O frango brasileiro e o mercado islâmico

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A exemplo de outros importantes setores da economia nacional, a avicultura brasileira de exportação foi duramente atingida pela crise financeira internacional em 2009. Houve uma retração de importantes mercados, e a falta de espaço para a negociação de preços levou a uma queda de 16% na receita cambial, que desde 2000 crescia em média 28% ao ano. Chegou, ao final de 2009, a US$ 5,8 bilhões, ou US$ 1 bilhão a menos do que em 2008.

 

No caso dos volumes, que cresciam até 15% nessa década, houve uma queda de 0,3%. E isso só foi possível graças ao crescimento nos embarques para o Oriente Médio e a África, que têm algo muito importante em comum: a religião muçulmana.

 

Esse mercado exige que a carne de frango exportada atenda aos preceitos islâmicos de produção Halal, exigência cumprida pelo Brasil desde meados da década de 70, quando a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef) foi criada, em 1976, e os primeiros embarques foram feitos para o Oriente Médio.

 

Hoje, 29 dos 33 frigoríficos associados à Abef fazem o abate Halal. É uma prática que precisa ser avalizada por certificadoras islâmicas, que possuem áreas de treinamento, nos principais centros produtores brasileiros, destinadas à formação de mão de obra como técnicos, abatedores e supervisores religiosos. Os equipamentos, os vestuários e as facas amoladas são fornecidos pelas certificadoras.

 

As exigências religiosas incluem a constatação de que o animal esteja vivo antes do abate, que seja realizada uma oração de intenção na hora da degola e, também, a sangria total antes de o frango seguir para a escalda em água fervente. E a linha de produção do frango Halal também precisa ser voltada para Meca.

 

Todo o trabalho é constantemente avaliado por visitas de comissões sanitárias, religiosas e diplomáticas de vários países muçulmanos. No caso do Irã, por exemplo, para cada lote de frango a ser abatido uma comissão está presente para acompanhar o processo.

 

Noventa por cento das exportações brasileiras para países islâmicos são de frango inteiro, ou griller. Mas os frigoríficos se capacitaram para atender a encomendas do shawarma, um frango inteiro desossado, com pele. A carne, destinada a lanches, é inserida em máquinas giratórias - e as empresas brasileiras já oferecem o produto pronto, inclusive temperado.

 

O crescimento das exportações para países islâmicos comprova, além da qualidade e sanidade do nosso produto, o alto nível do abate Halal no Brasil. Em 2009 foram 1,636 milhão de toneladas, tendo como destino 60 países e correspondendo a 45% de todas as exportações brasileiras desse produto.

 

E as perspectivas para esse exigente mercado são excelentes. Estimativas indicam que a população mundial muçulmana esteja hoje entre 1,6 bilhão e 1,9 bilhão de habitantes, e a taxa de natalidade é superior à de outras religiões. O consumo per capita de carne de frango é elevado: chega a 72 quilos por pessoa/ano no Kuwait e a 61 quilos nos Emirados Árabes Unidos, por exemplo, enquanto no Brasil é pouco superior a 40 quilos/ano.

 

Além disso, o mercado consumidor islâmico está se expandindo em países de religião não islâmica. De acordo com o Pew Research Center, dos Estados Unidos, já vivem 38 milhões de muçulmanos na Europa e 4 milhões no continente americano. Até mesmo no Japão existem encomendas de alimentos com certificado Halal.

 

Há desafios a superar para que o mercado islâmico cresça ainda mais. No caso da Índia, que tem 1,1 bilhão de habitantes, por exemplo, o acordo entre os dois países já foi concretizado desde o final de 2007, mas as elevadas tarifas de importação inviabilizam os embarques de nosso produto. E, com a Indonésia, cuja população soma 240 milhões, as negociações para um acordo sanitário ainda estão em andamento. Obstáculos que, tenho certeza, serão superados numa ação conjunta de governo e setor privado.

 

Veículo: O Estado de São Paulo


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