Schincariol dá uma guinada em sua trajetória

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Kirin enche o barril

Sob o comando dos japoneses, a Schincariol dá uma guinada em sua trajetória: retoma a vice-liderança e a venda de cerveja cresce 9%. A meta é fechar o balanço no azul.


Quando os japoneses da Kirin desembolsaram R$ 6,2 bilhões para comprar a cervejaria brasileira Schincariol, em novembro do ano passado, eles sabiam que estavam adquirindo uma empresa problemática. Na época, a companhia com sede em Itu, interior de São Paulo, estava envolta em disputas familiares, possuía a imagem arranhada por conta de passivos fiscais e operava com um prejuízo de R$ 78,1 milhões. Para piorar a situação, ela perdera a segunda posição no ranking brasileiro de cervejas para o Grupo Petrópolis, dono das marcas Itaipava e Crystal. Mas com paciência e, principalmente, disciplina oriental, a empresa, comandada por Gino Di Domenico, um executivo paulista de origem italiana, conseguiu virar o jogo e encher os seus barris não apenas com o líquido dourado feito de cevada, malte e lúpulo, mas também com boas notícias.

A começar pelos números. Nos oito primeiros meses deste ano, o Ebtida, índice que mede o ganho antes dos impostos, juros, amortizações e depreciações, atingiu R$ 300 milhões, montante equivalente ao obtido em todo o ano passado. A previsão é fechar 2012 em R$ 550 milhões. “Nosso primeiro desafio foi estabelecer prioridades e o novo foco da empresa”, afirma Di Domenico. “Agora, sabemos o que devemos fazer e principalmente o que não devemos.” A melhora do desempenho operacional é fruto direto da autonomia conquistada pela subsidiária. Nos últimos seis meses, Di Domenico passou envolvido em longas reuniões com interlocutores daqui e de Tóquio para desenhar um plano estratégico para a Schincariol.

Sua missão era simples: gerar retornos imediatos. “Cortamos o portfólio em até 25% em alguns mercados”, diz Di Domenico Com isso, ele privilegiou o gosto dos consumidores locais, apostando em produtos com chance de gerar resultados no curto prazo. Segundo o executivo, a estratégia foi bem-sucedida. Como exemplo citou dois casos: as vendas da marca de combate Glacial dobraram na região Norte, enquanto as da Devassa avançaram 50% no Nordeste. No geral, a venda de cervejas cresceu 9,9% de janeiro a outubro. Outra medida foi lançar uma “loura” específica para o mercado nordestino: a No Grau.

A recuperação vem sendo facilitada também por medidas estruturais adotadas pelo próprio Di Domenico, desde que ingressou na companhia, como diretor de operações, em 2008. “Já reduzimos em 70% as perdas com embalagens, em 40% com cerveja e economizamos, em 20%, o uso de água”, diz o executivo. O trabalho, no entanto, ainda está longe de ser concluído. A companhia quer ampliar no curto prazo sua presença. Hoje, está em 600 mil pontos de venda. O alvo é chegar a um milhão. Além disso, quer melhorar sua situação nas regiões Sul e Sudeste, onde a concorrência com a líder Ambev e a Petropólis é mais acirrada. Apesar disso, a situação da companhia hoje é outra aos olhos da matriz.

Basta olhar o próprio balanço internacional da Kirin. O Brasil e as nações emergentes surgem como a tábua de salvação para romper o ciclo de estagnação da economia japonesa, o principal mercado da Kirin. Nos três primeiros trimestres de 2012, a receita da divisão internacional da Kirin avançou 22,36%, comparado ao mesmo período do ano passado. No mercado doméstico, contudo, foi registrada uma queda de 1,94%. Levando-se em conta a receita bruta de R$ 6,1 bilhões da Schincariol, em 2011, o País representa 5% das vendas globais da Kirin. Para mostrar sua face global, a Schincariol também mudou sua assinatura institucional. A partir de agora, ela quer ser conhecida como Brasil Kirin. “Somos uma empresa globalizada com DNA brasileiro”, diz Di Domenico.

Para os analistas, a alteração da assinatura para a Kirin Brasil tem como objetivo romper com o passado e deixar claro tanto para os funcionários e parceiros quanto para o mercado que a Schincariol está, de fato, sob nova direção. “O nome remetia a apenas um dos produtos do portfólio”, afirma o consultor Adalberto Viviani, sócio da consultoria paulista Concept Consultoria, especializada em bebidas e alimentos. “Agora, eles querem mostrar que produzem muitas outras bebidas além de Schincariol.” Di Domenico promete para 2013 a inclusão de novos rótulos no portfólio vendido no Brasil. Antes disso, ele pretende concluir o dever de casa, usando a carta branca dada pelos japoneses. “Com isso, podemos tomar decisões de forma mais rápida,” afirma Di Domenico.

 

Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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