As dores da fusão

Leia em 3min 40s

Sete meses depois da criação da Brasil Foods, Sadia e Perdigão não conseguem integrar as operações e reduzir custos

 

Não é exagero afirmar que, nos últimos anos, as fusões e aquisições passaram a ser vitais no universo corporativo. Num mercado global que favorece empresas de grande porte, companhias de todos os setores ficaram obcecadas em unir seus ativos. Por isso mesmo, toda vez que duas corporações anunciam uma associação, o processo é cercado de otimismo. Muitas vezes, porém, os desafios são maiores do que haviam estimado os dois lados envolvidos na parceria. Uma pesquisa da consultoria A.T. Kearney revelou que, dos 25 mil processos de fusões e aquisições ocorridos em 53 países, 75% não atingiram os seus objetivos. No Brasil, um dos mais festejados casamentos empresariais dos últimos tempos enfrenta algumas dificuldades. Trata-se da união entre Sadia e Perdigão, celebrada no dia 19 de maio de 2009 e que resultou na criação da Brasil Foods, terceira maior produtora de carnes do mundo, atrás da americana Tyson Foods e do frigorífico brasileiro JBS-Friboi. “A integração está em pleno curso, mas não posso afirmar que está tudo 100%”, disse à DINHEIRO Nildemar Secches, presidente da Brasil Foods. “Nosso maior desafio será integrar os custos das duas empresas, mas para isso ainda dependemos do Cade.”

 


UNIÃO DISTANTE: Até agora, as duas empresas conseguiram juntar apenas suas atividades voltadas para o mercado externo e a gestão financeira

 

Secches está incomodado com a demora do Cade, órgão do governo responsável por zelar pela concorrência no País, em liberar a fusão por completo. Até o momento, o Cade autorizou apenas a reestruturação financeira da Sadia e a união dos grupos para a exploração do mercado externo. “Os conselheiros do Cade nunca analisam o caso no prazo que as companhias esperam, e elas sabem disso”, diz Alexandre Chaia, professor de finanças do Insper. “Se a BRFoods planejou operar com prazos agressivos para a implementação de sinergias, provavelmente terá que rever tudo.” A preocupação de Secches faz sentido. A integração de custos é decisiva para o resultado final das duas empresas. Despesas em excesso comprimem as margens e isso aparece imediatamente no balanço. Um documento que traz dados financeiros da Perdigão, e apresentado no início de dezembro ao mercado, mostra que os gastos com insumos e mão de obra subiram 24% de 2007 a 2009. Enquanto isso, o preço final de seus produtos subiu só 6%. A análise dos indicadores demonstra que a Perdigão não repassou toda a pressão de custos para a cadeia. Por essa razão, precisa ganhar eficiência – e rapidamente.

 

A operação internacional integrada também se revelou um desafio para a Brasil Foods. Em setembro, o Cade deu sinal verde para que Sadia e Perdigão atuassem juntas nessa área. O problema é que esse braço do negócio não pode se misturar com a atuação interna das empresas. Fretes, seguro e armazenagem para exportação devem ser independentes do restante do grupo. Ou seja, as duas empresas precisam discutir estratégia de marcas, posicionamento e produção para o mercado estrangeiro, mas essa proximidade não pode levá-las a operar em conjunto também no mercado interno. Nesse cenário, a empresa solicitou mudanças em um acordo feito com o Cade. Um documento assinado pelas duas fabricantes as impede de demitir empregados, rever investimentos em marketing e alterar embalagens, por exemplo. Há cerca de 15 dias, o Cade recebeu um pedido de alteração desse acordo. Segundo informou a Perdigão, foram solicitadas duas “flexibilizações” no documento, embora a empresa não revele quais sejam elas.


 
Fontes próximas à empresa afirmam que o comando da BRFoods tem trabalhado com expectativa de aprovação da fusão até o final do primeiro trimestre de 2010. Após o anúncio do casamento, em maio, executivos da nova empresa afirmaram que esperavam para dezembro de 2009 a conclusão do processo. Depois do sinal verde do Cade, ainda seriam necessários 18 meses para que as operações das fabricantes se integrassem totalmente. “Eles ainda não têm um número único dos ganhos de sinergia com a união porque não podem sentar na mesa e abrir todos os dados”, explica a fonte. Bancos estimam ganhos que podem chegar a R$ 5 bilhões com a união dos ativos. Isso explica por que as duas empresas têm pressa.

 


Veículo: Revista Isto É Dinheiro


Veja também

Avicultura nacional tem perspectiva otimista

O cenário da avicultura brasileira em 2010 vai depender do comportamento do mercado externo, para onde são...

Veja mais
Boi: oferta restrita sustenta preços

Feriados de fim de ano dificultaram compras de animais e cotação da arroba encerrou o ano em alta   ...

Veja mais
Preço de carnes em recuperação

Os preços das carnes bovina, suína e de frango in natura exportadas pelo Brasil registraram recupera&ccedi...

Veja mais
Minerva compra unidade em Minas

O frigorífico Minerva informou ontem a assinatura de promessa de compra e venda de uma unidade de abate de bovino...

Veja mais
Venda de carne pode voltar em 2010 ao nível pré-crise

Projeção se refere à quantidade exportada; câmbio ainda vai afetar receita   Apesar da...

Veja mais
JBS anuncia a volta da Pilgrim's à Bolsa e expansão continua

A JBS-Friboi deu ontem novos passos para consolidar sua expansão, que deve continuar em 2010. A companhia informo...

Veja mais
Setor avícola manteve ritmo de produção em 2009

Produção de frangos atingiu 10,9 milhões de toneladas no ano,[br]índice equivalente ao de 20...

Veja mais
Suínos seguem isentos de ICMS no Paraná

O governador Roberto Requião prorrogou a isenção do Imposto sobre Circulação de Merca...

Veja mais
Produção de frango fica estável

 O Brasil deve produzir 10,962 milhões de toneladas de frango em 2009, estima a União Brasileira de A...

Veja mais