"Estamos bem impressionados com Brasil". A frase, dita durante um jantar na noite de quinta-feira, em Monterey, pelo presidente do conselho e diretor-geral da mexicana Femsa, José Antonio Fernández Carbajal, é um bom indicador dos resultados que a mexicana vem registrando em sua operação local, que já representa 20% dos negócios da maior engarrafadora da Coca-Cola na América Latina, ficando atrás apenas da operação do próprio México, de 50%. Isso em apenas nove anos de mercado brasileiro.
"Estamos aprendendo muito com o Brasil e apostamos tanto neste mercado que decidimos investir numa fábrica, em Minas Gerais, que estará no 'estado da arte'", acrescenta o empresário.
A unidade, orçada em R$ 250 milhões, terá uma produção totalmente "verde" e já representa um marco na estratégia da empresa de produzir de forma sustentável e se consolidar no mercado latino-americano.
Segundo Carbajal, a Femsa busca, cada vez mais, ampliar sua base de operação no mercado.
Para isso, a empresa, que também produz os sucos Del Valle, estuda a possibilidade de trazer um novo produto, que mistura leite a sucos de frutas.
"O segmento de bebidas gasosas é grande, mas o consumidor está cada vez mais exigente e temos de atender a suas necessidades", explica,
Ele acrescenta que inicialmente houve temores de que novas categorias pudessem roubar o mercado de Coca-Cola, o que não se confirmou. "Outras bebidas ganham espaço, enquanto a Coca continua firme."
A Femsa entrou recentemente no negócio de leite, com aquisição da panamenha Estrela Azul, líder de mercado, naquele país.
Outro plano que vem sendo bem elaborado é a possibilidade de trazer a rede de lojas Oxxo para o Brasil. Criada pela mexicana para ser um bom canal de vendas de bebidas, a rede se expande com uma grande velocidade, abrindo 1,2 mil unidades ao ano nos últimos anos. Hoje, porém, 60% das vendas não são de bebidas. Ao todo, já são 10 mil pontos de venda, incluindo as cerca de 30 lojas instaladas na Colômbia.
"Agora, estamos aprendendo na Colômbia, porque há algumas diferenças com a operação no México, para depois pensar no Brasil. O mercado é mais complexo e levar a Oxxo para lá seria um salto muito grande", analisa o executivo Carbajal.
Atualmente, a Oxxo ultrapassa o conceito de loja de conveniência, vendendo até mesmo serviços, como venda de produtos do site Mercado Livre até pacotes de viagem. Tudo utilizado um terminal de Internet e aceitando o pagamento no caixa. Além disso, as lojas também servem como correspondentes bancários, aceitando pagamentos de várias naturezas.
O negócio deu tão certo que a Oxxo já representa cerca de um terço dos negócios globais da Femsa. As lojas, todas próprias, permitem o total controle da estratégia por parte da companhia.
"Se tivermos uma promoção marcada para uma data, por exemplo, todas as unidades já se preparam no dia anterior", explica Carbajal.
Parceria
Avaliando os negócios no País, o diretor de Relações com Investidores, Juan Fonseca, diz que Brasil e México têm muito a aprender juntos. "Historicamente o Brasil sempre olhou para dentro e o México para fora. A abertura dos dois mercados, através de acordos, pode ajudar muito essa parceria", afirmou o executivo.
Para Fonseca o Brasil poderia ir muito além das exportações de matérias primas, vendendo produtos industrializados, assim como o México poderia repensar melhor internamente.
"Mas a parceria entre os dois países é nova, só tem 20 anos, e deve crescer nos próximos anos", diz Fonseca. E os números confirmam esse resultado. O Brasil já se tornou um dos principais destinos do capital mexicano na América Latina, movimentando um total de US$ 26 bilhões.
Não é à toa que há duas semanas o próprio presidente eleito do México, Enrique Peña Nieto, veio encontrar lideranças da indústria na Fiesp e com a presidente Dilma Rousseff. Na mesa de negociações, os mandatários traçaram estratégias para conseguir reverter as limitações comerciais que foram adotadas ainda no início do ano.
Logística
A mexicana também tem planos de expandir sua atuação no setor da logística no País, onde chegou há apenas três anos e já atende clientes de grande porte, como é o caso da montadora Fiat, em Minas Gerais.
"Brasil e México têm muita similaridades em logística e podemos ampliar ainda mais nossos negócios por aqui", explica o diretor de Administração e Controle Operacional da Femsa, José González Ornelas.
Outro ramo que a Femsa aposta é o de geladeiras comerciais, onde aportou há dois anos no Brasil, investindo US$ 13 milhões para instalar uma fábrica em Itu, no interior de São Paulo.
Veículo: DCI