A relação entre produtores independentes e a indústria de laranja continua tensa por causa da baixa procura por frutos por parte das processadoras, mas essa relação pode mudar nos próximos meses, com a entrada de laranjas mais doces no mercado. A expectativa é da indústria e de analistas consultados pelo DCI. Esse cenário, no entanto, ainda não anima os citricultores.
Em junho, foi iniciada a colheita das variedades precoces da laranja, como hamlin, westin e valência americana, que costumam ter menor teor de suco e açúcar. Apesar da maior oferta da fruta no mercado, a indústria continua com estoques muito elevados e não tem ido às compras no mercado spot (pagamentos à vista, sem contrato). Segundo produtores, a única processadora que havia iniciado as compras, a Cutrale, deixou de realizá-las há cerca de 15 dias.
Com a baixa demanda, o preço das frutas continua não remunerando o produtor. Até segunda-feira, a indústria estava pagando R$ 6,61 por caixa de 40,8 quilogramas aos produtores, segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
O nível dos preços tem se mantido similar ao da mesma época do ano passado, segundo Margarete Boteon, analista do instituto. "Ainda são valores baixos para o produtor", diz a especialista.
O início da colheita da pêra-rio, variedade de meia-estação, em agosto, pode mudar o cenário, segundo a indústria. "A tendência é que, conforme a laranja doce vá entrando, a procura seja melhor. No ano passado, mesmo com crise, foi assim", diz o diretor executivo da Associação Nacional de Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), Ibiapaba Netto.
Boteon ressalta, porém, que as laranjas pêras que estão sendo colhidas agora ainda estão também com preços baixos. O fiel da balança, segundo ela, será a redução dos estoques.
O próximo levantamento de estoques da indústria será divulgado em 18 de julho. Mas os dados de exportação de suco concentrado indicam que a moagem de frutas está mais acelerada do que no ano passado. Desde janeiro até 20 de junho, o volume exportado de suco de laranja congelado foi 32,6% maior do que o registrado no ano passado. Até abril, os Estados Unidos ajudaram a elevar em 20% o volume de suco de laranja exportado. Apesar de não haver dados sobre o andamento da moagem da fruta, os números indicam que os altos estoques estão sendo utilizados.
"Esse cenário de laranja a R$ 7 no mercado spot acaba agora em um a dois meses", estima Adilson Penariol, diretor agroindustrial da Agroterenas, que cultiva e processa laranjas em Avaré (SP).
A saída é a mesa
Esse otimismo do mercado ainda não chegou aos produtores independentes. Com falta da demanda da indústria, a saída que o produtor Antonio Gilberto de Oliveira encontrou foi buscar os barracões para a venda da fruta in natura, mesmo a um preço menor. Desde o início de junho, ele vendeu 30 mil caixas a R$ 8 cada. Porém, a exigência de frutas boas e maduras, característica do mercado in natura, forçou o produtor a descartar quase 6 mil caixas.
"O preço [da fruta no mercado in natura] é mais baixo que o da indústria, mas é a saída que o produtor está tendo", atesta o presidente do sindicato rural de Itápolis, Valdir Butarela.
O segmento in natura também tem recebido frutas de grandes produtores. No caso da Agroterenas, serão vendidas para esse setor 500 mil caixas até o fim do ano.
No início da semana, o preço que o produtor conseguia vender a caixa de laranja para o mercado in natura estava R$ 1,03 menor do que o preço para a indústria, segundo levantamento do Cepea. Porém, Butarela diz que, no campo, os preços têm variado muito. "Não se sabe o preço de comercialização. Para cada produtor um comprador oferece um preço", reclama.
Veículo: DCI