Marfrig e Minerva querem voltar a vender para os EUA

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Frigoríficos argumentam que não podem ser punidos, porque governo americano só detectou problemas em produtos do JBS

 

Minerva e Marfrig solicitaram ontem ao governo brasileiro permissão para voltar a exportar carne bovina industrializada para os Estados Unidos. Os frigoríficos dizem que não foi detectada nenhuma infração em seus produtos e que não deviam ser punidos por problemas do concorrente JBS.

 

Os embarques foram paralisados pelo Brasil no fim de maio, depois que os Estados Unidos pediram um recall de produtos do JBS. As autoridades sanitárias americanas detectaram a presença acima do permitido do vermífugo Ivermectina. Os americanos não compram carne bovina in natura do Brasil.

 

Segundo o Estado apurou, há suspeitas de que o JBS teria aumentado o porcentual de gordura animal nas embalagens de carne bovina industrializada, o que elevou a concentração de Ivermectina acima do permitido. O JBS nega e diz que os produtos são padronizados pelo governo americano.

 

Uma missão do governo brasileiro esteve em Washington no início da semana para discutir a suspensão dos embarques com técnicos americanos. Havia o temor de que fosse uma atitude protecionista dos EUA, que alteraram a metodologia de detecção do remédio.

 

As relações entre Brasil e Estados Unidos atravessam um momento delicado, por causa da disputa do algodão e das divergências sobre a questão do Irã. O receio de protecionismo, no entanto, foi desfeito na reunião. Fontes do setor privado avaliam que o mais provável é que tenha ocorrido algum problema na cadeia produtiva brasileira.

 

Individual. "No início, concordamos com uma suspensão total porque não sabíamos a origem do problema. Mas, agora, fizemos várias checagens e detectamos que o problema é individual", disse Octávio Cançado, diretor da Associação Brasileira de Exportadores de Carne Bovina (Abiec), que representa Marfrig e Minerva. O JBS não faz parte.

 

Para o diretor de estratégia empresarial da JBS, Antonio Camardelli, o problema é sistêmico. "Foi detectado nas nossas amostras porque temos 70% do mercado. Se o Brasil não tivesse interrompido os embarques, também teria sido encontrado nos produtos dos outros."

 

Ele argumenta que o mesmo pecuarista vende seu boi para vários frigoríficos. "A única diferença é o preço. Os pecuaristas vendem para quem paga melhor na região, que normalmente tem plantas de vários concorrentes."

 

Após utilizar a Ivermectina, o pecuarista deve respeitar um "prazo de carência" para mandar o animal para o abate, que varia de 45 a até 100 dias,dependendo do fabricante do vermífugo. Se a carne for processada antes desse prazo, a Ivermectina ainda não desapareceu, o que é proibido por lei.

 

O diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), do Ministério da Agricultura, Nelmon Oliveira da Costa, disse que a avaliação dos governos brasileiro e americano é de que "não se trata de um problema isolado".

 

Segundo ele, o governo brasileiro apresentou aos americanos um "plano de ação" de melhorias em todos os aspectos da cadeia produtiva. Oliveira ressalta, no entanto, que vai enviar a documentação que for entregue pelos frigoríficos ao governo americano. "Quem for mais ágil na apresentação de garantias tem mais chance de ser liberado para exportar antes", diz.

 

Contrabando. O governo brasileiro também solicitou aos fabricantes de Ivermectina uma nova análise dos seus produtos e indicações claras nos rótulos do prazo de abate do animal. Fontes dos frigoríficos afirmam que existem problemas de contrabando e remédios fora do prazo de validade. "Os laboratórios apresentaram todos os dados solicitados pelo governo. Mas são produtos aprovados pelo ministério", disse o presidente do Sindicato Nacional das Indústrias de Produtos para a Saúde Animal (Sindam), Emilio Salani.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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