China impede Coca-Cola de comprar empresa

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A China rejeitou a proposta da Coca-Cola para aquisição da fabricante de sucos Huiyuan Juice por US$ 2,4 bilhões, afirmando que a transação seria ruim para competitividade. A aquisição pela Coca-Cola seria a maior compra de uma companhia chinesa por uma concorrente estrangeira, e a rejeição deverá ser considerada como outro sinal de protecionismo em meio à recessão global.

 

Observadores disseram que a decisão da China pode afetar os dois lados, já que companhias chinesas que têm feito aquisições de alto nível no exterior podem enfrentar problemas.

 

A Câmara de Comércio da União Europeia em Pequim pediu às autoridades chinesas para tornarem públicas as verdadeiras razões pelas quais vetaram o acordo entre a Coca-Cola e a Huiyuan. A Câmara também pediu menos restrições e mais transparência para o investimento exterior na China.

 

A medida, entretanto, foi bem recebida dentro da China. Numa sondagem de opinião realizada num site popular na internet, mais de 80% dos 120 mil que responderam concordaram com veemência com a rejeição. Mais de 65% disseram que os investimentos estrangeiros nas companhias chinesas foram ruins e que exerceram efeito negativo sobre os produtos nacionais.

 

A Huiyuan Juice, registrada na bolsa de Hong Kong, detém uma participação de 42% no mercado nacional de sucos de fruta pura e é uma marca nacionalmente reconhecida. A Coca-Cola vendia há muito tempo as suas bebidas gaseificadas na China, mas carecia de uma presença no segmento de fruta pura. Esta teria sido a maior aquisição estrangeira de uma empresa doméstica.

 

A rejeição oficial foi apresentada pelo Ministério do Comércio, o guardião das leis de combate ao monopólio - leis que foram reforçadas em agosto. Segundo o ministério, a permissão da tomada do controle "teria um impacto desfavorável sobre a concorrência" e a empresa dos EUA "poderia ter sido capaz de usar a sua posição dominante no mercado de refrigerantes gaseificados para usar vendas casadas e combinações promocionais de vendas de bebidas à base de frutas obrigando os consumidores a aceitar preços mais altos e menos opções de produtos". "Além disso, a concentração teria reduzido o espaço para a sobrevivência de produtoras de sucos nacionais de pequeno a médio porte, criando um impacto prejudicial na estrutura competitiva do mercado de bebidas à base de sucos".

 

O Ministério do Comércio recebeu 40 solicitações de aprovação de fusões e aquisições desde que as novas leis entraram em vigor e o negócio da Coca-Cola é o primeiro a ser rejeitado.

 

Quando foi anunciado, em setembro, o investimento planejado da Coca-Cola causou alvoroço no setor de sucos chinês, e suas concorrentes a atacaram com emotiva carga retórica nacionalista.

 

Os investimentos estrangeiros na China são geralmente vistos pelo público e pela burocracia em termos semelhantes; além disso, o país instituiu leis de segurança nacional e econômica vagas, mas radicais, que podem ser usadas para impedir que investidores estrangeiros comprem "produtos nacionais" em virtualmente qualquer setor.

 

Muitos executivos de bancos e advogados vinculados ao negócio disseram que Pequim havia usado a cortina de fumaça da legislação antitruste para rechaçar a tomada de controle de um produto conhecido, tendo como base argumentos nacionalistas.

 

Um negociador disse: "Esta é uma decisão estúpida. Francamente, se a Coca-Cola não pode comprar uma mísera empresa de sucos na China, então podemos dizer adeus à tentativa de outras empresas promoverem fusões e aquisições na China".

 

A decisão também acontece num momento em que a China procura fazer investimentos externos politicamente sensíveis, como a injeção de capital de US$ 19,5 bilhões da Chinalco na Rio Tinto. "Acredito que a decisão sobre a Coca-Cola sairá pela culatra para a China", disse outro negociador. "Ela reforçará nacionalistas em países como a Austrália, descontentes com todas essas transações em torno de recursos naturais".

 

A decisão fortalecerá percepções existentes entre muitos negociadores, de que a opinião pública chinesa se opõe a aquisições estrangeiras, especialmente as que envolvem empresas dos EUA.

 

O Carlyle Group, uma empresa de capital privado dos EUA, abandonou no ano passado uma batalha de três anos, que visava obter a aprovação de Pequim para fazer um investimento de alta visibilidade numa fabricante de maquinário do continente. Aquele acordo também provocou furor entre os nacionalistas preocupados pelo fato de uma empresa estrangeira adquirir uma importante firma chinesa.

 


Veículo: Valor Econômico


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