A divisão de bebidas do grupo LVMH está na mira da inglesa Diageo. Trata-se de um negócio de mais de 10 bilhões de euros
Quando o francês Bernard Arnault, o homem mais rico da França, iniciou sua caça às maiores grifes de luxo daquele país, em 1987, ele não fez distinção de setores. A única exigência era comprar marcas fortes com um grande potencial de mercado. Além, obviamente, da moda – onde reside o DNA do savoir-faire francês – Arnault buscou nas bebidas, outro ícone da cultura do país, uma chance de ampliar o seu portfólio. Assim nasceu o Louis Vuitton Moët Hennessy (LVMH), que possui grifes como Christian Dior, Kenzo, champanhe Veuve Clicquot, vinho Château d’Yquem... Mas uma reportagem publicada no jornal inglês Financial Times pôs em dúvida a estratégia da companhia. Para fazer caixa e poder comprar mais marcas, como a Hermès, uma das joias do luxo francês, o LVMH estaria vendendo a sua divisão de bebidas por 10 bilhões de euros para o grupo inglês Diageo, que já possui 34% das ações da Moët Hennessy e ainda é dono de marcas como a cerveja Guinness, a vodka Smirnoff e o uísque Johnnie Walker. Procurado por DINHEIRO, o LVMH emitiu uma nota negando o negócio. Já a Diageo não quis comentar o assunto. São, contudo, fortes os indícios de que ambas empresas estariam em conversações.
Se o negócio de fato sair, dará forma à maior empresa de bebidas do mundo com mais de 30% do mercado para a Diageo, que em 2008 faturou 8 bilhões de libras, contra 19% de participação da Pernod Ricard, sua maior rival, com faturamento de 6,5 bilhões de euros e dona de rótulos como Absolut, Jameson, Chivas Regal, Ballantine’s e outros. “Os portfólios da Diageo e do LVMH são complementares e a aquisição faria a Diageo ficar bem forte”, diz Virgínia Kufiak, professora de tecnologia em bebidas da Universidade Anhembi Morumbi. Enquanto a Diageo ainda não possui um nome de peso no mercado de conhaque nem no de champanhe, a Pernod Ricard ostenta grifes como o champanhe Perrier-Jouët e o conhaque Martell. “Com a venda, Bernard Arnault, um homem de finanças, pode focar na moda, que rende mais.” Essa, porém, é uma estratégia perigosa.
Apesar de as receitas da Moët Hennessy terem caído 3% em 2008 e mais 22% só no primeiro trimestre deste ano, a área ainda é emblemática e vista como parte da alma do grupo – sem contar que é muito importante na composição dos resultados do LVMH, cujo faturamento alcançou 17,2 bilhões de euros no ano passado. Dos 3,6 bilhões de euros lucrados pela empresa, 1,060 bilhão de euros vem da área de bebidas e outro 1,9 bilhão do setor de moda. “Parte da estratégia de uma empresa é se concentrar nos setores em que vai melhor. Este é o caso do LVMH”, diz Luciano Deos, da consultoria GAD. Eis o dilema de Arnault. Vender uma área que rende uma fortuna todos os anos ou priorizar outra que proporciona mais caixa?
Veículo: Revista Isto É Dinheiro