Embarque brasileiro de gado em pé deve subir mais de 20%

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A exportação brasileira de gado em pé (gado para engorda) pode superar a estimativa do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) realizada no início deste ano. O órgão norte-americano apontou que as vendas brasileiras para o mercado internacional apresentam potencial de crescimento entre 17% e 18% até o fim de 2010, enquanto o mercado tem expectativa de um acréscimo acima dos 20%, de acordo com a Scot Consultoria.

 

De janeiro a julho de 2010 foram exportadas cerca de 365 mil cabeças de gado, ante 291 mil em igual período de 2009. "O aumento foi de aproximadamente 25% de um ciclo para o outro. É só observar os dados e, sem dúvida, os embarques ficarão acima do que o USDA estimou para 2010", afirmou Alex Santos Lopes da Silva, analista da Scot Consultoria.

 

Segundo o USDA, o crescimento de gado em pé no mundo, para 2010, será de 2%. Entre os principais criadores, Canadá, México e Austrália, podem ter suas criações elevadas em no máximo 4%, contou Lopes da Silva. "O Brasil está bem colocado no ranking, embora esteja abaixo desses países. O País não toma esses mercados porque as exportações de gado em pé são limitadas pela distância. É necessário ter certos cuidados quando se trata de animais vivos, como o manejo adequado durante as viagens", disse o analista.

 

Segundo ele, pela localização próxima, Canadá e México exportam para os EUA. Os australianos comercializam com a Indonésia. Cerca de 95% da exportação brasileira de gado para engorda é enviada à Venezuela. Líbano e Egito, apesar da pouca quantidade, também fazem parte da rota de comércio do Brasil.

 

Paulo Molinari, especialista da Safras & Mercado, disse que a Venezuela adquire muito bovino vivo em função da falta de estímulo dos criadores. Segundo ele, Caracas não contribui com os pecuaristas e, por isso, o país compra do Brasil. "O Brasil também pode atender a essa demanda e está claro que existem países para comprar", explicou.

 

De acordo com Molinari, em 2009, foram exportadas 519 mil cabeças de boi em pé, sendo que Líbano comprou uma média de 122 mil e Venezuela, 387 mil. Só do Pará saiu um volume de quase 500 mil cabeças.

 

A Scot Consultoria informou que todas as cabeças exportadas, em julho foram para a Venezuela e saíram do Pará. O faturamento dessa comercialização resultou em US$ 77,2 milhões ao Brasil. Ainda segundo a consultoria, até agora, houve 365 mil exportações de gado em pé e, desse montante, 94% são de origem do Pará.

 

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) divulgou que, no último mês, o País embarcou 73,8 mil cabeças de bovinos vivos, crescimento equivalente a 62% se comparado a junho, quando foram exportadas 45,5 mil animais para o mercado externo. Em igual período no último ano, foram embarcados 55 mil gados, o que representa 75% a menos.

 

Em julho, a Scot estimou que o País deve comercializar com o mercado externo, até o fim do ano, 620 mil cabeças de bovino vivo. No primeiro semestre de 2010, foram enviadas ao Líbano, Egito e alguns países africanos, além da Venezuela, 291 mil cabeças, com um faturamento de US$ 270 milhões. O montante exportado, em 2009, especialmente pelo Pará, foi de 519 mil cabeças. "No primeiro semestre de 2009, o faturamento somou US$ 183 milhões, com 236 mil cabeças embarcadas", disse Lopes da Silva.

 

Desvantagens

 

Para Reinaldo Gonçalves, economista, professor doutor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autor do relatório da WSPA "Desvantagens Econômicas da Exportação Brasileira de Gado em Pé", quem se favorece com as vendas do boi em pé é um pequeno grupo de pecuaristas do Pará. "O Brasil perde em exportação e deixa de gerar emprego. Poderia negociar carne congelada com a Venezuela, que atravessa problemas políticos, com valor agregado, mas não o faz. Além disso, os animais sofrem com a distância das viagens", disse. E completou: "É uma 'reprimarização' para o Brasil". O economista comentou que, com a exportação de gado em pé do Estado do Pará, as exportações neste ano ficarão em torno de US$ 500 milhões em 2010, e a indústria do estado é quem deixará de lucrar.

 


Veículo: DCI


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