Por Cibelle Bouças | De São Paulo
As indústrias de bebidas precisarão fazer ajustes para manter a rentabilidade neste semestre, levando em conta a tendência de desaceleração do consumo. Os números do Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe), da Receita Federal, indicam que esse movimento já começou a ser feito. Em julho, a produção de cerveja no país teve incremento de 2,5% em comparação com igual período do ano passado, totalizando 1,052 bilhão de litros.
No acumulado de janeiro a julho, a produção aumentou 10,3%, para 7,99 bilhões de litros. No primeiro semestre, a produção crescia 11,6%. O Credit Suisse já havia alertado recentemente que as companhias formaram estoques no início do ano para atender à demanda durante a Copa do Mundo da Fifa, e os volumes vendidos poderiam ser menores que os fabricados no primeiro semestre.
Os resultados divulgados na semana passada pela Ambev, líder no mercado de cerveja, indicaram uma redução no ritmo de vendas, mesmo durante a Copa do Mundo. A divisão Cerveja Brasil cresceu 11,2%, com aumento de 7,2% em volume e avanço na receita por hectolitro de 3,8%. No primeiro trimestre, a Ambev havia registrado aumento em receita de 21,1% no Brasil, com incremento de 10,9% em volume, e de 9,2% em receita por hectolitro. Mesmo com o crescimento mais fraco, a Ambev ampliou a participação no mercado brasileiro de cerveja em 0,9 ponto percentual, para 68,4%.
Resultados divulgados pela Femsa na semana passada também indicaram que a Heineken teve resultados fracos. A cervejaria divulga seu balanço nesta semana. A Femsa divulgou queda de 12,1% no lucro líquido e o resultado foi associado à participação de 20% que possui na Heineken.
A Ambev informou que planeja fazer ajustes, incluindo uma redução em investimentos e custos operacionais. A empresa também informou que considera difícil fazer reajustes reais de preço, devido à estabilidade da renda das famílias no país e ao cenário de crescimento econômico mais fraco.
Serviu de alento para as indústrias do setor a decisão do governo de adiar o aumento da carga de impostos de bebidas frias para setembro ou outubro. Após anunciar que elevaria os tributos em junho, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a alteração ocorreria em setembro. Depois disso, a Receita Federal informou que a alta seria gradual e que não havia sido definido um prazo para a primeira elevação de tributos.
Ainda assim, o aumento na carga tributária será um fator de pressão para o setor. A Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), que representa as maiores fabricantes no país - Ambev, Petrópolis, Brasil Kirin e Heineken - já havia alertado que a mudança em tributos teria um impacto mais significativo que a elevação do multiplicador da base de cálculo de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e PIS/Cofins, que começou a vigorar em abril.
Um reajuste nos preços da cerveja às vésperas do verão pode atrapalhar a meta da Ambev de ampliar a receita em um dígito alto ou dois dígitos no ano. E também afetará suas concorrentes.
Veículo: Valor Econômico