Resultado reflete ‘efeito Heineken’ e busca das classes A e B por produtos mais sofisticados
Não é preciso gostar de cerveja — muito menos saber diferenciar uma weissbier alemã de uma witbier belga — para perceber que restaurantes, delicatessens, padarias e supermercados andam cada vez mais repletos de novidades de outras terras. Não é impressão. As importações brasileiras de cerveja saltaram de 11,8 milhões de litros em 2007 para 44,6 milhões no ano passado. Até outubro deste ano, segundo levantamento feito pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio a pedido do GLOBO, já foram 38,5 milhões de litros importados. Mantido o ritmo — e descontando o fato de que, no Brasil, o consumo tem uma alta sazonal nos últimos meses do ano —, o número chegará este ano a algo em torno de 46 milhões de litros.
Dos dez países de origem com mais peso nas importações brasileiras, seis são do continente europeu (Alemanha, Bélgica, Espanha, Holanda, Irlanda e Reino Unido) e quatro, do continente americano (Argentina, Estados Unidos, México e Uruguai). E um dos europeus, em específico, desequilibrou seriamente essa balança comercial a base de água, cevada, lúpulo e leveduras. Quase metade — 46,9%, ou 20,9 milhões de litros — das importações de 2011 veio da Holanda. O salto em relação ao ano anterior, quando a importação era de 3,4 milhões de litros, a gigante holandesa Heineken trocou a distribuição da mexicana Femsa por uma presença efetiva no Brasil, foi de 520,7%.
As importadas ainda são uma gota (cerca de 0,5%) no mar de 12 bilhões de litros de cerveja que flui pelas gargantas do país. O país, apesar da .Por outro lado, o número mostra que o consumo de cervejas importadas no Brasil tem espaço para crescer. Diferentemente da maioria dos outros fenômenos recentes da economia brasileira, neste mercado, o surgimento da chamada nova classe C ainda não teve influência direta significativa. Indiretamente, por outro lado, é a melhora das condições financeiras desta camada, e o fato de seus integrantes terem passado a consumir as marcas-líderes do mercado, como Antarctica, Skol, Brahma, Schincariol, Itaipava e Kaiser, diz Adalberto Viviani, consultor da Concept.
— Nossas pesquisas mostram que o consumidor classe B continua buscando um diferencial, o que abre espaço para as cervejas ditas especiais. A cerveja especial, seja ela a importada ou a nacional artesanal, está muito mais próxima do vinho nesse sentido, de ser uma questão de status — afirma ele.
A maior exposição dos brasileiros ao resto do mundo nos últimos anos, com aumento do número de brasileiro viajando e de estrangeiros vindo para o Brasil é a hipótese da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), que informou que não iria se pronunciar sobre as importações e exportações.
— A tendência mundial hoje em dia, e que estamos começando a ver chegar aqui, é da cerveja gourmet, usada como acompanhamento para diferentes pratos, assim como o vinho, e de ser valorizada por suas características e por substâncias benéficas que pode conter - aponta Viviani.
Preço para o importador cresce 350% só com taxas e impostos
Estudo da Associação de Cervejeiros dos EUA mostra impacto da burocracia e carga tributária
O volume de cervejas importadas no Brasil também poderia ser imensamente maior, na visão da Associação Americana de Cervejeiros (BA, na sigla em inglês). A BA tentou incentivar os cervejeiros americanos a aportarem no país, mas a maioria resistiam. Poucos tentaram. Com um estudo de mercado, comprovaram os motivos apontado por quase todos: o emaranhado de caminhos da burocracia para enviar produtos ao Brasil e o alto custo dos impostos e taxas em cascata.
Segundo o estudo, concluído em outubro de 2009 mas não divulgado pela associação, uma carga de US$ 100 chegaria ao país ao custo de US$ 453, após adicionada de custos de transporte (100%), taxa de importação (20%), IPI (40%), ICMS (variável, mas no caso, usaram como base de cálculo o de São Paulo, de 18%) e PIS-Cofins (14,4%).
Em maio do ano passado, o vice-presidente da associação, Robert Pease, esteve no Brasil acompanhado de representantes de seis cervejarias artesanais de peso nos EUA, incluindo a pioneira Dogfish Head e a popular Sierra Nevada. Na bagagem, traziam uma mala com 70 caixas de long necks. Depois de seis bem-sucedidos eventos de degustação depois, quatro em São Paulo e dois no Rio, nenhuma delas decidiu enviar seus produtos para o Brasil.
Veículo: O Globo - RJ