Confiança na Ambev reverte queda na bolsa

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A confiança na fama de que os executivos da Ambev são capazes de entregar bons resultados e superar desafios em ambientes adversos foi mais do que suficiente para contrabalançar os resultados desapontadores registrados pela companhia no primeiro trimestre e divulgados na terça-feira.

Embora o lucro líquido tenha somado R$ 2,34 bilhões em apenas três meses (com alta de 1,3% na comparação anual) e a geração de caixa tenha se mantido forte, o balanço foi uma coleção de más notícias quando se leva em conta sua composição e também as expectativas existentes.

O volume de vendas de cerveja no Brasil, seu principal país de atuação, caiu 8,2% no primeiro trimestre ante igual período do ano anterior, o que levou à perda participação de mercado de 69% para 68,1%. Isso que significa que, para as concorrentes, o recuo nas vendas foi de 4,3% no mesmo período, com baixa de 7% para o mercado como um todo.

Além disso, as margens bruta e operacional diminuíram na comparação anual, houve uma baixa contábil de R$ 28 milhões de um investimento na Venezuela e, se não fosse um efeito extraordinário ligado a incentivos fiscais reconhecidos como receita e uma alíquota efetiva de imposto menor, o lucro líquido também teria caído.

E embora os analistas de mercado já previssem um início de ano não tão bom para a fabricante de bebidas, os dados divulgados na terça-feira foram piores do que o esperado. Sustentada por preço, a receita líquida teve alta de 7,4%, para R$ 7,77 bilhões, enquanto o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) avançou 6,6%, para R$ 3,59 bilhões. A expectativa média das projeções de Bank of America Merril Lynch (BofA), Goldman Sachs, Citibank e Banco Espírito Santo indicava crescimento de 13% para a receita e Ebitda 12,5% maior.

Ainda assim, depois de iniciarem a terça-feira com desvalorização, as ações preferenciais e ordinárias da Ambev se recuperaram, após a teleconferência com analistas, e fecharam o pregão com alta superior a 5%, devolvendo à companhia, ao menos momentaneamente, o posto de maior empresa do país por valor de mercado. Foi uma evidência clara de que a prática de relações com investidores, quando bem executada, tem potencial para guiar o mercado.

É verdade que a valorização de terça corrigiu um movimento de baixa de 7,8% acumulada no ano até segunda e de mais de 15% desde o pico histórico da ação, alcançado em 31 de janeiro. Mas não é nada desprezível para um dia, a princípio, de más notícias.

Em teleconferência com analistas, o presidente da companhia, João Castro Neves, mostrou confiança em sua equipe e lembrou que os anos de 2011 e 2012 também começaram difíceis e, ainda assim, a empresa conseguiu entregar bons resultados. E garantiu que espera reeditar o mesmo roteiro em 2013, embora tenha admitido que neste ano a queda de volume tenha sido ainda mais relevante.

Castro Neves foi transparente com os investidores a respeito da surpresa da companhia com as condições adversas de mercado. "Foi mais desafiador do que esperávamos", afirmou o executivo, ao se referir à combinação de fatores negativos para o negócio, como inflação de alimentos elevada, Carnaval mais cedo, clima ruim e crescimento menor da renda do brasileiro.

Analistas e investidores perguntaram de diferentes maneiras se a empresa vai conseguir repetir a estratégia dos últimos anos, de compensar, via preço e redução de despesas, o desempenho abaixo do esperado em termos de volume.

E a resposta de Castro Neves foi de que a administração reviu parte do planejamento para o ano e que será possível entregar estimativas revisadas apresentadas aos acionistas. A empresa projeta que o volume de venda de cervejas vai cair neste ano (ante previsão anterior de alta de 3%), mas que a queda será de um dígito baixo, e não tão forte quanto os 8% do primeiro trimestre. Além disso, está mantida a previsão de aumento de um dígito alto para a receita por hectolitro - em ritmo menor que os 13,6% vistos de janeiro a março -, principalmente pelo "carregamento" do reajuste de preços feito no ano passado. Já os custos por hectolitro devem subir em linha com a receita, ou um pouco mais, o que pode comprometer levemente a margem bruta.

Em termos de despesas gerais e administrativas, a ordem é garantir um avanço inferior ao da inflação, o que permitiria o crescimento do resultado operacional.

Em termos de preços, a Ambev diz que não pretende fazer novos aumentos acima da inflação - a não ser que haja alta de impostos. Mas conta com a mudança do mix de produtos (com peso maior de cervejas premium, cujas vendas seguem aumentando) e no uso de embalagens diferentes, inclusive as retornáveis, para conseguir melhorar o ganho por hectolitro.

Em relação ao curto prazo, a empresa disse que os volumes de abril já mostram recuperação ante março e que espera que a realização da Copa das Confederações, na segunda metade de junho, contribua para melhorar as vendas.

Quanto ao longo prazo, Castro Neves reafirmou sua confiança nas tendências que fazem do Brasil um bom lugar para se investir em cerveja, com população jovem e crescendo e com o governo tomando medidas para estimular a economia, elevar a renda e controlar a inflação.

O discurso de confiança, apesar do reconhecimento das adversidades, aparentemente convenceu o mercado, o que pôde ser visto no desempenho das ações da companhia. O histórico de entrega de bons resultados talvez explique o voto de confiança depositado pelos investidores. Mas a cobrança certamente virá nos próximos trimestres.



Veículo: Valor Econômico


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