O corte de US$ 1,5 bilhão até 2011 anunciados pela Anheuser-Busch InBev em dezembro já está surtindo efeitos no Brasil, entre as unidades da AmBev. A cervejaria, conhecida pela austeridade com gastos, está mais do que nunca cortando despesas. O enxugamento atinge até as tampinhas de refrigerante, que vão diminuir. Além disso, na semana passada a empresa informou o fechamento da fábrica de Mogi Mirim (SP). Neste mês, com o fim do verão, mais 1 mil temporários devem ser dispensados.
A redução global de custos tem seu propósito: a AB-InBev tem de pagar dentro de 76 dias 15% da dívida de US$ 65 bilhões que tem com bancos pela compra da americana Anheuser-Busch. A parcela - primeira de um financiamento que vai até 2013 - é a maior de todas, somando US$ 9,8 bilhões.
O fechamento da fábrica em Mogi Mirim atingiu 166 funcionários. Desses, 20 serão transferidos para outras filiais e 146 serão desligados. Também serão dispensados os temporários contratados para dar conta da produção de verão. Esse pessoal representa 5% do total de empregados da AmBev: 23 mil pessoas.
Para quem fica, a ordem é economizar. Viagens foram reduzidas. Quem precisar, ficará em hotéis mais baratos. Se duas pessoas viajarem para o mesmo destino, dividirão o quarto do hotel. Passagens aéreas só em classe econômica e marcadas com antecedência, para conseguir melhores preços.
Entre abril e maio, a tampa dos refrigerantes será reduzida - medida que começou a ser adotada pela concorrente Coca-Cola em novembro. A AmBev não revela quanto deve economizar com essa ação. No caso da Coca-Cola, a economia com plástico é de meio centavo por garrafa. Se essa estimativa se aplicasse à AmBev, que vende (conforme números de 2007) 2,4 bilhões de litros de refrigerante ao ano e fosse considerado que um litro equivale a uma garrafa (uma média, já que há vários tamanhos no mercado), só a tampa menor representaria um corte anual de R$ 12 milhões. Esse valor equivale, por exemplo a 14% do montante que a empresa está aplicando na fábrica de Sete Lagoas (MG), a ser inaugurada em junho. Esse investimento, que totaliza R$ 87 milhões, assim como os R$ 213 milhões anunciados para a construção de uma maltaria em Passo Fundo (RS), que deve operar em 2010, estão mantidos.
Um fator interno está, segundo a AmBev, pressionando os custos - a entrada em vigor, em janeiro, da nova tributação sobre bebidas frias, que envolve a cobrança de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), PIS e Cofins. Segundo a empresa, o gasto subiu 15%. A nova tarifação leva em conta não só o volume fabricado, mas também o preço do produto - paga mais quem cobra mais. "Na média, os preços da AmBev são 30% mais altos que os das rivais", diz Adalberto Viviani, consultor especializado em bebidas.
Na quinta-feira, AB-InBev e AmBev divulgarão os resultados de 2008. A expectativa é de perdas em volume. Segundo a Nielsen, a fatia de mercado da AmBev caiu de 68,2% para 67% no ano passado. O verão chuvoso que se iniciou nos últimos dois meses de 2008 também fez cair as vendas no Sul e Sudeste. Mas, pelo lado financeiro, a expectativa é de ganhos. A AmBev é conhecida por sua boa rentabilidade. Seu custo de produção de cerveja, em 2007, foi de R$ 41,2 para cada 100 litros.
Veículo: Valor Econômico