A dança da garrafa

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Como, a partir da criação de uma embalagem única, fabricantes regionais de refrigerantes preparam uma ofensiva contra a Coca-Cola e a AmBev

 

Dentro de até QUATRO meses, as duas gigantes do setor de bebidas, a AmBev e a Coca-Cola, poderão sofrer uma pequena fissura na presença hegemônica que possuem no mercado brasileiro.

 

Um grupo de 30 pequenas fabricantes regionais, que representam marcas como Xereta, Coroa e Éh Bom, se uniu para criar uma única embalagem de refrigerante para todo o País. As garrafas de 290 mililitros dessas companhias terão o mesmo design, mas cada marca colocará o seu próprio líquido e rótulo.

 

Os engradados, também serão padronizados. Até 2010, estima-se que 70 companhias do segmento estarão operando dentro desse acordo. À frente da iniciativa está a Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil (Afrebras), criada em 2005.

 

A entidade nunca escondeu de ninguém que surgiu para representar os interesses daqueles não associados à Abir, entidade do mesmo setor que possui Milton Seligman, da AmBev, na vicepresidência, e Hoche Pulcherio, da associação dos fabricantes de Coca- Cola, no comando. Com a iniciativa, fabricantes regionais prometem vender a bebida em garrafa a preços 20% a 30% inferiores aos da Coca- Cola e do Guaraná. O projeto de um vasilhame único está em gestação há mais de dez anos e será a primeira etapa de um plano mais ambicioso: a criação de uma marca unitária a ser utilizada pelas companhias regionais.

 

Um dos principais argumentos para a adoção de uma embalagem comum é a economia gerada pela iniciativa. A redução de custos será possível porque a fabricação das embalagens, em volumes elevados, sairá mais em conta. A francesa Saint Gobain, a mesma que faz os vasilhames para a Coca-Cola, fechou há dez dias o contrato para a fabricação. Serão vinte milhões de unidades produzidas no primeiro ano.

 

Segundo a DINHEIRO apurou, o custo unitário será inferior a R$ 0,20, inclusive com uma redução extra de 6% no preço pago, obtida já no final do acordo com a Saint Gobain. Com isso, a bebida pode chegar nas prateleiras por no mínimo R$ 1 - contra os R$ 1,20 a R$ 1,30 da garrafinha da Coca-Cola. A Caixa Econômica Federal criou uma linha de crédito aos fabricantes regionais que precisarem de recursos para a compra.

 

O total disponível pode chegar a R$ 20 milhões. Se cada fabricante quisesse bancar, do próprio bolso, a criação de um novo modelo de garrafa, seria preciso um investimento inicial de R$ 300 mil. "Sem a garrafa de 290 mililitros, ficamos fora de bares e restaurantes por uma década. Foram 15 meses de trabalho para que o projeto desse certo", diz Fernando de Barros, presidente da Afrebras. "Só temos esse caminho para ganharmos musculatura frente aos líderes", completa. "Se pelo menos tivermos o produto à venda, o consumidor pode escolher se prefere a Coca-Cola ou uma bebida regional. Até agora, nem a opção ele tinha", diz Rafael Saullo, da Cibal Refrigerantes, dona da marca Guaranita.

 

O plano é estender a compra unificada de vasilhames de um litro e de 200 ml. Com a garrafa de 290 ml, o mercado total atinge R$ 2 bilhões em vendas ao ano, diz a Afrebras. O volume equivale a quase 20% das vendas de refrigerantes no País. Daqui para frente, o maior desafio da entidade será manter a união das pequenas empresas em torno do projeto da marca única. "Agora fica mais fácil, porque já começamos a conversar.

 

Acredito que em até cinco anos teremos um produto universal", diz Fabio Macedo, diretor da Refrigerantes Xereta. Boa parte da dor de cabeça será buscar unidade num setor dominado por empresas não profissionalizadas e pouco acostumadas a negociar com concorrentes. Pelo menos, o passo inicial foi dado. Bom para o mercado, ótimo para o consumidor.

 

Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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