Depois da quebra da safra de cevada no ano passado em função de problemas climáticos no Sul do país, a Ambev decidiu oferecer três formas de remuneração aos produtores para ampliar a aquisição local do insumo em 2013. A meta é aumentar a área contratada de 66 mil para 80 mil hectares na região, o suficiente para produzir 170 mil toneladas do produto e suprir cerca de 70% da demanda por matéria-prima das fábricas de malte cervejeiro da empresa em Porto Alegre e Passo Fundo, no Rio Grande do Sul.
Neste ano, os produtores e cooperativas que negociarem a venda da safra para a Ambev poderão optar, no momento da assinatura do contrato, pela tabela estabelecida pela empresa ou adotar como referência a cotação do trigo na Bolsa de Chicago. A terceira possibilidade é vender parte da produção com preço fixo e parte pelo valor variável.
Segundo o diretor agroindustrial Marcelo Otto, o modelo já é empregado na aquisição de cevada no Uruguai e na Argentina, onde a Ambev também tem maltarias. "É uma inovação para captar bons produtores, mais modernos e mais qualificados", disse o executivo. Conforme o engenheiro agrônomo Dércio Oppelt, 70% da área prevista já foi contratada e, com a volatilidade do preço das commodities, metade foi negociada pela tabela e metade pela combinação entre valor fixo e variável.
Otto explicou que o fornecedor que optar pela cotação da bolsa americana pode "travar" o preço a qualquer momento entre a assinatura do contrato e a entrega do produto (entre novembro e dezembro), ao mesmo tempo em que a Ambev faz uma operação de "hedge" em Chicago para se proteger da oscilação. De acordo com ele, a mudança é mais um passo da companhia para atingir a autossuficiência de suprimento de matéria-prima local para as duas maltarias gaúchas.
Conforme Oppelt, na terça-feira Chicago pagava R$ 25 a mais por tonelada para o produtor do que a média das quatro faixas fixas de preço praticadas pela empresa na região, incluindo o sul, o planalto médio e o norte do Rio Grande do Sul, além do Paraná. Ele não revelou o valor pago pela companhia, mas no planalto gaúcho o valor chega a R$ 510 por tonelada posta na maltaria de Passo Fundo. Neste caso, a vantagem para o produtor que optou pela referência na bolsa americana estava em cerca de R$ 13 por tonelada na terça-feira.
No ano passado, com problemas climáticos como geada, granizo e excesso de chuva, a Ambev recebeu apenas 40 mil toneladas na região Sul, bem abaixo das 150 mil toneladas esperadas para o período. As duas maltarias no Rio Grande do Sul consomem 240 mil toneladas do insumo para produzir 200 mil toneladas de malte cervejeiro por ano. A diferença vem da Argentina, onde a empresa conta com um excedente de quase 400 mil toneladas anuais da matéria-prima em relação à capacidade da maltaria local.
Além da área negociada na região Sul, que envolve cerca de 2,5 mil produtores direta e indiretamente, a Ambev tem um contrato com a Cooperativa Agrária, do Paraná, que neste ano produzirá malte para a empresa a partir de matéria-prima obtida em 37 mil hectares, ante 33 mil hectares em 2012.
Veículo: Valor Econômico