A perspectiva de melhora econômica pode trazer recuperação ao mercado de refrigerantes. No entanto, o produto deve enfrentar o avanço de outras categorias de bebidas, principalmente diante da maior preocupação do consumidor com a saúde.
“A previsão de crescimento mais robusto do PIB em 2020 contribui para que o consumidor volte a comprar os produtos que cortou na crise. Essa recuperação já estava prevista para 2018, mas a greve dos caminhoneiros e o cenário político instável acabaram atrapalhando”, explica a consultora de bebidas da Euromonitor, Angelica Salado.
Segundo dados da consultoria, o consumo de refrigerantes registrou queda de 2,6% no ano passado em relação a 2017 e o País foi ultrapassado pela China, caindo para a quarta colocação no ranking global. “Essa queda está atrelada ao cenário econômico, desencorajando o consumo fora de casa e fazendo com que a população corte gastos”, relata.
Outro fator que impediu a recuperação do consumo foi o desempenho comercial abaixo do esperado na Copa do Mundo. “Como o evento de 2014 havia sido no Brasil, a expectativa já era menor. Ainda aconteceu da temperatura ter sido mais baixa e o horário dos jogos justamente durante o expediente. Acabou sendo menos convidativo para as bebidas.”
Ela afirma que a preocupação com hábitos de vida mais saudáveis não teve um impacto tão grande quanto a crise na categoria. “A conjuntura econômica foi mais relevante. Existe uma parcela da população que ainda não teve acesso ao refrigerante e há espaço para esse mercado crescer.”
Entre 2013 e 2018, a participação da bebida no mercado brasileiro caiu de 66% para 53%. A maior parte dessa fatia foi ocupada pelo segmento de águas engarrafadas. “No setor de food service, percebemos uma migração para a água com gás e limão. Ainda é pequeno em comparação aos refrigerantes, mas as vendas têm crescido”, destaca.
A pesquisa mostra que em 2018, ao contrário do Brasil, a indústria global de refrigerantes voltou a crescer, movimentando 216,5 bilhões de litros, um aumento de 0,3%. “Apesar da China ter ultrapassado o Brasil no volume absoluto, o consumo per capita ainda é maior aqui”, ressalta Angelica. No ano passado, os brasileiros consumiram o equivalente a 14 latas de refrigerantes (350ml) por mês, 12 a mais do que a média chinesa.
Para Angelica, apesar das perdas, o mercado brasileiro não perdeu a importância no cenário global. “A indústria precisa responder com novas estratégias e conversar de maneira diferente com o consumidor.” Ela destaca que empresas buscaram maior diversificação de tamanhos de embalagens, para atuar em diferentes pontos de vendas e formatos de preços. “As fabricantes também criaram novas marcas e produtos em outras categorias, sem mexer no refrigerante, que ainda é uma indulgência muito importante para o brasileiro”.
Mercado
Na semana passada, a Ambev e a Coca-Cola Femsa apresentaram seus resultados anuais de 2018. No segmento de bebidas não alcoólicas no Brasil, a Ambev teve redução de volume (8,7%) e na receita líquida (1,0%). “Apesar dos desafios, continuamos investindo na expansão do premium, com as marcas Lipton, Tônica e Gatorade, que contribuem para um mix mais rentável. Também continuaremos promovendo nossa principal marca, Guaraná Antarctica”, informou a empresa em nota.
Já a Coca-Cola Femsa reportou crescimento de volume de 2,9% no País sobre o resultado de 2017. “Na América do Sul, o ambiente de recuperação no Brasil, juntamente com um portfólio robusto, nos permitiu crescimento de volume”, declarou o CEO da companhia, John Santa Maria Otazua, por meio de comunicado.
Fonte: DCI