Consumo de suco de laranja caiu 5% em 2012

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Tendência inabalável desde o início da década passada, a queda do consumo global de suco de laranja se aprofundou em 2012, conforme estudo recém-concluído pelo Centro de Pesquisa e Projetos em Marketing e Estratégia (Markestrat) a partir de dados da multinacional sueca de embalagens Tetra Pak e da consultoria Euromonitor.

Coordenada por Marcos Fava Neves, professor titular da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, o levantamento, encomendado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Sucos Cítricos (CitrusBR), mostra que a retração no conjunto nos 40 principais países consumidores da commodity foi de 4,7% em relação a 2011, para 2,127 milhões de toneladas.

As grandes exportadoras de suco brasileiro (Cutrale, Citrosuco /Citrovita e Louis Dreyfus Commodities) sabiam que a tendência de queda não tinha sido interrompida e sentiram seus reflexos nas exportações de 2012. Mas o tamanho da redução surpreendeu.

Foi o maior recuo anual desde o início da série, em 2003. De lá até 2012, o consumo total de suco de laranja nos mercados pesquisados só cresceu em 2009 (1%), e a retração na década chegou a 12,3%. Nos países da América do Norte, a baixa acumulada chegou a 27%; na Europa, principal destino das exportações brasileiras, atingiu 11%.

Como os dados deixam claro, o movimento de retração da demanda teve início antes da crise financeira global aprofundada pela quebra do banco americano Lehman Brothers, em setembro de 2008. Está ligado sobretudo à proliferação de bebidas concorrentes mais baratas que o suco de laranja integral, como refrescos e néctares de diferentes sabores - e, nesse contexto, a crise travou qualquer reação. Para as empresas, o alento é que muitos desses refrescos e néctares também incluem suco de laranja em sua composição.

Ainda que, nesses casos, os percentuais de suco de laranja nas fórmulas sejam menores que o da bebida 100%, exportada pelo Brasil em sua forma concentrada e congelada (FCOJ, na sigla em inglês) ou pronta para beber (NFC), a demanda associada a elas limita as retrações do consumo da commodity.

Nesse sentido, diz Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR, as indústrias exportadoras receberam com otimismo os últimos dados sobre a China. O estudo do Markestrat aponta que, apesar de uma baixa na comparação com 2011 (1,9%), o consumo chinês de refrescos em geral em 2012 foi de 13,549 bilhões de litros, 4,4 vezes superior ao de 2003. O consumo de refrescos "sabor laranja" superou 5 bilhões de litros.

No caso dos néctares e dos sucos 100% de variados sabores, que são mais caros que os refrescos, o consumo na China ainda é mais "modesto". Em 2012, foram 317 milhões de litros de néctares (175 milhões de sabor laranja) e 414 milhões de litros de sucos 100% (199 milhões de laranja). Nas estatísticas de sucos 100%, néctares e refrescos há a categoria "multifrutas", onde o sabor laranja também tem participação.

Nos 40 países que compõem o estudo do Markestrat, o consumo total de sucos 100% atingiu 71,152 bilhões de litros (19,045 bilhões de laranja) em 2012; o de néctares, 11,398 bilhões de litros (1,812 bilhão de sabor laranja) e o de refrescos em geral, 40,709 bilhões de litros (11,508 bilhões litros com laranja incluída).

Nos EUA, o consumo de refrescos em geral é inferior ao da China - foram 7,081 bilhões de litros em 2012, 1,593 bilhão com "algo" de laranja -, mas o total de néctares é maior (975 milhões de litros, 47 milhões de laranja) e o de sucos 100%, o maior do mundo, deixa o volume do país asiático "no chinelo" (5,802 bilhões de litros, 3,191 bilhões de laranja).

Daí porque o tombo do consumo americano de suco de laranja em todos os seus usos puxou a queda de 4,7% verificada no resultado consolidado dos 40 principais mercados da commodity em 2012. No ano, a retração nos EUA foi de 11% sobre 2011, para 708 mil toneladas. De 2003 a 2012, a baixa chegou a 29%.

Conforme pondera Ibiapaba Netto, ainda que a tendência de recuo do consumo nos EUA na última década seja das mais agudas, a curva se tornou mais acentuada em 2012 por causa da crise do carbendazim, no primeiro semestre.

Proibido no país, o uso do fungicida foi identificado em cargas importadas do Brasil, motivou travas às exportações brasileiras e provocou discussões que envolveram as grandes empresas de refrigerantes e temporariamente afugentaram os consumidores também por temores fitossanitários.

