A cachaça está em alta. Paris Hilton e Jennifer Aniston não cansam de declarar sua paixão pela caipirinha, e as viagens pelo mundo do nosso presidente, "O Cara’’, também ajudam a difundir o destilado Made in Brazil.
Na semana passada, a feira Cachaça Brasil reuniu em São Paulo dezenas dos melhores fabricantes da bebida, cujo litro pode custar até mesmo algumas centenas de reais, como os melhores scotchs.
A efervescência do setor se revela também nos números do mercado de exportação, que teve um aumento considerável de 18% em valores, ultrapassando os US$ 16 milhões registrados em 2007 e chegando a um crescimento de 20% em volume. Hoje, o Brasil exporta para mais de 55 países, com destaque para a Alemanha, Estados Unidos, Portugal, Uruguai, Chile e França.
A aceitação internacional da cachaça aumenta ano a ano, com base num marketing inteligente e na melhoria do produto. Alguns produtores estão dispensando à pinga os cuidados típicos dos produtores de vinhos finos. E os resultados desse trabalho aos poucos vão aparecendo.
A cachaça Leblon é um exemplo disso. O proprietário da marca, o americano Steve Luttmann, contratou Gilles Merlet, um mestre destilador da região de Cognac, na França, para assessorá-lo na produção de sua cachaça.
"Usamos uma variedade de cana especialmente desenvolvida, usamos leveduras exclusivas na fermentação e fazemos a destilação num alambique de cobre. Depois a bebida é armazenada em tonéis de carvalho francês para ficar mais suave’’, explica Luttmann, que comprou uma velha destilaria em Patos de Minas (MG) e adaptou-a aos mais modernos métodos de produção.
Luttmann entende do negócio: trabalhou no grupo LVMH, onde lançou o rum Ten Cane e um conhaque flavorizado com favas de baunilha de Madagascar.
Não por acaso, a Leblon já é a cachaça predileta de bar chefs e mixologistas de San Francisco, Nova York e Londres. Suas vendas em 2009 - no Brasil e lá fora - estão 600% maiores do que as de 2008. Cada garrafa de 750 ml custa cerca de US$ 30, ou R$ 70.
Outro produtor de cachaças premium que vem fazendo sucesso no exterior é João Pedro Simonsen, dono da Cabana Cachaça. Produzida em Jaguariúna (SP), ela só usa cana-de-açúcar plantada exclusivamente para sua elaboração, que é cortada manualmente e prensada logo após a colheita. É destilada duas vezes em alambiques de cobre e armazenada em tonéis de jequitibá por seis meses, eliminando o gosto forte das cachaças comuns.
Vendida desde 2006 na Europa e nos EUA - que absorvem 98% de sua produção, cerca de 70 mil litros -, a Cabana conquistou o Double Gold Medal, na San Francisco World Spirits Competition 2009, onde 847 destilados de 63 países foram degustados às cegas pelo júri.
Aqui, a bebida é servida nos hotéis Caesar Park e Fasano e nos restaurantes Rubayat, Eñe, Sushi Kin, Due Cuochi e Rodeio. No varejo, em selecionadas lojas de São Paulo e Rio, é vendida a R$ 53.
"Nossa garrafa possui um design exclusivo criado por Andrew Wolf e é produzida na França, pela Saverglass’’, destaca Simonsen.
Para divulgá-la no exterior, a Cabana criou drinques como Brazilian Wax (à base de abacaxi) e o Gisele (com suco de acerola).
Por fim, há a Sagatiba, que tem uma estratégia agressiva de vendas aqui e nos principais mercados do planeta. Sua marca mais nobre, a Preciosa, é vendida por R$ 389 (a garrafa de 700 ml).
Cachaça ainda é confundida com rum
A cachaça já é um dos destilados mais pedidos nos bares dos Estados Unidos, principalmente pelos apreciadores de tequila. Mas uma barreira ainda bloqueia uma difusão maior da cachaça por lá: é que nos EUA o produto ainda não é reconhecido pelos órgãos responsáveis pela classificação de bebidas e alimentos. A cachaça é vendida como Brazilian Rum, apesar de o rum ser feito a partir da fermentação de um caldo de cana "cozido’’ e ser produzido nas ilhas do Caribe, enquanto a cachaça é exclusivamente brasileira e feita com cana "crua’’, prensada e fermentada.
"Estamos também reivindicando a denominação de origem e a elaboração da regulamentação para o produto no exterior", afirma Leandro Lara, diretor da feira Brasil Cachaça.
"Essa situação em breve vai mudar. Os governos de Brasil e Estados Unidos estão acertando um acordo para que a gente passe a reconhecer muito em breve os bourbons e os tennessee whiskys, como o Jack Daniels, enquanto eles, em retribuição, passarão a reconhecer a cachaça como destilado brasileiro.
Nomes complicados
Steve Luttmann, da Leblon, é o exemplo perfeito de um "gringo’’ que se deixou conquistar pelas paixões nacionais: nascido na Pensilvânia, casou-se com uma mulher brasileira e comprou uma destilaria de cachaça!
"Já me sinto um brasileiro, apesar do sotaque. E eu também adoro feijoada, prato que costumo comer nos restaurantes do Alex Atala, que só trabalham com nossa marca de cachaça. As pessoas me perguntam se não seria interessante mudar os nomes, afinal cachaça, caipirinha e mesmo feijoada são palavras muitos complicadas para um americano pronunciar. Eu discordo. Trabalhei na LVMH e vi que os americanos adoravam falar Curvoisier, Chateau Laffite. Esses termos atraem, soam bem, são adorados pelas pessoas que têm curiosidade para experimentar coisas novas e têm um paladar sofisticado’’, afirma. "Eu não mudaria nada’’, finaliza.(Gazeta Mercantil
Veículo: Gazeta Mercantil