A Ambev terá grandes desafios a vencer em 2015, ano em que é esperado para o país um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ainda fraco, de 1,1%, e inflação (IPCA) alta, de 6,29%, de acordo com o último relatório Focus, divulgado pelo Banco Central. A maior indústria de bebidas do país troca seu comando a partir de janeiro, no momento em que o setor sofre os efeitos da desaceleração do consumo e aguarda a reformulação do modelo tributário.
Em um movimento de rodízio de executivos, João Castro Neves, presidente da Ambev há seis anos, vai para o conselho de administração da Ambev e assumirá a presidência da Zona América do Norte da Anheuser-Busch InBev (AB Inbev). Neves vai substituir Luiz Fernando Edmond, que vai assumir a função de diretor global de vendas da AB Inbev.
No Brasil, Bernardo Pinto Paiva, atual diretor-geral de vendas global da AB Inbev, ficará à frente da Ambev, com mandato de três anos. Paiva ingressou na Ambev em 1991 e atuou em diferentes áreas e cargos. Foi nomeado presidente da Labatt, subsidiária da companhia no Canadá, em janeiro de 2008 e presidente da Quilmes, subsidiária na Argentina, em janeiro de 2009, antes de assumir o cargo de diretor-geral de vendas global da AB Inbev, em janeiro de 2012.
O anúncio surpreendeu alguns analistas e investidores. "A mudança não era esperada, mas como implica uma mudança de cargo dentro da AB Inbev, vemos a mudança como oportunidade de avanços internos", afirmaram os analistas Luca Cipiccia e João Barrieu do Goldman Sachs Research. A equipe de analistas do BTG Pactual manteve a recomendação neutra para as ações da Ambev, com preço-alvo de R$ 17,50. Na sexta-feira, as ações da companhia fecharam em alta de 0,3% na BM&FBOvespa, cotadas a R$ 16,41. Em Bruxelas, as ações da AB Inbev fecharam em queda de 0,41%, a € 87,93.
Para analistas do setor, Paiva terá como principal desafio manter bons níveis de rentabilidade para a Ambev. "É uma tarefa mais fácil, a companhia está no início do desenvolvimento de uma carteira de marcas premium no Brasil, que pode dobrar facilmente de tamanho", afirmou Carlos Laboy, analista da Brasil Plural.
No segundo trimestre deste ano, a Ambev conseguiu elevar sua participação de mercado em 0,9 ponto percentual, para 68,4%, com elevação nas vendas da marca premium Budweiser. A companhia, no entanto, teve custos mais elevados no período e, como resultado, a margem de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) caiu 1,6 ponto percentual, para 40,7%. Em um cenário de consumo mais fraco, repassar preços ou elevar as vendas de marcas de premium para ganhar margem não será uma tarefa fácil.
DivulgaçãoBernardo Pinto Paiva, diretor-geral de vendas da AB Inbev, comandará Ambev
Para João Castro Neves, o desafio será maior. As principais marcas da AB Inbev estão em declínio no mercado da América do Norte e existem preocupações, entre investidores, de que as marcas tenham chegado à fase final do seu ciclo de vida. A maior preocupação são as cervejas Bud e Bud Light, marcas que têm perdido mercado na região para cervejas artesanais e marcas de alto valor agregado. A companhia também perde em competitividade para as rivais MillerCoors e Coca-Cola Company. "Os desafios para João Castro Neves são assustadores", disse Laboy.
Os investidores também aguardam uma nova definição da AB Inbev no ramo de aquisições. A companhia está disposta a fazer uma grande aquisição e a expectativa é de que faça oferta por ativos da SABMiller , que tentou, sem sucesso, adquirir a Heineken em agosto.
Para os analistas Thiago Duarte e Enrico Grimaldi, do BTG Pactual, o desempenho de Castro Neves à frente da Ambev mostra que o executivo está à altura do novo cargo. Castro Neves teve papel fundamental na consolidação dos negócios nos últimos anos. O executivo enfrentou, no início de sua gestão, uma fase difícil de questionamentos do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre a atuação frente aos concorrentes.
Com um trabalho voltado a melhorias na distribuição, na gestão de custos e em ganhos de rentabilidade, a maior fabricante elevou sua receita líquida em 62,9% de 2009 a 2013, saindo de R$ 23,2 bilhões para R$ 37,8 bilhões. O lucro líquido no período cresceu 89,6%, para R$ 11,3 bilhões. O valor de mercado mais que dobrou, para R$ 115,8 bilhões.
Veículo: Valor Econômico