Um sexto dos vinhos produzidos no Brasil vem das uvas colhidas na Metade Sul. Para incrementar a produção e tornar o vinho da região mais competitivo, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Sul (Sebrae-RS) começará a traçar as diretrizes do Projeto Vinhos do Pampa Gaúcho para a Metade Sul do Estado. O objetivo será agregar valor às uvas produzidas na região, estimulando que sejam encaminhadas à cadeia de produção do vinho. "Nosso objetivo será fortificar as indústrias locais e estimular a criação de novas vinícolas de diferentes portes", explica Marcelo Lopes, superintendente do Sebrae-RS.
Para alcançar esta meta, o projeto deverá envolver treinamento aos fabricantes, trabalho de identificação de novos nichos de mercado em todo o País, organização de parcerias comerciais e suporte permanente. "Já promovemos o Polo de Fruticultura do Pampa Gaúcho, projeto que qualifica o cultivo de uvas; agora, trabalharemos na agregação de valor às frutas", lembra Lopes.
A produção de uvas é da ordem de 1,2 milhão de toneladas/ano no Brasil. Deste volume, cerca de 45% se destinam ao processamento para a elaboração de vinhos, sucos e outros derivados. O Rio Grande do Sul colhe entre 500 milhões e 600 milhões de quilos de uvas para processamento e cerca de 100 milhões de quilos para consumo direto por ano. Além disso, mais de 90% dos sucos e vinhos brasileiros partem de parreirais gaúchos.
Em 2009, os produtores da Metade Sul colheram 1,5 mil toneladas de uvas, cerca de 15% a mais do que em 2008. Cerca de 200 destes agricultores são atendidos pelo Polo de Fruticultura do Sebrae. A região, que se caracteriza pelo favorável clima seco no verão, que gera vinhos de alta qualidade e com custo de produção reduzido, possui 14 vinícolas de diferentes portes. As principais cidades produtoras são Bagé, Santana do Livramento, Dom Pedrito, Quaraí, Uruguaiana, Itaqui, Alegrete e Rosário do Sul.
A ideia do Projeto Vinhos do Pampa Gaúcho para a Metade Sul será apresentada e debatida junto a 60 produtores de uva e vinho, técnicos e representantes do setor no 1º Encontro de Vitivinicultura da Campanha e Fronteira-Oeste, que será realizado na sexta-feira em Santana do Livramento. Será a oportunidade para conhecer o posicionamento das vinícolas e iniciar a formalização do projeto, que deverá receber o apoio do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e da Emater-RS.
"Formataremos o projeto ainda neste ano, para que possa entrar no Plano Plurianual do Sebrae dos próximos três anos", explica Lopes. Após o debate com o setor e um diagnóstico técnico, será possível definir a meta de atendimentos, os cursos específicos e o investimento total. Outros projetos para a Metade Sul do Rio Grande do Sul concorrem com o dos vinhos em divisão de recursos e atenção dos técnicos do Sebrae, incluindo na área de bovinocultura, ovinocultura, produção de leite e comércio.
Para Rosana Wagner, proprietária da vinícola Cordilheira de Sant´Ana, com produção anual de 20 mil garrafas, um trabalho permanente do Sebrae junto ao setor seria bem-vindo especialmente se ajudasse a trabalhar a publicidade das empresas da região. Os gastos com divulgação em feiras e eventos pelo País são elevados para uma pequena empresa, diz ela - e o quadro é agravado pela dificuldade imposta pelos elevados tributos cobrados do setor e pela concorrência dos importados.
"Temos uma capacidade de produzir até 100 mil garrafas anuais, mas as dificuldades de mercado nos fazem vender o excesso de uvas produzidas in natura", observa. Se as condições melhorassem, explica, poderia agregar mais valor às uvas e melhorar os negócios. "Mas isso também depende de medidas governamentais para estimular o setor", ressalva.
Veículo: Jornal do Comércio - RS