A Kraft Foods do Brasil vendeu a Maguary para a Companhia Brasileira de Bebidas (CBB), da família pernambucana Tavares de Melo. O negócio foi fechado no dia 18 e, ontem, representantes das duas empresas fizeram o comunicado aos cerca de 200 empregados das fábricas de Aracati (CE) e Araguari (MG).
Para a multinacional, trata-se de mais um passo no planejamento estratégico que tem como foco os segmentos de biscoitos, chocolates e bebidas em pó. Para o grupo brasileiro, é uma volta às origens: a Maguary retornou para as mãos dos fundadores 25 anos depois de ter sido vendida por eles.
"Você não sabe como estou alegre", disse, ao Valor, o presidente do conselho de administração da CBB, Romildo Tavares de Melo. Ele fala com entusiasmo da trajetória da Maguary, empresa criada por sua família em 1953 e vendida em 1984 para a Souza Cruz - depois a marca foi comprada pela Nabisco, empresa adquirida em 2000 pela Kraft Foods. "Para nós a venda da Maguary foi traumática, porque gostávamos da empresa", conta o empresário, que, junto com outros três irmãos retornou ao mercado de sucos recentemente. A CBB foi criada em dezembro de 2008 e comprou em fevereiro 54% da Dafruta, fundada por outro integrante dos Tavares de Melo.
Após um período de transição de 60 dias, a família passará a contar com quatro fábricas de suco concentrado de fruta e pronto para beber. E já faz planos para as duas marcas. "Nosso maior esforço será na área de marketing e vemos oportunidade de crescimento em sucos prontos", adiantou. Romildo disse que a chance de ficar com a Maguary surgiu quando a transação com a Dafruta estava em andamento, em 2008, e os irmãos acharam que fazia sentido ficar com as duas marcas. Como o grupo começou há um ano a desfazer-se de usinas de açúcar e álcool, estava capitalizado para o investimento.
As duas empresas não revelam o valor do negócio. Romildo informou que o pagamento será feito com recursos próprios e a CBB deverá recorrer a bancos para conseguir capital de giro. Questionado se há outras oportunidades em análise, ele descartou. "Agora vamos ter de 'jiboiar'", disse, referindo-se ao processo de "digerir" as aquisições. A Maguary é líder no mercado de suco concentrado, com 40% de participação, segundo a Nielsen. O segmento teve faturamento de R$ 350 milhões em 2008 e o de suco pronto para beber, de R$ 1,2 bilhão.
A Maguary foi a segunda empresa vendida por Mark Clouse, executivo americano que assumiu a presidência da Kraft no ano passado - a outra foi a fábrica de matéria prima para gelatina de Pedreira (SP). Ontem ele não estava no Brasil, mas acompanhou o fechamento do negócio antes de viajar para os Estados Unidos. O diretor de assuntos corporativos, Fabio Acerbi, disse que a Kraft chegou a ter contato com outras interessadas na Maguary, mas as conversas avançaram no segundo semestre com a CBB. "Ela não era peça fundamental na estratégia da Kraft", comentou. Segundo ele, não há outros ativos à venda no país.
A Kraft continuará usando parte da planta de Aracati (CE), em que produz sucos em pó das marcas Tang e Fresh. O terreno, que comporta essa unidade e outra de produção dos sucos Maguary, será em breve dividido por uma cerca. A multinacional começou a fazer suco em pó no local no ano passado, para atender melhor o Nordeste. Na ocasião, montou uma nova linha e transferiu outra usada de Curitiba (PR), onde fica sua sede brasileira. Questionado sobre o destino do dinheiro que entrará no caixa da Kraft, Acerbi repetiu o que Clouse tem dito nos últimos meses. "Estamos sempre olhando oportunidades."
Veículo: Valor Econômico