Consumo e preço em alta impulsionam a Ambev

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Valor de mercado da empresa teve um aumento de 34% desde o fim do ano passado


Nesta semana, pelo menos para o mercado financeiro, cerveja se tornou um bem tão precioso quanto petróleo. A busca pelas ações da Ambev fez a cervejaria ultrapassar na quarta-feira o valor de mercado da Petrobrás, fazendo da companhia de bebidas a maior companhia brasileira.

Ontem e anteontem, porém, a Petrobrás retomou a dianteira. Alcançou no fechamento da semana um total de R$ 254,9 bilhões. Mas a pouca diferença para a Ambev - avaliada ao fim da tarde de ontem em R$ 250,6 bilhões - desperta uma questão: O que faz a Ambev valer tanto?

A escalada do valor de mercado da empresa não se deve apenas à desvalorização da Petrobrás, que sofre com a falta de reajuste nos preços dos combustíveis. Prova disso é a evolução do valor da empresa, que cresceu 34% desde o fim do ano passado, quando era avaliada em R$ 187,5 bilhões. "Há uma série de fatores que faz a Ambev despertar o interesse do investidor", diz Gabriel Vaz de Lima, analista de bebidas e alimentos do Barclays Capital.

O primeiro deles é o próprio mercado de cervejas no Brasil. "A previsão é de uma alta de vendas da ordem de 3% em volume para este ano, o que é muito bom. Estamos vindo de anos de crescimento muito acelerado, como aconteceu em 2010", diz Adalberto Viviani, especialista no mercado de cervejas.

Nesse cenário, a liderança histórica da Ambev, com uma participação que varia entre 65% e 70%, se explica principalmente pela distribuição. A empresa está geograficamente em todo País - o que não acontece com seus concorrentes. Dos aproximadamente 1 milhão de pontos de venda de bebidas em todo território nacional, a Ambev está em 100% deles. A Brasil Kirin (ex-Schincariol) está em 400 mil. Petrópolis e Heineken, embora oficialmente digam ter entre 600 mil e 1 milhão, não têm mais que 400 mil pontos de venda, conforme fontes do mercado. "O consumo de cerveja é maior em algumas regiões que em outras, e a única empresa que tem condições de fechar esse 'gap' é a Ambev", diz Lima.

Gasolina. O preço da cerveja também ajuda a empresa. "A Ambev, diferente da Petrobrás, não tem problemas em repassar a inflação para seus preços", diz Catarina Pedrosa, analista do Banco Espírito Santo. A variação do preço da cerveja no varejo mostra isso. Na cidade de São Paulo, conforme o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe, a cerveja subiu 14,8% este ano entre janeiro e outubro. A gasolina, nesse mesmo intervalo, ficou 1,5% mais barata. Nos últimos 12 meses, a diferença é ainda maior: a cerveja subiu 20,2% e a gasolina caiu 1,2%.

Mesmo custando mais, o brasileiro continua tomando mais cerveja, e a tendência é que esse crescimento se mantenha. "Hoje, cerca de 80% do volume de cerveja produzido no País é consumido pelas classes C, D e E", diz o analista do Barclays. Mas essa camada da população ainda bebe muito pouco, se comparado ao consumo das camadas mais altas. "O consumidor da classe A bebe cinco vezes mais cerveja que o da classe D", afirma Lima.

Com essa perspectiva, a Ambev acaba se tornando atraente para o investidor, que sabe que a companhia é capaz de explorar bem o potencial de mercado. "Não há hoje outra empresa aberta no País que tenha gestão tão afinada quanto a Ambev", diz Lima. "Eles têm um fixação por corte de custos e um sistema de incentivos baseado em entrega de resultados muito eficiente."

Outro fator é o governo. Ao contrário de empresas do setor elétrico, bancário e de telefonia - que têm sido alvo de medidas regulatórias agressivas do governo -, companhias de bens de consumo como a Ambev se beneficiam da política econômica de juros baixos, que libera mais dinheiro no bolso do consumidor.


Veículo: O Estado de S.Paulo


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