Em um bairro residencial a poucos metros da rua Jurubatuba, principal via de comércio de imóveis de São Bernardo do Campo, um descendente de italianos, o contabilista Pedro Rocco, mantém as tradições de seu bisavô, o vêneto Giacomo Rocco, que veio trabalhar na indústria da região no fim do século 19. Na bagagem, o imigrante trouxe ramas de uvas europeias e equipamentos para a produção de vinho artesanal.
Nos fundos da casa de Pedro Rocco, há uma área onde o proprietário pratica duas de suas paixões: a produção de vinho e o preparo de pratos italianos, especialmente carnes exóticas, como perna de javali e codorna recheada.
Na cantina, com capacidade de produção de 10 mil litros de vinho por ano, Rocco prepara a bebida com uvas que compra do Rio Grande do Sul. As uvas americanas para o chamado vinho de mesa chegam de caminhão e são distribuídas para cerca de 50 italianos e dez portugueses que também produzem artesanalmente a bebida no município. O grupo recebeu 12 toneladas de uvas da região no ano passado.
Mas, para a produção de vinhos finos, Rocco tem um cuidado especial com a escolha da matéria-prima. Ele vai até a região do Vale dos Vinhedos buscar os tipos Cabernet Sauvignon ou Merlot. "Para comprar essas uvas, é melhor ir até lá escolher as melhores", disse enquanto degustava uma taça da bebida na mesa de seu "espaço gourmet" instalado em cima da cantina.
A tradição na produção de vinho na cantina dos Rocco só não é seguida quando o assunto é equipamento de fermentação. Pedro utiliza bombonas de vidro, de plástico e aço inoxidável em substituição aos barris de carvalho. Os materias mais modernos garantem o mesmo resultado. Neste ano, sairão cerca de 3,5 mil litros de vinho da cantina, sendo a maior parte de mesa, o mais consumido pelo brasileiro. Rocco produz também grapa e aguardente. Cuidadoso, envia as bebidas para análise do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para verificar se o PH está nos padrões, se o grau de acidez está aceitável e se não há contaminação.
Os 60 produtores formam a União dos Vinicultores Artesanais de São Bernardo do Campo (UVA). Eles fazem uma festa para 800 pessoas, anualmente, para levantar fundos para bancar palestras com enólogos e técnicos sobre o aprimoramento da qualidade do produto. O grupo não tem a pretensão de profissionalizar a atividade. Para isso, haveria vários empecilhos. O primeiro seria o alto custo da formalização. E o segundo, a necessidade de formação de cooperativa. "Imagine 50 italianos tentando padronizar um vinho. Não chegam a um consenso nunca", diz Rocco.
Veículo: Diário do Comércio - SP