Classe C passa a consumir bebidas mais caras

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Uma questão de status

Classe C, com renda disponível, passa a consumir bebidas mais caras e desperta o interesse de marcas como a Pernod Ricard, que lança em junho uma nova embalagem de uísque ao preço de R$ 29,90

A nova classe C não quer só bebida, ela quer status. A entrada no mercado de consumo a partir da renda não se resume apenas ao preço que se pode pagar por um produto. No caso das bebidas, algumas empresas já perceberam a migração da nova classe média para itens de maior valor. Fabricantes de uísque, cervejas especiais, vinhos e espumantes ganharam um consumidor exigente e interessado em novidades. A compra de bebidas mais caras é sinal de ascensão,principalmente fora de casa. Se bebida combina com celebração, é em bares, festas e baladas que itens de maior valor agregado demonstram uma mudança de patamar.

Marco Quintarelli, consultor de varejo do Grupo AZO, afirma que o aumento no consumo de bebidas mais caras ou de categoria premium tem muita ligação com os jovens da classe C. E é no momento da diversão que são experimentados e desejados. A partir daí, diz ele, são apresentados a toda a família.

“De maneira geral, a classe C está consumindo produtos mais caros e isso é um reflexo do aumento do poder aquisitivo. O jovem é mais receptivo e atento a tudo isso e acaba sendo o alvo das marcas”.

Renato Meireles, sócio diretor do Instituto Data Popular, corrobora a afirmação de Quintarelli. Para ele, a classe C, por conta do aumento do poder aquisitivo, está se divertindo mais e com mais dinheiro no bolso, quer ter acesso a novas experiências de consumo.

“O consumo de destilados aumentou bastante e o de cervejas premium também. Tanto assim que dentro de comunidades já estão sendo instaladas distribuidoras de bebidas com maior valor agregado”, diz Meireles. O Data Popular, ainda não tem dados fechados sobre o aumento de bebidas premium pela classe C.

Diego Bertolini, gerente de Marketing do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) afirma que o mercado de vinhos finos vem crescendo, em detrimento dos vinhos de garrafão.

“São vinhos na faixa dos R$ 15, R$ 20. Marcas como Salton e Almadén, entre outras, passaram a fazer parte da lista de compras do consumidor da classe C, em detrimento dos vinhos de garrafão e dos vinhos granel,que estão na faixa dos R$ 4 a R$ 5 o litro.Não há ainda um corte específico de consumo mas percebemos que já há mais saída do vinho fino engarrafado e a indústria está se aprimorando para dar conta da demanda isso” afirma ele, destacando que o mesmo caminho tem sido feito no caso dos espumantes nacionais.O consumo passou de 13,2 milhões de litros em 2011 para 15 milhões de litros em 2012. “Isso também tem ligação com o maior consumo de espumantes pela classe C”, garante ele.

De olho nesse mercado, a fabricante de bebidas Pernod Ricard, lança, em junho,uma nova embalagem do uísque Passport, na versão 670ml. A iniciativa foi tomada pela equipe de marketing local, que acredita que dessa forma o uísque engarrafado terá maior facilidade de compra junto aos consumidores da classe C. O Brasil é o principal mercado de Passport no mundo, com quase um terço de todas as vendas mundiais.

A nova embalagem será distribuída no varejo da região Sul do país e em São Paulo, a R$ 29,90.

“Sabemos do potencial de consumo da classe C, que cada vez mais exige das marcas produtos de alta qualidade e de maior valor agregado, a um preço acessível. Foi pensando nisso que desenvolvemos a embalagem de Passport no tamanho 670ml. A expectativa é ultrapassar o market share, que hoje é de 17,7% , ampliando nossa distribuição em lojas menores”, diz Patrícia Cardoso,Grouper da marca Passport no Brasil.

Cesar Chacon, diretor comercial da Amazon Beer, cerveja artesanal produzida na Amazônia e que vem ampliando sua distribuição no mercado nacional, também percebe uma maior procura de consumidores da classe C aos produtos da marca.

“Percebemos o crescimento do poder de compra da classe C em nossos produtos. Nossas vendas são em bares e lojas virtuais, ao preço médio de R$ 12”.

Paulo Bettiol, gerente de outra marca de cerveja artesanal, a Dama Bier, de Piracicaba, interior de São Paulo, aposta em novas embalagens para chamar a atenção do consumidor da classe C. A linha de cervejas é vendida em supermercados e acaba de chegar ao mercado carioca.

“A classe C responde por 10% do nosso faturamento e a média de preços de nossos produtos varia de R$ 9 até R$ 12”, diz.

Apesar de toda a força de consumo, o professor Silvio Passarelli, diretor do programa de Gestão do Luxo da FAAP, diz que,mesmo com nova classe média tendo renda pessoal disponível para produtos mais caros, é preciso que esse movimento seja sustentável.

“Estamos ensaiando os passos de uma mudança de estrutura na renda. A bolha de demanda é um fator conjuntural e não estrutural e os objetos de desejo ainda seguem essa demanda.”, alerta.



Veículo: Brasil Econômico


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