Cutrale, Dreyfus e Citrosuco consideram participação de citricultores fundamental para reverter cenário
Da crise nascem as oportunidades. A indústria brasileira de suco de laranja — leia-se Cutrale, Louis Dreyfus e Citrosuco/Citrovita — está levando o ditado a sério ao buscar alternativas para reverter as constantes quedas de consumo da bebida em todo o mundo. Por isso, estuda a criação de um consórcio entre governo, produtores de laranja e processadoras de suco para conceber a primeira marca de suco de laranja brasileiro 100% natural para abastecer o mercado interno.
A ideia é obter no início isenção fiscal para a bebida, que terá preço mais competitivo frente aos néctares de multinacionais, compostos por suco, água e açúcar. “Vai estimular a competitividade do mercado e melhorar a qualidade das bebidas. Quem quiser vender algo natural, vai poder comprar das nossas indústrias”, explica Christian Lohbauer, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos (CitrusBR). Segundo a proposta, seriam necessários investimentos de R$ 20 milhões anuais, por cinco anos, em ações de marketing para fortalecer a marca genuinamente brasileira.
A proposta está em discussão e poderá dar um fôlego para o setor, ao tirar 150 mil toneladas de laranja dos estoques por ano. "Já apresentamos a ideia ao governo, ao BNDES e queremos levá-la aos produtores, que são fundamentais no processo”diz Lohbauer. Segundo o executivo, viabilizar esse diálogo por meio do Consecitrus é fundamental.
É justamente no Consecitrus que está um dos entraves do setor. A entidade, criada no início do ano, nasceu com o intuito de estabelecer o diálogo entre os elos da cadeia ao buscar preços mais equilibrados para a laranja. Mas a Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus) e da Federação de Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp) — acabaram saindo da mesa de negociação antes mesmo da criação do estatuto, por divergências. No mês passado, as entidades entraram com pedido de impugnação do Consecitrus, acatado pelo Conselho de Defesa Econômica (Cade), o que vem protelando as conversas.
Lohbauer explica que isso prejudica principalmente o produtor, que vê sua laranja cair e apodrecer, enquanto ações judiciais atrasam a busca por soluções . “Não conseguimos ter um diálogo com o produtor de laranja brasileiro, que é um solitário. Quem fala por eles são entidades jurássicas, porque o próprio produtor não toma a frente e se representa”, diz.
Segundo Lohbauer, o setor tem problemas muito antigos e o que mais aflige é que a situação não esta melhorando. Para ele, ao tentar bloquear as buscas por soluções, as entidades pioram o cenário. “O resultado será um salve se quem puder. Isso é tão evidente, que chega a ser assustador que o pessoal deixe a coisa como está”, diz.
Se viabilizado, o projeto de construção de uma marca própria deverá amenizar a problemática situação pela qual passa a citricultura brasileira. Segundo Lohbauer, neste ano, 40 milhões de caixas caíram dos pés e foram perdidas, graças às constantes quedas no consumo mundial do suco, somados ao aumento dos estoques da bebida, que já bateram as 600 mil toneladas. “Se nada for feito rápido, no próximo ano, os produtores poderão amargar ainda mais perdas”, alerta .
Em outra frente de combate à crise, um estudo com os 10 países que mais compram o suco brasileiro está identificando as razões pelas quais o consumo da bebida cai. “Já estamos apresentando os primeiros resultados para a indústria e baseados nisso, deveremos criar uma campanha mundial em prol do suco”, explica Lohbauer.
Segundo ele, o intuito é contar com a participação de toda a cadeia produtiva na campanha. Nesse movimento pela recuperação do mercado, Lohbauer considera fundamental trabalhar a imagem da bebida. “É um produto natural, saudável e não essa mistura maluca de sabores e aromas artificiais que colocam no mercado”.
Veículo: Brasil Econômico