
As projeções são mais modestas para as vendas de vinhos finos, que cresceram apenas 2,2% nos primeiros sete meses, para 10,9 milhões de litros, e devem no máximo empatar no quarto trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. O setor espera para o início de 2013 a decisão do governo federal sobre o pedido de salvaguardas contra o produto importado de fora do Mercosul e a expectativa de Benedetti é que a comercialização dos vinhos nacionais não passará de 20 milhões de litros no ano, ante 19,5 milhões em 2011.
As estratégias das vinícolas incluem desde as tradicionais degustações nos pontos de venda até o lançamento de rótulos e embalagens, abertura de novos mercados no país e comedimento nos reajustes de preços. Segundo o gerente nacional de vendas da Perini, Marcio Bonilha, a empresa prevê uma expansão de até 30% no quarto trimestre e também no acumulado do ano nos dois segmentos. Nos 12 meses de 2011 a empresa vendeu 392 mil litros de espumantes e 737 mil litros de vinhos finos.
Na linha de espumantes, o crescimento será mais fácil porque o mercado está comprador, disse o executivo. Mas no segmento de vinhos a meta está exigindo um esforço maior, incluindo a busca de novos clientes nas regiões Nordeste e Centro-Oeste do país e o lançamento, há poucos meses, de novos rótulos como "Fração Única" e "Arbo", este último considerado "de entrada" em substituição ao antigo "Jota Pe" varietal. A Perini também decidiu manter as tabelas inalteradas ante os preços de um ano atrás para manter a "relação custo-benefício" dos produtos, disse Bonilha
A Salton, que no início do ano reajustou os preços em torno de 5% para compensar parte do aumento de custos, espera uma expansão de 15% nos dois segmentos no quarto trimestre. Com isso, segundo o presidente Daniel Salton, a vinícola fechará 2012 com vendas de cerca de 7,7 milhões de garrafas (o equivalente a 5,8 milhões de litros) de espumantes e 3,3 milhões de garrafas (2,5 milhões de litros) de vinhos, o que significa crescimentos de 18,5% e 10% sobre um ano antes, respectivamente.
"A economia está melhorando e estamos reforçando o relacionamento com nossos clientes", diz Salton, que também pretende aumentar a participação do Nordeste sobre as vendas totais no país em comparação com a fatia de 9,7% em 2011. "Reforçamos a equipe de vendas para a região e estamos fechando parcerias com resorts e distribuidores", explica o empresário, que promete o lançamento de novos rótulos "para o ano que vem".
A Miolo espera altas de 10% nas vendas de espumantes no último quadrimestre e de 12% no acumulado do ano (para 4,7 milhões de garrafas), depois de reforçar o portfólio com um rosé meio doce lançado há um mês com o rótulo Almadén em garrafas de 660 mililitros, disse o diretor comercial Alexandre Miolo. Para os vinhos, a previsão é de um crescimento "pequeno", na faixa de 5% para o acumulado de todo o ano, informou o executivo, sem detalhar volumes.
A vinícola também acabou de colocar no mercado três produtos com a Denominação de Origem (DO) "Vale dos Vinhedos" concedida neste mês pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) para os vinhos e espumantes elaborados nessa região de Bento Gonçalves (RS). Um deles é o espumante brut Millésime, além dos vinhos Merlot Terroir e Cuveé Giuseppe, este último elaborado com uvas merlot e cabernet sauvignon. Conforme Miolo, em janeiro deste ano a empresa reajustou os preços entre 8% e 8,5% para compensar parte da elevação dos custos de produção.
Sem se preocupar em aumentar a produção geral de 180 mil garrafas por ano, a vinícola Argenta também aproveitou o mercado aquecido para lançar, na semana passada, uma linha completa (brut, brut rosé, extra brut e demi-sec) de um espumante "champenoise" (fermentados na garrafa durante 24 meses), além de um vinho branco com uvas gewürztraminer e outro com sauvignon blanc. Segundo a diretora de marketing, Daiane Argenta, os lotes de espumantes têm de mil a 2,4 mil garrafas, todas importadas da Itália, e os de vinhos, de 2,4 mil a 3 mil unidades.
Veículo: Valor Econômico