A crise financeira mundial deve afetar a disponibilidade de crédito para o produtor rural brasileiro. A tendência, segundo o gerente executivo da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), André Locatelli, é de que os agricultores e pecuaristas tenham dificuldade em obter financiamentos. O problema, segundo ele, também se estende ao setor industrial, como os pequenos frigoríficos, que já estão sentindo o aperto de crédito.

 

A crise também vai elevar os custos de produção. "Os insumos devem ficar mais caros, já que são indexados em dólar", diz o gerente da ACNB. De acordo com Locatelli, a elevação do preço das matérias-primas pode reduzir os investimentos em genética. Esse cenário também deve diminuir a rentabilidade dos agricultores. "Com uma produção menor, a demanda também cai", afirma o economista André Diz, da Sociedade Rural Brasileira. Ele aconselha o produtor a ter os custos na mão. "Uma alternativa é se unir para comprar insumos, como fazem as cooperativas."

 

André Diz acredita em uma desvalorização das commodities. "Com a crise, os investidores saíram das commodities em busca de papéis mais confiáveis."

 

As indústrias processadoras de carne de menor porte já passam por um momento de aperto e a crise financeira mundial pode agravar essa situação. Segundo Locatelli, com o dólar alto, as exportações se tornam mais interessantes. "Isso pode incentivar as empresas a priorizar o mercado externo e diminuir a oferta no mercado nacional."

 

Locatelli também diz que os investimentos que não forem feitos no momento correm o risco de não serem mais efetuados. Os meses de setembro e outubro são os períodos de adesão de genética. Ele aconselha ao pecuarista dimensionar as aplicações para não suprimir os investimentos em nutrição e genética, o que pode agravar a situação e serem irreversíveis. "A economia em recursos influencia na quantidade de bezerros no futuro", diz Locatelli.

 

Mas os efeitos da crise podem demorar a aparecer. "A pecuária vive um momento de correção, com valores atrativos, e pode levar um tempo para sentirmos os impactos desta crise." Locatelli lembra, no entanto, que se o cenário atual permanecer pode haver impacto na produção. "Se melhorar, a produção não terá impacto significativo."

 

Veículo: Gazeta Mercantil