Empresa, dona da segunda marca de cachaça mais vendida do País, já teria recebido algumas sondagens, mas nenhuma oferta foi levada adiante; dívida tributária de cerca de R$ 500 milhões, em discussão na Justiça, pode ser empecilho a um acordo
A família Tavares de Almeida, controladora da Indústria Reunidas de Bebidas Tatuzinho Três Fazendas (IRB), que fabrica a cachaça Velho Barreiro, negocia a venda da companhia. Segundo fontes, algumas empresas já demonstraram interesse na aquisição, incluindo uma multinacional de bebidas, mas as ofertas não foram adiante.
Um dos principais empecilhos para o negócio seria a dívida tributária da companhia, calculada em cerca de R$ 500 milhões em impostos estaduais e federais. Segundo Manuel Rodrigues Tavares de Almeida Filho, presidente do Grupo Tavares de Almeida (que reúne os negócios da família), esses tributos estão sendo contestados na Justiça.
A venda da Tatuzinho seria uma forma de os Tavares de Almeida, que detêm 52% da fabricante de cachaça, sanar dívidas de outra companhia da família, conforme pessoas próximas.
Em nota, o grupo disse que frequentemente é procurado por "investidores internacionais com o objetivo de conhecer melhor o segmento de cachaça no Brasil. Esse interesse se deve ao crescimento do setor de cachaça no Brasil e no mundo". Mas salientou que a "IRB não está à venda e que atualmente não recebeu nenhuma proposta concreta de compra da empresa."
Segundo fontes, a multinacional Pernod Ricard teria interesse na companhia. Mas, procurado, o grupo negou que esteja em negociações. O Tavares de Almeida também afirmou não ter recebido nenhuma proposta concreta da Pernod Ricard.
Álcool. Os Tavares de Almeida são donos da usina de álcool Agro Indústria Vista Alegre e de outros projetos sucroalcooleiros de cogeração de energia, todos com sede em Itapetininga, no interior de São Paulo. Em 2008, a família decidiu investir R$ 300 milhões em um projeto de cogeração de energia para o Grupo Rede (empresa que controlava nove distribuidoras de energia em vários Estados).
Atolado em dívidas que somam mais de R$ 5 bilhões, o Grupo Rede entrou em recuperação judicial e foi vendido por R$ 1 para a CPFL Energia e Equatorial Energia. Com isso, a dívida dos Tavares de Almeida teria se complicado e a família teria tomado a decisão de vender ativos. O grupo afirma, no entanto, que "a dívida financeira existente versus os investimento efetivados, são absolutamente normais".
A IRB tem 104 anos de fundação e o posto de segunda marca de cachaça mais vendida no País, com a aguardente Velho Barreiro. A companhia é a junção de duas cachaçarias, a Tatuzinho e a Três Fazendas, compradas pelo comendador Manuel Rodrigues Tavares de Almeida (pai de Manuel Rodrigues Tavares de Almeida Filho) em 1969. A empresa responde por 20% das vendas de cachaça no País e fatura creca de 190 milhões.
Especialistas no setor de bebidas garantem que a venda da fabricante da Velho Barreiro não será uma tarefa fácil, embora haja interesse crescente de multinacionais nesse segmento - principalmente depois de a britânica Diageo ter comprado, em maio do ano passado, a cearense Ypióca por US$ 469 milhões. O reconhecimento da cachaça como bebida genuinamente brasileira pelos Estados Unidos, no mês passado, também aumenta o interesse de companhias pelo setor. Mas as dívidas tributárias da Tatuzinho complicam as chances de o negócio ser fechado rapidamente.
Outro problema são os sócios minoritários da empresa. Dos 48% de ações que não são da família Tavares de Almeida, boa parte está "em tesouraria", desde que, em 2006, a Zwecker Empreendimentos, que detinha 38% das ações, deixou a sociedade. A Zwecker processa a Velho Barreiro pelo suposto desvio de R$ 204 milhões da empresa. Por duas vezes, porém, a acusação da Zwecker teve sentença desfavorável na Justiça.
Veículo: O Estado de S.Paulo