Entre outras reduções de consumo observadas em 2012, a CitrusBR se mostrou particularmente preocupada com a da Alemanha, o segundo maior consumidor do mundo, atrás dos EUA. Apesar de a Alemanha estar em melhor situação financeira do que outros países da Europa, o volume caiu 8% em relação a 2011, para 170 mil toneladas.

De 2003 a 2012, a retração chegou a 34%. A baixa se acentuou no segundo semestre do ano passado, quando problemas climáticos na Flórida e a proliferação do greening nos pomares do Estado provocaram a alta dos preços do suco no mercado internacional.


Brasil sentiu o baque, mas embarque reage

  
Maior do que a prevista pelas indústrias, a queda de quase 5% do consumo global de suco de laranja em 2012 pesou sobre o volume das exportações brasileiras da commodity, que foi o menor desde 1995. Graças sobretudo a uma valorização das cotações no primeiro semestre do ano passado, influenciada por ameaças à produção da Flórida, a receita dos embarques do Brasil sentiu um pouco menos o baque, mas também recuou.

O cenário melhorou no primeiro semestre deste ano, mas não foi capaz de animar as grandes empresas (Cutrale, Citrosuco/Citrovita e Louis Dreyfus Commodities) que exportam suco brasileiro, já que os estoques são elevados, ou de melhorar a remuneração dos produtores de laranja. Muitos deles continuam inclusive a fugir da atividade em São Paulo e no Triângulo Mineiro, onde a maior parte das frutas destinadas à fabricação de suco é cultivada.

Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Sucos Cítricos (CitrusBR), as exportações brasileiras de suco de laranja somaram 1,097 milhão de toneladas e renderam US$ 2,276 bilhões em 2012 - quedas de 5% e 4,2% em relação a 2011, respectivamente. De janeiro a maio deste ano, com uma expressiva recuperação das vendas aos EUA depois que a crise provocada pela descoberta de traços do fungicida carbendazim em cargas de suco oriundas do Brasil gerou barreiras ao país em 2012, foram 523,7 mil toneladas (US$ 999,9 milhões).

Sob a pressão da queda do consumo global, na bolsa de Nova York os contratos futuros de segunda posição de entrega atingiram, em 2012, uma cotação média anual 20% inferior à de 2011. Com adversidades climáticas e fitossanitárias na Flórida, que abriga o segundo maior parque citrícola do planeta, menor apenas que o paulista, no segundo trimestre de 2012 a cotação média foi 5,9% superior à média do ano passado, mas houve queda nas últimas semanas. Trata-se de um patamar 35% mais baixo que o do pico histórico alcançado em dezembro de 2006, mas quase 120% superior às mínimas do primeiro semestre de 2004. Ou seja, não é um nível desprezível.

Para os produtores de laranja, talvez o maior problema não seja o preço do suco, mas seus estoques. No mercado spot, a caixa de 40,8 quilos da laranja destinada às indústrias está abaixo de R$ 6, menos que os custos de produção. E se o governo federal não renovar as medidas de incentivo que desde 2011 ajudaram a enxugar a oferta de suco - promovendo a formação de estoques - e a complementar os preços recebidos pelos citricultores, será quase impossível chegar aos cerca de R$ 10 de parte da temporada 2012/13.

"Sem medidas do governo para dar suporte aos preços, os produtores terão problemas mesmo com a produção menor [em 2013/14, que está em fase de colheita", diz Marco Antonio dos Santos, que preside o Sindicato Rural de Taquaritinga e a Câmara Setorial da Citricultura, que reúne governo, indústrias e produtores em Brasília periodicamente. Santos considera que em São Paulo e no Triângulo Mineiro o volume de produção de laranja deverá ficar próximo do previsto pela CitrusBR - 268 milhões de caixas, ante as 385 milhões estimadas em 2012/13.

Mas, como já informou a entidade das indústrias, os estoques de suco brasileiro armazenados no país e no exterior, que alcançaram 1,1 milhão de toneladas em 31 de dezembro - equivalente a um ano de vendas -, ainda são de cerca de 700 mil toneladas, volume suficiente para evitar uma correria das empresas exportadoras às compras. Santos lembra que, conforme as negociações de apoio aos preços dos últimos anos, os citricultores ganharão um prêmio sobre os resultados das exportações de suco. Esse prêmio deverá chegar a R$ 1 por caixa, mas o valor referente às vendas atuais só será pago a partir de janeiro de 2014. (FL)



Veículo: Valor Econômico


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