Novos ingredientes e processos produtivos poderão ser incorporados ao leque de possibilidades para a fabricação de cerveja no Brasil, dando competitividade ao setor nacional diante da entrada das importadas. A revisão das exigências legais para a produção será tema de debate amanhã e na quarta-feira, no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em Brasília. A mudança pode favorecer a expansão de nano e microcervejarias, cuja produção versátil encontra barreiras na rigidez da legislação atual. Já os grandes fabricantes estarão de olho no debate sobre a exigência mínima de cevada na composição da bebida.
"O setor artesanal brasileiro perde possibilidades de se expandir e de criar uma cultura cervejeira, por causa de uma legislação que é defasada em relação ao que existe em termos de variedades de cervejas e processos produtivos no mundo", avalia o presidente da Associação de Cervejeiros Artesanais de Minas Gerias (Acerva Mineira), Humberto Mendes.
A Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) estima que existam cerca de 200 microcervejarias no Brasil, concentradas no Sul e Sudeste, representando 0,15% do setor cervejeiro nacional - que em 2012 produziu 13,7 bilhões de litros. "Este segmento deve atingir 2% do mercado em dez anos", prevê o presidente da Abrabe, José Augusto da Silva, que credita o avanço à busca dos consumidores por satisfação sensorial e ao aumento de renda do brasileiro. "O crescimento depende de mudanças nos hábitos de consumo, algo que ocorre de forma lenta e gradual", pondera.
Dentre as mudanças em pauta em Brasília, estarão, por exemplo, a possibilidade de utilizar produtos de origem animal, como leite, mel, chocolate, entre outros. Ingredientes como frutas, ervas, vegetais e flores também poderão ser autorizados no processo de elaboração. "Hoje são importadas cervejas com características que a nossa legislação [para produção] não permite, então a mudança vai dar competitividade à indústria nacional", diz o coordenador-geral de vinhos e bebidas do Mapa, Álvaro Viana.
Embora sirvam de estímulo à inovação, as cervejas importadas nem de longe representam uma ameaça ao setor nacional. "O mercado premium é 4% a 5% do total brasileiro. Hoje, o volume de importadas é 0,9% do total, há um ano atrás, era 0,8%", afirmou o diretor da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), Paulo Macedo, em coletiva realizada em dezembro de 2012. "Está crescendo, mas ainda é muito baixo. O grande volume é das especiais brasileiras, até porque as grandes cervejarias começaram a produzir suas marcas internacionais localmente", disse.
Mas não só as pequenas deverão ser beneficiadas por mudanças na Instrução Normativa - IN n. 54/2001, que implementa o Regulamento Técnico Mercosul sobre produtos de Cervejaria (Resolução GMC n. 14/2001). Entre as questões em pauta estará a manutenção da cevada como ingrediente obrigatório e a alteração de seu limite de utilização. O tema é de forte interesse para a grande indústria, condicionada por lei a um limite mínimo de 55% de cevada na composição da cerveja. Com 60% de seus insumos hoje importados, segundo a CervBrasil, as grandes cervejarias têm como prioridade a nacionalização de matérias-primas.
Veículo: DCI