Produção caiuem maio, derrubando as teorias de recuperação neste início de ano
A produção industrial caiu 2,0% de abril para maio, corroendo boa parte do avanço acumulado nos dois meses anteriores, de 2,6%. Com a queda, foram por terra também as avaliações otimistas de governo e mercado de que o setor vive um período de recuperação neste ano.
O resultado de maio reverteu uma sequência de altas (exceto em fevereiro), ao revelar um cenário de taxas negativas generalizadas, em 20 dos 27 ramos pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A retração só não foi maior por causa, principalmente, da atividade de bebidas, que passou a ajustar os seus estoques e a produzir em conformidade com a demanda do mercado.
Na contramão de toda indústria, esse segmento cresceu expressivamente, 4,8%, escapando dos efeitos da inflação sobre o consumo que marcou o desempenho das demais atividades. A explicação está no ajuste do estoque. Nos períodos de baixa, como no fim de 2012, os fabricantes de cerveja, chope e refrigerante ligaram as máquinas até que os estoques estivessem repostos. E, nos momentos de saturação, reduziram o ritmo, explicou o assessor econômico do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Júlio Gomes de Almeida.
“O setor de bebidas sofreu com a inflação no começo do ano e uma alta da produção mostra a estabilização desse processo de alta de preços.É um desequilíbrio típico de um ciclo de ajustes de estoques”, diz o economista, salientando, porém, que o resultado de bebidas não chega a sinalizar uma tendência válida para todo setor industrial.
O desempenho da atividade pode ser pontual e não deve, em apenas um indicador, ser interpretado também como um indicativo de expansão do segmento no restante do ano, complementa o coordenador da gerência de Indústria do IBGE, André Macedo.
Em geral, o retrato da indústria em maio é de formação de estoque, após dois meses seguidos de produção crescente descolada da capacidade de consumo da população. A inflação teve efeito direto sobre ramos que, em meses anteriores, demonstravam otimismo e elevavam a produção.
O grupo de alimentos liderou as quedas, com taxa de -1,1%, após crescer 4,3% em abril. A segunda principal influência negativa partiu de máquinas e equipamentos (-5,0%), por conta de bens de capital, eletrodomésticos da “linha branca” e caminhões. Mesmo o segmento de veículos automotores, que ensaiavam recuperação, tendo avançado 7,8% em abril, em maio registrou a terceira pior contribuição no resultado da indústria, com queda de 2,9%.
“A inflação é uma variável a ser considerada na análise de toda indústria, porque inibe o consumo como um todo”, destacou Macedo, apontando a atividade produtora de alimentos como umas das mais prejudicadas pelas altas de preços. Ele aponta ainda o endividamento das famílias e a inadimplência como fatores que prejudicam a demanda e que podem ajudar a explicar, juntamente com a elevação dos preços, o desempenho ruim de máquinas e equipamentos e de veículos.
A produção de bens de capital foi influenciada também pela queda da produção de eletrodomésticos da linha branca, cuja alíquota de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) está em ascensão desde o fim do ano passado, o que pode comprometer a retomada das vendas e, consequentemente, da produção daqui para frente.
Em maio, a produção de linha branca caiu 9,7% e, no acumulado com abril, caiu 0,5%,comparado a igual período do ano anterior. O cenário é diferente daquele desenhado no fim do ano passado. No quarto trimestre de 2012, o segmento avançou 11,4%.
No início deste ano, o destaque foram os eletrodomésticos da linha marrom, que, ao contrário do período de outubro a dezembro, quando acumularam queda de 1,6%, em abril e maio avançaram 6,4% e em maio ficou estável.
Já o segmento de outros eletrodomésticos apresentou alta de produção de 25,2% em abril e maio, e, em maio particularmente, cresceu ainda mais, 30,8%; enquanto no quarto trimestre de 2012, estava em queda de 6,5%.
Indústria deve seguir errática pelo segundo semestre
Na média, a indústria está crescendo 0,2% ao mês, em 2013, o que aponta uma expansão de 2,5% no fechamento do ano, calcula Almeida, do Iedi.A perspectiva, em sua avaliação, é que o movimento errático, ora de alta, ora de baixa, permaneça por alguns meses. Esse quadro, no entanto, não deve comprometer a tendência de recuperação. A grande incerteza, analisa Almeida, é se a retomada irá recolocar o país no mesmo patamar de 2011, “pois os alicerces são frágeis”, afirma. A indústria convive, atualmente, comum cenário de incerteza, diz Almeida.
Em maio, a indústria posicionou- se 1,0% acima do patamar do fechamento de 2012, porém 3,8%abaixo do ponto mais alto da série histórica (iniciada em janeiro de 1991), de maio de 2011.
A produção de bens de capital, inclusive caminhões, que teve forte influência sobre o crescimento da produção industrial brasileira em abril, voltou a cair em maio.No caso de bens de capital, cujo desempenho no mês anterior foi visto como uma indicação de retomada do crescimento, a queda em maio foi de 3,5%, em comparação com o mês anterior. Surpreendeu também a produção de veículos automotores, com queda de 2,9%.
Na comparação com igual mês de 2012, os dois segmentos ainda apresentam alta: 12,5%, no caso de bens de capital, e 11,7%,na produção de veículos automotores.
O gerente da Coordenação da Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), André Macedo lembra que bens de capital, veículos automotores e refino de petróleo sustentaram o crescimento de 1,4% da indústria em maio, na comparação com igual mês de 2012. “O fato de ser um crescimento puxado por poucos setores, é um limitador do crescimento”, ressalta Macedo.
Bens de capital e automóveis foram beneficiados por programas de incentivo do governo, com financiamento facilitado e desoneração de impostos.No caso do refino, o crescimento reflete a safra agrícola recorde, seja porque o transporte de grãos exigiu mais óleo diesel, seja porque a boa colheita da cana-de-açúcar e conseqüente aumento da produção de álcool para fins automotivos contribuíram para o resultado da atividade de combustíveis.
Segmento de destaque no desempenho da indústria de abril, a produção de caminhões pesados caiu 8,8% em maio, em relação ao mês anterior, segundo estatísticas da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Na comparação com o mesmo mês de 2012, houve alta de 41,5% - o dado é inflado pela baixa base de comparação, já que as montadoras preferiram, no ano passado, desovar estoques de caminhões com motor Euro 3, antes de iniciar a produção com motor Euro 5, menos poluente e mais caro, que se tornou obrigatório a partir do início do ano.
“Percebemos uma pequena redução das vendas em maio, mas em junho o movimento já mostra recuperação”, disse Luiz Antonio Gambin, gerente comercial da revendedora Auto Sueco, que calcula um incremento de 20%nas vendas de caminhões pesados este ano, para atender ao crescimento da safra agrícola e à retomada de grandes projetos de construção civil e facilitadas pelos juros baixos praticados pelo programa de renovação da frota do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Gambin está otimista com o segundo semestre, que tradicionalmente é melhor que o primeiro, e que este ano terá o Salão Internacional do Transporte (Fenatran), onde geralmente são apresentadas novidades no setor.
“O ano de 2013 deve ser o segundo melhor da história, atrás apenas de 2011”, aposta Gambin. Segundo ele, o aumento dos pedidos nas últimas semanas já está provocando um crescimento no prazo de entrega para novos caminhões.“ O prazode entrega,que estava em 60 dias, já está passando para 90 dias”, contou o executivo.
Veículo: Brasil Econômico