Em hotéis, bares, restaurantes e residências dos países do Oriente Médio, a carne brasileira está ficando cada vez mais popular. De olho em um dos mais dinâmicos mercados do mundo, cuja renda da população vem sendo impulsionada pela disparada do preço do petróleo, frigoríficos nacionais intensificam o contato com as economias da região para aumentar sua participação, enquanto grandes exportadores de frango já têm no Oriente Médio um de seus pólos mais dinâmicos de crescimento.
"Hoje o Oriente Médio é um pólo dinâmico das exportações brasileiras", afirma o presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef), Francisco Turra. Apenas nos oito primeiros meses do ano, os embarques para a região somaram US$ 1,4 bilhão, acima do US$ 1,3 bilhão registrado em todo o ano de 2007. A demanda em alta tem propiciado reajustes de preços dos volumes embarcados. "Mas temos conseguido um equilíbrio com a alta dos custos", diz Turra.
"A indústria vem atendendo a todos os requisitos para aumentar sua presença na região, como adaptação aos rituais islâmicos", diz Turra. A presença direta de empresas brasileiras poderá crescer no Oriente Médio, seja pelo acerto de parcerias locais seja em investimentos em unidades de processamento, segundo Turra. Com um consumo per capita de 7,5 quilos de frango por pessoa - o triplo do consumo brasileiro -, a região desponta pelo seu potencial futuro.
Frigoríficos que têm planos de exportar carne bovina para o Oriente Médio começam a se movimentar para aproveitar o bom momento. Representantes da empresa estatal líbia ENMA, importadora de alimentos do país, estiveram recentemente no Brasil para conhecer potenciais fornecedores de produtos. O encontro, organizado pela embaixada da Líbia em Brasília, contou com a presença da Cooperfrigu e da JBS Friboi.
De acordo com dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), de janeiro a agosto, os embarques de carne bovina desossada congelada alcançaram US$ 76 milhões, alta de 150% em relação ao mesmo período de 2007, sendo o segundo item mais exportado da pauta entre Brasil e Líbia, perdendo apenas para o minério de ferro. Já na Arábia Saudita os embarques de carne bovina desossada congelada subiram 70% em comparação com o péríodo de janeiro a agosto de 2007, alcançando US$ 75 milhões.
Quem já atua na região também está empenhado em ampliar as operações para aproveitar a ebulição do mercado. Na Perdigão, as exportações de carnes têm crescido com dinamismo. No primeiro semestre de 2007, o Oriente Médio representou 23,1 % da receita líquida relacionada aos embarques totais da empresa, enquanto a Europa respondia por 30,6%. Um ano depois, o Oriente Médio aumentou sua participação para 26,5%, tornando-se o principal mercado externo da empresa de alimentos, enquanto a Europa passou a responder por 24,2% da receita líquida de exportações totais.
O bom desempenho das vendas de carne, principalmente de frango, para a região é um dos fatores que contribuíram para a alta nos resultados do segundo trimestre da Perdigão. Em 2007, os embarques de carne de frango e suína apresentaram elevação de 45,4% em volume e 64% em receitas totais, atingindo R$ 1,3 bilhão. Já nos seis primeiros meses deste ano, as exportações de carnes da empresa somaram R$ 2,4 bilhões, aumento de 55,5% em relação ao primeiro semestre de 2007.
Para atender o mercado do Oriente Médio, a Perdigão teve de fazer adaptações em seus processos. Em suas unidades, é comum o processo de abate conhecido como "Halal", um tipo de trabalho que atende práticas religiosas muçulmanas, encontradas no livro sagrado do Alcorão.
A Sadia vai iniciar no fim deste ano a construção de uma fábrica com capacidade de produção de 53 mil toneladas em Al Ain, no Emirado de Abu Dhabi. Com investimentos projetados de cerca de US$ 100 milhões e conclusão das obras prevista para fim de 2009, a unidade, que irá produzir industrializados de aves e bovinos, integra o processo de internacionalização da empresa.
O Oriente Médio é hoje o destino do maior volume de exportações da Sadia. Cerca de um quarto dos embarques da empresa seguem para a região. Com a nova unidade, a região terá uma participação ainda maior na receita da empresa. Quando estiver em pleno funcionamento, o faturamento previsto da fábrica deverá alcançar US$ 250 milhões.
Mantida a tendência de aumento da riqueza e desenvolvimento daquela área do globo, a expectativa é de que as vendas continuem crescendo. "Vale ressaltar que nossas exportações para a região tiveram início na década de 1970 e incluíam apenas frango congelado. Hoje vendemos carne in natura de aves e industrializados", afirma Gilberto Xandó, diretor vice-presidente de mercado externo da Sadia. Segundo Xandó, a empresa é líder em industrializados de carne, frango inteiro e partes de frango, nos mercados da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Qatar, Omã e Barein, com mais de 25% de participação no mercado.
Veículo: Valor Econômico