Agroindústria pretende adiar medida .
Brasília - O aumento de 30% para 50% do teor de suco nos néctares de laranja e uva, que deveria entrar em vigor em fevereiro deste ano e foi adiado para agosto, colocou em campos apostos produtores e indústrias. Enquanto o setor produtivo não quer mais adiamentos, a indústria pede mais tempo para se adequar às novas normas. O assunto está sendo mediado pelo Ministério da Agricultura, que nesta semana realizou audiência pública reunindo os diversos segmentos da cadeia, desde a produção até o varejo, para discutir o assunto.
No encontro desta semana ficou acertado que a mistura passaria a 40% de suco em 18 meses e para 50% em 30 meses, mas o acordo é contestado pelo presidente da Câmara Setorial de Citricultura, vinculada ao Ministério da Agricultura, Marco Antonio dos Santos Ele argumenta que a dilatação do prazo não atende aos interesses dos citricultores. O crescimento da demanda viria em boa hora para o setor, que ainda passa por momentos difíceis devido à redução das compras da indústria, que tem altos estoques de suco de laranja.
O clima é de suspense porque Marco Antonio, que também preside o Sindicato Rural de Taquaritinga (SP), não estava em Brasília na terça-feira passada, o segundo dia da audiência, quando os representantes de produtores, indústrias de suco e fabricantes de néctares concordaram com o prazo de até 30 meses para chegar a 50% da mistura. Agora, o dirigente sindical contesta e pede ao governo que reabra as discussões para que o prazo seja encurtado Ele lembra que, devido aos adiamentos, as indústrias já tiveram 11 meses para se adaptar às normas.
Para os fabricantes de néctares, ao realizar a audiência pública o governo está conduzindo a questão como deveria ter feito em agosto do ano passado, quando decidiu elevar o teor de suco de laranja e uva nos néctares atendendo às pressões dos agricultores, diante de uma situação de oferta abundante de matéria-prima. Hoje, os próprios técnicos do governo reconhecem que a medida foi "ortodoxa" e que faltou consulta ao setor para avaliar o impacto da medida.
Testes - O consultor da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir), que representa os fabricantes de néctares, Igor Castro, observa que alteração no padrão de "produtos consagrados" requer um tempo de adequação das empresas. Castro argumenta que as indústrias precisam reavaliar suas formulações e realizar testes com consumidores sobre os "novos produtos".
Outras questões devem ser levadas em conta, como o prazo para consumo e as possíveis alterações de sabor ao longo do tempo pelo fato de ser mais concentrado. Ele cita como fator que limita a adequação rápida o fato de o registro no próprio Ministério da Agricultura levar mais de seis meses para ser obtido.
Castro afirma que, apesar dos contratempos e na perspectiva de aumento do custo, a indústria não é contrária ao aumento da mistura, pois reconhece a importância para a produção agrícola. Ele lembra que o Brasil é um dos poucos países no mundo em que os refrigerantes à base de frutas desde o início dos anos 1970 têm obrigatoriamente teor de 10% de suco natural, enquanto em muitos países o produto é 100% artificial.
Na avaliação do consultor, o aumento do teor de suco nos néctares pode ter impacto no perfil de consumo, pois 33% dos consumidores são das classes A e B, e os outros 67% das classes C, D e E. Ele acredita que um possível aumento no preço final do produto levará os consumidores menos abastados a migrar para produtos mais baratos, como as bebidas mistas (refrescos) que têm 10% de suco natural ou mesmo refresco em pó, que tem apenas 1% de fruta.
No ano passado o mercado de néctares movimentou 700 milhões de litros e o equivalente a R$ 3,5 bilhões. A marca Del Valle, da Coca Cola, detém 60% do mercado. O principal néctar consumido é o de uva (23%), seguido de laranja e pêssego, ambos com participação de 18% do mercado.
Light - Depois de resolver a questão do prazo para aumento da mistura, o governo terá outro desafio pela frente, que é a questão dos néctares de baixa caloria. O desafio será aumentar o teor de suco natural e garantir que o produtor possa continuar sendo rotulado com o light. O teor de outros sucos se mantém inalterado: abacaxi (40%), acerola (20%), cajá (25%), goiaba (35%), graviola (25%), manga (40%), mamão (25%), pêssego (40%) e maracujá (10%).
Veículo: Diário do Comércio - MG