Até pouco tempo, cerveja em litro, no Brasil, era coisa de argentino. No país vizinho, as garrafas de vidro com 1000 ml ou perto disso (970 ml ou 960 ml), têm mais da metade do mercado. Por aqui, onde os vasilhames de 600 ml ficam com 68% das vendas e as latinhas com 28%, os "litrões" começaram a se tornar conhecidos só em 2007, quando aAmBev iniciou a importação de marcas uruguaias, como Norteña, Patrícia e Pielsen.
Naquele ano, foram vendidas, segundo a Nielsen, 3 milhões de garrafas - quase nada em comparação aos quase 10 bilhões de litros de cerveja consumidos ao ano no país. Mas, em 2008, a embalagem começou a cair no gosto do consumidor. Marcas como a argentina Quilmes e a belga Stella Artois (as duas da AmBev) foram chegando e, no fim do ano, animada com o crescimento das vendas, a empresa lançou a versão litro de Skol e Brahma. Resultado: 2008 fechou com 12,7 milhões de "litrões" vendidos - alta de 315% sobre 2007.
Ainda assim, esse mercado não chega a 0,2% do total. Mas é uma das maiores apostas do setor, já que a embalagem é econômica, tanto para o consumidor, quanto para a indústria. Para quem compra, um litro de Skol custa R$ 2,50, sem casco (com ele, sai por R$ 3,20). Cada 100 ml sai por R$ 0,25. Como a lata de 350 ml custa em média R$ 1, os mesmos 100 ml acabam custando R$ 0,28. Parece pouco, mas para quem não gostou do aumento médio de 10% da cerveja no ano passado, qualquer centavo faz diferença.
Para as cervejarias, a conta é simples. "Elas gastam um rótulo só, uma tampinha só para 50% mais líquido", diz o consultor Adalberto Viviani, da consultoria Concept, especializada em bebidas. "Além disso, o transporte também fica mais econômico", acrescenta. Essa redução de custos é tão atraente que outras empresas, como Femsa e Petrópolis, já estariam preparando lançamentos com a garrafona, segundo informações do mercado, embora nenhuma delas confirme esses planos.
A AmBev, porém, garante que lançará mais marcas nesse formato este ano. Para o gerente de compras de cervejas do Grupo Pão de Açúcar, Fabio Rodrigues, essa é uma boa notícia, uma vez que nos supermercados da rede o volume de vendas do vasilhame de 1000 ml dobrou nos últimos dois anos e a expectativa é que continue crescendo assim em 2009. "Quanto mais volume, melhor", diz ele. "Um litro de Norteña custava R$ 9 há três anos. Hoje, como há mais escala, o preço caiu para R$ 7", afirma.
Mas quem gosta de cerveja pode ficar em dúvida se o líquido não esquenta em uma embalagem tão grande. Segundo a AmBev, isso não é empecilho para expansão do formato. O "litrão", diz, é voltado para o consumo doméstico em grupos, como famílias e reuniões de amigos. Servida para mais gente, a cerveja não teria tempo de esquentar. Por isso, o canal de vendas prioritário do formato não são bares e restaurantes, mas padarias e pequenos supermercados, onde boa parte das famílias costumam fazer suas compras. Além disso, por enquanto, só esse tipo de varejo aceita retornar o vasilhame. Grandes redes, como o Pão de Açúcar, só vendem a bebida com casco. Ou seja, não recolhem a garrafa.
Veículo: Valor Econômico