As vendas no Brasil do grupo francês Pernod Ricard, segundo maior fabricante mundial de bebidas alcoólicas, atrás do britânico Diageo, caíram 7% no ano fiscal encerrado em 30 de junho, mas a confiança de seus dirigentes no mercado brasileiro permanece em alta: os investimentos em marketing no país cresceram na faixa de dois dígitos nesse período de retração das atividades, totalizando dezenas de milhões de euros, e deverão aumentar novamente neste ano.
O recuo das vendas no Brasil ocorreu, segundo o grupo, em razão de "dificuldades ligadas à conjuntura econômica mais tensa e à generalização do aumento do ICMS sobre bebidas alcoólicas".
"O cenário econômico no Brasil é um desafio, mas isso não nos impede de investir. O objetivo é aumentar nossas participações de mercado", disse ao Valor Alexandre Ricard, presidente-executivo adjunto. "O Brasil é claramente um país estratégico para o grupo e está entre as nossas prioridades", acrescenta Ricard, que vai assumir o comando da companhia em 2015, quando o CEO, Pierre Pringuet, se aposentar.
Os investimentos no Brasil visam principalmente as marcas premium Absolut, Chivas Regal e Ballantine's. As vendas da Absolut aumentaram 24% no país no ano fiscal encerrado em junho, enquanto o mercado brasileiro de vodcas cresceu 13% até maio deste ano, de acordo com dados da Nielsen. "Foi uma das melhores performances da Absolut no mundo", disse Pringuet.
"O Brasil ainda não ocupa no grupo a posição, em termos de vendas, que merece ter. Aceitamos reduzir nossa rentabilidade para investir no país", diz o presidente do grupo.
O maior mercado da Pernod Ricard é os Estados Unidos, seguido pela China, França e Índia, onde os uísques fabricados no país tiveram progressão de 16% no último ano fiscal. O Brasil não integra ainda a lista dos dez principais países para o grupo, mas "está se aproximando" desse ranking, afirma Pringuet.
Faturamento na China cresceu 9%, bem abaixo da taxa de expansão de 24% do ano fiscal anterior, de 2011/2012
"Somos relativamente pequenos no Brasil em relação aos top 14 [marcas internacionais que representam o principal motor de crescimento do grupo, como Absolut, Chivas Regal, Jameson, licor de anis Ricard, Malibu, champanhes Mumm e Perrier-Joüet ou ainda o conhaque Martell], mas somos muito fortes em relação às marcas nacionais, como Orloff e o rum Montilla", diz Alexandre Ricard.
A Pernod Ricard tem planos de realizar aquisições em mercados emergentes, mas em relação a uma eventual operação desse tipo no Brasil, seus dirigentes apenas afirmam que o grupo "já possui marcas brasileiras de destilados" e que a estratégia atual no país é concentrar os investimentos na expansão, principalmente, da Absolut e do Chivas Regal. Há quatro anos, o grupo vendeu a Almadén para a Miolo.
Pringuet não descarta aquisições internacionais, mas ressalta que há limites. "Devemos manter níveis de endividamento baixos. O mundo está menos aberto ao risco do que na década de 2000", diz o CEO.
O grupo divulgou ontem em Paris aumento de 4% no faturamento global no ano fiscal 2012/2013, que atingiu € 8,6 bilhões. O lucro líquido também cresceu 4%, totalizando € 1,2 bilhão.
Diferentemente de outras grandes companhias internacionais, a progressão não é devida exclusivamente aos emergentes. Nos Estados Unidos, as vendas aumentaram 8%. Na Ásia, houve desaceleração: o faturamento na China cresceu 9%, bem abaixo dos 24% no ano fiscal anterior, de 2011/2012. Mas, na avaliação do grupo, "o dinamismo permanece forte" na região. Na América Latina, países como Chile, Peru e Colômbia tiveram crescimento das vendas na faixa dos dois dígitos. A França (cerca de 8% do faturamento global) teve o mesmo desempenho negativo do Brasil: queda de 7%, atribuída à crise econômica e ao aumento dos impostos sobre bebidas destiladas, que entrou em vigor no início de 2012.
"Nós realizamos 59% do faturamento e 56% do resultado operacional nos mercados maduros. Temos um bom equilíbrio entre países desenvolvidos e emergentes", afirma o CEO. O grupo, que possui 80 filiais, prevê também expandir as atividades na África, onde as vendas cresceram 12%.
Para estimular o crescimento dos negócios, a estratégia é concentrar esforços nas marcas premium, que já representam 75% do faturamento. Com bebidas mais sofisticadas, os preços também subiram, mas o grupo não dá detalhes sobre o aumento dos preços.
O CEO prevê que o cenário econômico global deverá se manter o mesmo no próximo exercício fiscal. Na prática, uma situação que continuará difícil na Europa Ocidental, mas com alguns sinais de melhora, desaceleração nos países emergentes e a "continuidade de um bom crescimento" nos Estados Unidos.
Veículo: Valor Econômico